Descrição de chapéu PIB

Lula diz que Vale não é dona do Brasil e que empresas devem seguir pensamento do governo

Presidente ainda afirmou que economia brasileira cresceu em torno de 3% no ano passado

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Brasília e São Paulo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou na terça-feira (27) duramente a Vale por seu histórico de desastres ambientais e também pelo abandono de projetos estratégicos, acrescentando que a empresa não é dona do Brasil.

O mandatário na sequência ainda afirmou que as empresas brasileiras precisam seguir o pensamento do governo brasileiro —sem deixar claro se referia-se apenas àquelas que a União tem participação ou todas as empresas do país.

"A Vale não pode pensar que ela é dona do Brasil, não pode pensar que ela pode mais do que o Brasil. Então o que nós queremos é o seguinte: empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro. É isso que nós queremos", afirmou.

O presidente Lula durante evento em Brasília - Gabriela Biló - 30 jan. 2024/Folhapress

Lula concedeu uma entrevista para o programa "É Notícia", da RedeTV, que foi ao ar na noite desta terça-feira (27). O presidente foi então questionado sobre a sucessão da Vale, na qual afirma-se nos bastidores que o governo trabalhava para a indicação do ex-ministro Guido Mantega, para aumentar a sua influência sobre a empresa.

O petista afirmou que não responderia sobre a escolha da diretoria da empresa, mas por outro lado iniciou uma série de críticas à Vale.

"A Vale está tendo um problema no estado do Pará, está tendo um problema no estado de Minas Gerais. A Vale não pagou as desgraças que eles causaram em Brumadinho, não construiu as casas que prometeram. Criaram uma fundação para cuidar e agora a Vale agora fica fazendo a propaganda como se fosse a empresa que mais cuida desse país", afirmou o mandatário.

"O que nós queremos é mais responsabilidade. Inclusive, a quantidade de minas que está nas mãos da Vale que elas não exploram em mais de 30 anos e fica funcionando como se fosse dona [do Brasil], vendendo [ativos]. A Vale está ultimamente vendendo mais ativo do que produzindo minérios de ferro. E está perdendo o jogo para muitas empresas australianas. O que nós queremos é ter uma nova política mineral", completou o presidente.

Lula então citou algumas acusações de desastre ambiental envolvendo a empresa. Além disso, criticou a empresa por desistir de alguns projetos, como de sua atuação em Moçambique, uma atuação que o governo teria se esforçado para conseguir abrir as portas.

O presidente também acrescentou que a empresa não pode ter o "monopólio" sobre a atividade mineral no Brasil. "O dado concreto é que o potencial do Brasil tem que ser explorado e a Vale não pode ter o monopólio. A Vale tem que ser mais uma empresa. Ela é a maior e que trabalhe mais", afirmou.

Lula também afirmou esperar que a economia brasileira cresceu em torno de 3% no ano passado, repetindo uma estimativa já divulgada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O PIB (Produto Interno Bruto) vai ser divulgado na próxima sexta-feira (1º).

"Nós vamos crescer mais do que qualquer previsão. Vamos chegar 3% ou um pouco mais de crescimento esse ano. E por que que nós vamos crescer? Porque as coisas estão acontecendo. Você pode pegar qualquer área do governo, qualquer área, escolha uma área. Em todas as áreas, a gente está investindo o dobro do que foi investido no governo do outro cidadão. O dobro", afirmou o presidente.

Lula também afirmou que será lançado nos próximos dias um programa de crédito consignado para a classe trabalhadora. Atualmente, esse tipo de benefício é destinado apenas para pensionistas e servidores públicos.

"Nós vamos anunciar mais coisas importantes ainda, está tudo pronto. Nós vamos anunciar crédito consignado para o conjunto da classe trabalhadora brasileira, porque, hoje, o crédito consignado é só para aposentados e funcionários públicos. E são mais de 40 milhões de pessoas que vão ter acesso consignado", completou.

Mercado monitora sucessão de comando da Vale

Nesta quarta-feira (28), as ações da Vale operaram em queda de mais de 1%, impactadas principalmente pelo recuo do minério de ferro no exterior. As incertezas sobre interferências políticas na companhia, no entanto, também pesaram nos papéis, e o mercado segue monitorando o futuro do comando da mineradora.

Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável da Veedha Investimentos, diz que a insistência do governo em tentar emplacar um nome no comando da Vale causa risco político, o que faz com que os papéis da empresa reajam negativamente.

"O mercado não gosta de incerteza, isso afugenta os investidores. O compromisso de uma empresa privada é com seus acionistas, em estar produzindo, gerando. Se a Vale é o que é hoje, foi graças a essa gestão independente que tem feito a empresa crescer.", diz Moliterno. "As falas são muito ruins, e essa insistência em colocar alguém [no comando] é pior ainda."

No mês passado, Lula tentou emplacar o ex-ministro Guido Mantega no comando da Vale, tendo em vista a proximidade do fim do mandato do atual presidente da mineradora, Eduardo Bartolomeo. O objetivo seria aumentar sua influência na gestão da companhia.

O governo, no entanto, desistiu da indicação, após negociações com o conselho de administração da mineradora. A notícia aliviou investidores, que temiam pela ingerência política na companhia, mas o futuro do comando da Vale segue incerto —e preocupa o mercado.

Para Paulo Luives especialista da Valor Investimentos, o mercado está em compasso de espera sobre uma decisão da mineradora.

"Há certo ruído porque não existe consenso entre os sócios majoritários da companhia, mas uma parte do risco, com a ventilação do nome de Guido Mantega, parece já ter ficado para trás. Mas essa definição ainda está em aberto, os blocos ainda não chegaram a um consenso, e havia uma expectativa de que a Vale anunciasse uma decisão na semana passada, mas isso não ocorreu. Essa incerteza tem pesado sobre os preços das ações", diz Luives.

Internamente, circulam entre possíveis candidatos os nomes do ex-presidente da mineradora Murilo Ferreira, do ex-presidente da Cosan Luiz Henrique Guimarães, e do vice-presidente financeiro da companhia, Gustavo Pimenta. O governo não tem interesse na renovação do mandato de Bartolomeo, que vence em maio.

No início do mês, o conselho de administração da Vale adiou a decisão sobre a troca da companhia, pedindo mais tempo para analisar o relatório de recomendações sobre a sucessão.

"O risco político ainda está inerente a todo esse processo da Vale. Não houve votação, ainda não há nomes especulados, então, em uma 'canetada', vamos dizer assim, alguém pode tomar uma decisão ou fazer uma manobra que o investidor não vai gostar, e com certeza as ações da companhia vão ser penalizadas", afirma Gustavo Biserra, analista da Nova Futura Investimentos.

Biserra lembra que, durante a ofensiva do governo pelo nome de Mantega, as ações da Vale sofreram grande volatilidade. A desistência do movimento, inclusive, fez os papéis registrarem alta e foi um alívio para investidores.

"Enquanto isso não se definir, não houver um conselho, não entrar em votação, as ações da Vale, por ora, não tendem a fazer um movimento de alta expressivo", diz o analista.

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