Descrição de chapéu Financial Times

Navios que desviam do mar Vermelho emitem mais poluentes para acelerar

Operadores abandonam 'navegação lenta' para compensar jornada mais longa ao redor do Cabo da Boa Esperança

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Robert Wright
Londres | Financial Times

As emissões de navios porta-contêineres, transportadores de automóveis e navios graneleiros que desviam do mar Vermelho devem aumentar em até 70% à medida que os operadores das embarcações aumentam a velocidade para compensar a rota mais longa ao redor do Cabo da Boa Esperança.

As principais operadoras de navios porta-contêineres, incluindo a AP Møller-Maersk, da Dinamarca, e a Hapag-Lloyd, estão entre as empresas que aumentaram as velocidades dos navios na tentativa de minimizar o tempo de navegação extra para os navios que normalmente usariam o Canal de Suez.

O aumento nas emissões é resultado do desvio de navios devido aos ataques dos houthis do Iêmen a navios comerciais no mar Vermelho e no Golfo de Áden. A maioria das empresas de transporte marítimo tem seguido a rota mais longa desde novembro, o que, em velocidades normais, adiciona entre 10 dias e duas semanas à viagem de um navio porta-contêineres da Ásia para a Europa.

Imagem mostra navio cruzando golfo. Em primeiro plano, duas pessoas estão em uma praia cheia de pedras
Navio cruza o Golfo de Suez - Amr Abdallah Dalsh - 24.abr.17/Reuters

O aumento de velocidade acontece após quase uma década de "navegação lenta" pela maioria das empresas de transporte marítimo na tentativa de economizar combustível e minimizar suas emissões de carbono.

A Maersk, operadora da segunda maior frota de navios porta-contêineres do mundo, disse que "suspendeu" a navegação lenta em alguns serviços para compensar "parte do atraso" da navegação ao redor do Cabo da Boa Esperança.

A Hapag-Lloyd, a quinta maior linha de contêineres, disse que as velocidades, em geral, aumentaram e que estava acelerando navios quando necessário para superar atrasos.

Analistas de transporte marítimo da Sea Intelligence disseram que os clientes das linhas de transporte marítimo estavam "entre a cruz e a espada" por causa da decisão dos operadores de aumentar a velocidade dos navios.

"Se eles querem mover sua carga, terão que aceitar um aumento significativo em suas emissões de carbono", escreveu a empresa em uma nota.

Simon Heaney, gerente sênior de pesquisa de contêineres na Drewry Shipping Consultants, em Londres, disse que navios porta-contêineres nos últimos anos estavam operando a 14 nós, o equivalente a cerca de 26 quilômetros por hora em terra. Ele antecipou que a maioria das linhas de transporte marítimo seguiria uma abordagem "híbrida", aumentando as velocidades apenas para 15 ou 16 nós.

A Sea Intelligence estima que, para um navio porta-contêineres grande e moderno, um aumento de velocidade de 1%, normalmente, produz um aumento de 2,2% no consumo de combustível. Um aumento de 14 para 16 nós aumentaria o consumo por milha em 31%. Juntamente com a distância maior, as emissões de uma viagem de ida e volta aumentariam em pouco mais de 70%.

Lasse Kristoffersen, diretor-executivo da Wallenius Wilhelmsen, operadora da maior frota de navios porta-carros, disse que as embarcações de sua empresa também aceleraram. Os operadores de navios porta-carros —que transportam veículos, principalmente do Japão, Coreia e China para a Europa e os Estados Unidos— estavam lutando para lidar com um grande aumento na demanda mesmo antes dos desvios. Poucos novos navios estão previstos para entrega este ano.

Kristoffersen enfatizou que as velocidades dos navios estavam "longe de" velocidades que poderiam compensar o tempo de trânsito adicional, acrescentando que as regulamentações europeias de negociação de emissões eram um fator limitante para as velocidades. As empresas de navegação que operam em portos da União Europeia foram incluídas no esquema de negociação de emissões —que obriga os emissores a comprar licenças para emissões excessivas— desde o início deste ano.

Os aumentos de velocidade se estendem às empresas que movimentam commodities a granel secas, como carvão, minério de ferro e grãos, cujos navios nos últimos anos navegaram em velocidades médias tão baixas quanto 10 ou 11 nós.

Jan Rindbo, chefe da Norden, uma operadora dinamarquesa de várias centenas de navios graneleiros, disse que, com as taxas de fretamento diárias para navios graneleiros cerca de 50% mais altas do que há um ano, os navios da empresa estavam navegando "um pouco mais rápido" do que antes da recente interrupção.

Hans-Christian Olesen, diretor-executivo da Ultrabulk, da Dinamarca, que opera 155 navios graneleiros, esperava pressão crescente por velocidades mais altas no futuro. No entanto, ele expressou preocupação com o impacto potencial de velocidades mais altas. "Isso vem a um custo ambiental enorme."

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