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Moeda única entre Brasil e Argentina pode ser solução para crise, diz Macri

Ex-presidente argentino diz que a utilização de uma mesma divisa nas transações comerciais pode ser vantajosa para os dois países

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São Paulo

Para o ex-presidente da Argentina Mauricio Macri, a dolarização não é a solução para a crise econômica, dado que o país é exportador de commodities, mas uma moeda única para o comércio entre Brasil e Argentina poderia beneficiar as duas nações.

Uma moeda única comercial é a divisa que dois ou mais países escolhem usar como referência monetária em suas negociações comerciais. Ela funciona como uma referência para trocas financeiras, não como uma moeda circulante, como é o caso do real e do peso. A população e os turistas, por sua vez, continuam usando a moeda válida em cada país.

"Temos que avançar para uma unificação monetária com o Brasil. A moeda única fortaleceria mais a Argentina inicialmente, mas os dois em longo prazo", disse o ex-presidente nesta segunda-feira (11) em evento da XP, em São Paulo.

"Entendo as vantagens simbólicas da dolarização, mas Equador voltou a ter déficit fiscal. Se Mercosul é sério, precisamos ter as mesmas regras e a mesma moeda, como a zona do euro. A unificação monetária comercial faz sentido com o ajuste fiscal", afirmou Macri.

Mauricio Macri
Mauricio Macri participa de evento da XP em São Paulo, nesta segunda-feira (11); para o ex-presidente da Argentina, moeda única para comércio Brasil-Argenina pode ser uma saída para crise econômica no país - Divulgação

A Argentina sofre com uma forte desvalorização do peso ante o dólar. No governo de Alberto Fernández, o dólar paralelo, conhecido como dólar blue, ficou 13 vezes mais caro do que quando tomou posse, ao fim de 2019, indo de 75 a 957, considerando as médias mensais.

Mas, antes que as conversas sobre uma moeda única sejam retomadas, Macri diz ser necessário que a Argentina realize o seu ajuste fiscal para retomar a confiança dos investidores. "Tendo seriedade fiscal, pode vir um momento em que o que falamos com Guedes e Bolsonaro faça muito sentido."

Em 2019, o então presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia Paulo Guedes discutiram a criação da moeda única com o ministro da Economia de Mauricio Macri e idealizador do plano, Nicolás Dujovne. Desde a criação do Mercosul, os países do bloco mencionam a possibilidade de criar uma moeda comum, mas nenhuma iniciativa nesse sentido foi concretizada devido às diferenças de políticas cambiais dos membros. Fernández, que deixou o comando da Argentina neste fim de semana, e Lula também discutiram o tema.

Segundo Macri, como Brasil e Argentina têm suas economias voltadas à exportação de produtos agropecuários, a moeda única oscilaria de acordo com os mesmos fatores. "Na moeda americana, os Estados Unidos têm competitividades distintas das que nós temos."

Quanto ao ajuste fiscal argentino, Macri defende o "congelamento de todos os gastos públicos possíveis para gerar equilíbrio".

"Milei não pode gastar mais do que entra e é isso que ele vai fazer nos próximos 90 dias, e há aceitação pública para isso. Ele disse isso ontem, e todos os presentes aplaudiram. O argentino comum percebeu que o conto que o Estado resolve tudo é mentira", disse o político argentino que apoiou a eleição do novo presidente argentino.

Macri disse que continua a apoiar completamente o novo presidente. "Não tiro uma vírgula do discurso dele. Foi perfeito, sobretudo do ponto de vista liberal. As ideias que ele defende são as que eu sempre defendi."

Quanto à relação com o Brasil e com Lula, Macri diz acreditar que Milei não criará dificuldades. "Ele é muito pragmático, aprende rápido."

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem defendido a adoção de uma moeda comum com a Argentina, assim como a liberação de crédito para fomentar exportações brasileiras para o país vizinho.

Em abril do ano passado, Haddad havia publicado junto com o economista Gabriel Galípolo um artigo na Folha em que propunha uma moeda comum não só para Brasil e Argentina como para toda a América do Sul.

Haddad e Galípolo defendem que a criação da moeda poderia ajudar países a protegerem sua soberania de possíveis sanções impostas por potências estrangeiras, sobretudo dos EUA, que estão no "topo da hierarquia mundial", por terem o privilégio de poder emitir a moeda internacional.

"Os EUA e a Europa se valeram do poder de suas moedas para impor severas sanções contra a Rússia, confiscando reservas internacionais e excluindo-a do sistema de pagamentos internacionais (Swift)", escrevem.

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