Hyundai assume linha completa de carros no Brasil, mas Caoa segue com produção em Goiás

Grupo brasileiro cede os direitos de modelos como o Tucson para a montadora sul-coreana e encerra disputa jurídica

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Victor Sena
São Paulo

A montadora sul-coreana Hyundai vai assumir as vendas e a fabricação de todos os seus modelos no Brasil, além das importações. Até agora, metade do portfólio de carros ficava sob a tutela da brasileira Caoa, que fabricava e vendia o SUV Tucson, por exemplo.

As empresas entraram em disputa judicial pelo direito sobre os carros nos últimos anos, mas chegaram a um acordo, já aprovado pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). O novo formato da parceria foi divulgado nesta quinta-feira (29).

A partir de agora, a Hyundai vai gerenciar todo o seu portfólio, mas em contrapartida continuará a encomendar a fabricação da Caoa. A ideia é trazer novas opções de carros para o mercado brasileiro e aproveitar a capacidade da fábrica de Anápolis (GO). Até 2029, a Caoa pretende investir R$ 3 bilhões na expansão da unidade.

Centro de pesquisa e eficiência energética da Hyundai em Anápolis (GO)
Centro de pesquisa e eficiência energética da Hyundai em Anápolis (GO) - Divulgação/Hyundai

Além da garantia das encomendas, a empresa brasileira terá participação nos lucros das vendas.

Com os carros sob responsabilidade da própria Hyundai, o consumidor deve notar as mudanças principalmente nas concessionárias.

Agora, o grupo Caoa poderá vender todo o portfólio, incluindo o HB20 e o Creta, que antes só eram encontrados nas revendas autorizadas da HMB (Hyundai Motors Brasil). A rede de concessionárias ficará unificada, alcançando 250 lojas.

"A partir de 2012, com a chegada direta da Hyundai, tivemos um grande problema. A marca ficou partida em duas", diz Airton Cousseau, CEO da Hyundai para as Américas Central e do Sul.

Segundo o executivo, os ganhos com o acordo devem fazer a Hyundai subir de posição no ranking de vendas no Brasil. O motivo é a alta nas entregas de carros a partir das encomendas à Caoa, já que a fábrica própria de Piracicaba (interior de São Paulo) está no limite de produção de 200 mil veículos por ano.

Hoje, a montadora sul-coreana ocupa o quinto lugar em vendas no país. Ganhos na exportação para a América Latina também devem ser percebidos

Com a presença unificada no Brasil, o presidente da Hyundai afirma que o aumento do portfólio está sendo considerado com modelos de todos os segmentos, já que a fábrica de Anápolis é flexível. No entanto, Airton afirma que é preciso escolher o modelo "certo".

A nacionalização de automóveis híbridos e elétricos deve ganhar destaque no novo cenário, já que ocorre a retomada gradativa do Imposto de Importação.

O CEO da Hyundai afirma ainda que não é possível garantir redução de preços, mas que o novo acordo deixará a empresa mais competitiva no mercado.

A marca sul-coreana chegou ao Brasil no início dos anos 1990, logo após a reabertura do mercado às importações. Em 1999, Carlos Alberto de Oliveira Andrade (1943-2021), conhecido como "Dr. Carlos" e criador do grupo Caoa, assumiu a operação da montadora no Brasil.

O empresário também foi responsável pela primeira fase de importações e venda da Renault e, hoje, tem 50,7% de participação nas operações da chinesa Chery no Brasil.

Para o herdeiro e presidente da empresa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho, os ganhos para a companhia devem ser principalmente na redução do custo de produção por unidade fabricada, graças a um esperado aumento das encomendas pela Hyundai –e consequente melhora no poder de barganha junto a fornecedores.

Nas concessionárias, também deve haver ganho de sinergia com redução do custo da operação por unidade vendida. Segundo Carlos Alberto de Oliveira Andrade Filho, a economia em todas as frentes deve chegar a R$ 1 bilhão.

A ideia da brasileira Caoa também é lançar modelos próprios nos próximos anos, mas os planos ainda são embrionários, de acordo com o presidente. "Acredito que o mercado brasileiro tem espaço para novas marcas e modelos, mas para o lançamento de uma marca nossa precisamos pensar numa calibragem específica para o país."

De acordo com Andrade Filho, o custo será decisivo na escolha de um modelo próprio. Nesta semana, o empresário também afirmou que a empresa considera fazer uma oferta inicial de ações no mercado (IPO, na sigla em inglês).

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