Cade aprova sem restrições a venda da Amil para fundador da Qualicorp

Negociação é a maior fusão e aquisição já feita entre uma companhia e uma única pessoa física no Brasil

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São Paulo

O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou sem restrições a compra da operadora de planos de saúde Amil pelo empresário José Seripieri Filho, segundo despacho publicado nesta quarta-feira (17) no Diário Oficial da União.

A norte-americana UnitedHealth anunciou no final de dezembro que aprovou um acordo para vender a Amil ao fundador e ex-presidente da Qualicorp por cerca de US$ 7 bilhões (R$ 34,59 bilhões), em uma operação que incluiu dívida da empresa brasileira.

José Seripieri Filho, fundador da Qualicorp, comprou a Amil
José Seripieri Filho, fundador da Qualicorp, comprou a Amil - Reprodução/Youtube/FIB

O presidente-executivo da UnitedHealth, Andrew Witty, anunciou a decisão de vender a Amil, adquirida em 2012 por US$ 5 bilhões, logo após assumir o comando em 2021.

A transação tornou-se o maior negócio de fusão e aquisição já feito entre uma companhia e uma única pessoa física no Brasil. Seripieri financiou R$ 2 bilhões junto aos bancos Santander, Bradesco, BR Partners e BTG Pactual.

Seripieri saiu da Qualicorp em 2019, abriu a QSaúde em 2020 para vender planos individuais, mas havia deixado o setor novamente em meados deste ano.

Ele vendeu a carteira de beneficiários da QSaúde para o plano de saúde Alice neste ano. À época, o empresário manifestou à Folha que não tinha o mesmo desejo de voltar para o ramo.

"A depender da oportunidade, pode até ser, mas hoje me dá mais medo do que vontade de empreender nessa área", afirmou, em entrevista em junho. Ele argumentou ver distorções nos reajustes e falta de interesse por parte das grandes operadoras no mercado de planos individuais.

No dia em que foi anunciada a negociação, Seripieri afirmou que a meta é melhorar a qualidade do plano de saúde, "Vamos mudar pra melhor a saúde suplementar no Brasil", disse ao Painel S.A. "Em qualidade e, principalmente, na acessibilidade [aos planos]."

Ele também agradeceu ao banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, contratado para buscar um comprador para a Amil, e também ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "E um especial agradecimento ao presidente Lula, meu eterno inspirador", afirmou.

Venda de parte da empresa foi barrada em 2022

A venda da Amil era um dos negócios mais aguardados no setor de planos de saúde. A empresa é uma das maiores operadoras do país: tem 5,4 milhões de beneficiários, 383 mil empresas clientes, 19 hospitais, 52 unidades laboratoriais, nove clínicas odontológicas e cerca de 21 mil funcionários.

Sua rede credenciada abrange 1.600 hospitais e 6.200 laboratórios e centros diagnósticos. Controlada pela americana UnitedHealth, a Amil contratou o banco BTG Pactual no fim de 2021 para comprar a sua carteira deficitária de planos de saúde individuais e familiares.

A carteira é deficitária porque o reajuste desses planos não segue a inflação e é regulado pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).

Em 2021, por exemplo, a agência indicou um reajuste negativo de 8,2%, ou seja, os planos individuais tiveram que diminuir os preços. Já em 2022, o aumento foi de 15,50%, muito criticado pelos usuários. No ano passado, a alta ficou em 9,63% e vai vigorar até abril de 2024.

O BTG chegou à Fiord Capital, um fundo de investimento criado em novembro de 2021. O fundo receberia R$ 3 bilhões para assumir a carteira dos então 330 mil usuários dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná.

Pela operação desenhada para a mudança de controle, a APS, do grupo Amil, passaria a ficar responsável pelos planos de saúde individuais e familiares, negócio que foi aprovado pela ANS.

Mas, no início de 2022, a APS passou para o comando da Fiord –movimento barrado pela ANS. A agência regulatória alegou ausência de informações sobre a mudança de controle societário.

Na época, reportagem da Folha apontou casos de clientes aflitos com a iminente mudança de mãos dos planos individuais e familiares da Amil. Segundo relatos, a rede credenciada da companhia havia encolhido nos meses anteriores, sem aviso prévio, o que é contra a lei.

O plano de saúde deve avisar o consumidor com 30 dias de antecedência sobre o descredenciamento de determinado hospital ou laboratório –e precisa apresentar uma alternativa do mesmo nível ao cliente, na mesma região.

Com informações de Stéfanie Rigamonti, Daniele Madureira e da Reuters

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