Fundo global para transição energética em países pobres luta para levantar capital

Plano promete muito, mas tem pouco progresso, diz Fundação Rockefeller após conversas com doadores

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Kenza Bryan
Londres | Financial Times

Apesar de endossado por líderes mundiais, um marco no financiamento para a transição verde em países mais pobres está lutando para levantar capital, segundo relatório da Fundação Rockefeller. A consequência é a manutenção de usinas termoelétricas movidas a carvão, o mais poluente dos combustíveis.

Os Estados Unidos, a União Europeia e o Reino Unido estão entre os doadores que prometeram ajudar a mobilizar grandes quantias para a transição verde sob os auspícios das chamadas Just Energy Transition Partnerships [JETP, Parcerias para a Transição Energética Justa].

As promessas incluíram um pacote de US$ 20 bilhões para a Indonésia pagar pela transição do país, que depende do carvão, para energia renovável, com projetos semelhantes na África do Sul, Vietnã e Senegal.

Turbinas eólicas em Dak Lak, no Vietnã - Nhac Nguyen - 15.mar.2023/AFP

Líderes globais como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apresentaram o modelo na conferência climática de Glasgow em 2021 como um mecanismo para preencher a lacuna de financiamento que dificulta a transição verde nos países em desenvolvimento.

Mas, de acordo com um relatório da fundação com base em conversas com doadores e outras partes interessadas, a frustração aumentou devido ao fato de que os acordos ainda não levantaram o capital prometido.

Isso forçou os países de baixa renda a manterem usinas de carvão e outras plantas em funcionamento.

A Fundação Rockefeller alertou em um relatório divulgado na semana passada que o plano JETP "pode não escalar" em sua forma atual, culpando a falta de apoio dos bancos multilaterais de desenvolvimento e o anúncio prematuro de acordos por líderes políticos antes que o financiamento fosse garantido.

O modelo atual tem sido "promissor, mas com pouco progresso", disse Rajiv Shah, presidente da fundação.

A Rockefeller está ajudando a testar o que considera uma proposta de financiamento aprimorada no estilo JETP de até US$ 165 bilhões até 2050 para acelerar a capacidade de energia renovável e de rede nas Filipinas, liderada pelas próprias instituições do país.

Uma nova abordagem para "apresentar dinheiro na mesa" é necessária, disse Ashvin Dayal, que lidera o trabalho de energia e clima da Rockefeller. "Assim que os números forem distorcidos de maneiras que não correspondam aos anúncios originais, você perde a vontade política."

Um dos problemas tem sido a percepção de que os países mais ricos estavam pressionando pelo fechamento de usinas de energia a carvão na África do Sul e na Indonésia antes que um consenso nesses países sobre planos claros de criação de empregos e riqueza fosse alcançado.

"Tem que ser centrado em uma visão de abundância de energia", disse Dayal.

Joko Widodo, presidente da Indonésia, disse ao FT no final do ano passado que havia "tremenda" preocupação com os fundos não se materializando.

O Banco Asiático de Desenvolvimento, que está fornecendo apoio técnico para o pacote de financiamento indonésio, destacou que "o planejamento, projeto, preparação e construção de grandes infraestruturas energéticas é uma grande empreitada".

Acrescentou que o banco estava comprometido em ajudar os membros a alcançar uma "transição energética justa, acessível e confiável".

Leo Roberts, chefe de transições de combustíveis fósseis do E3G, think tank focado em clima, disse que as somas "negligenciáveis" levantadas mostraram que os líderes mundiais haviam estabelecido expectativas "irrealistas" sobre as JETPs.

"Sem um cheque brilhante, não haveria impulso suficiente para colocá-los em prática em primeiro lugar", disse. "Bilhões de dólares foram prometidos a países para certas coisas e esse dinheiro parece não estar sendo transferido do Norte para o Sul Global".

A Glasgow Financial Alliance for Net Zero, um grupo de instituições financeiras que tentou mobilizar capital do setor privado na Indonésia e no Vietnã, disse que "o trabalho concluído [sobre as JETPs] ajudou a aprofundar a compreensão de todos os interessados sobre o desafio à frente e como acelerar a mudança com mais colaboração, ajustes de política necessários e soluções de financiamento público-privado".

O Departamento de Estado dos EUA disse que repensar um "modelo de desenvolvimento de décadas" e "reformar mercados para catalisar investimentos" levará tempo.

"O teste de sucesso não é se projetos específicos foram iniciados em um curto período de tempo, mas se vemos uma vontade política sustentada e esforço agressivo e contínuo para transformar as reformas planejadas em realidade", afirmou.

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