Descrição de chapéu Financial Times

Empresa oferece US$ 75 mil a funcionário que tiver filho na Coreia do Sul

Em meio a crise demográfica, país testa novas estratégias para incentivar os trabalhadores a formarem famílias

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Christian Davies Song Jung-a Kang Buseong
Seul | Financial Times

O grupo de construção sul-coreano Booyoung está oferecendo aos trabalhadores um bônus de US$ 75 mil por cada filho que tiverem, um dos muitos incentivos oferecidos por políticos e empresas, que lidam com a crise demográfica do país.

"Se a taxa de natalidade da Coreia permanecer baixa, o país enfrentará a extinção", disse o presidente da Booyoung, Lee Joong-keun, aos funcionários no mês passado.

A taxa de fertilidade total da Coreia do Sul — o número médio de filhos que se espera que uma mulher tenha ao longo da vida— caiu de 0,78 em 2022 para 0,72 em 2023, de acordo com dados do governo. Estima-se que caia para 0,68 neste ano, muito abaixo do 2,1 que a OCDE diz ser necessário para garantir uma população estável.

Mulher passeando com bêbê em Seul, na Coreia do Sul - Kim Hong-Ji - 29.jun.2016/Reuters

Líderes políticos aumentaram as promessas de incentivos financeiros para futuros pais antes das eleições parlamentares do próximo mês, com partidos de todo o espectro político anunciando propostas que vão desde subsídios habitacionais mais generosos e isenções fiscais até licença-paternidade obrigatória para os pais e subsídios estendidos para programas de congelamento de óvulos.

"O tempo está se esgotando. Espero que cada agência governamental aborde as questões das baixas taxas de natalidade com determinação extraordinária", disse o presidente Yoon Suk Yeol aos ministros em dezembro.

"Isso é uma questão de sobrevivência do país", disse o líder da oposição Lee Jae-myung ao anunciar o programa de seu partido em janeiro. "É um desafio iminente bem diante de nós, não uma preocupação no futuro distante."

Os efeitos da crise já estão sendo sentidos. Em 2022, o número de militares sul-coreanos ficou abaixo de 500 mil pela primeira vez. Universidades e escolas relataram números decrescentes de estudantes, e jardins de infância foram convertidos em lares de idosos. No ano passado, mais carrinhos de bebê foram vendidos na Coreia do Sul para animais de estimação do que para crianças.

"O que as pessoas estão experimentando na Coreia do Sul agora não é o resultado da taxa de fertilidade de 0,7, mas sim de quando a taxa de fertilidade era de 1,2", disse Choi Seul-gi, pesquisadora do Instituto de Desenvolvimento da Coreia. "Vai piorar muito."

Economistas observam que a Coreia do Sul enfrenta desafios fiscais severos, já que o governo é obrigado a apoiar sua população rapidamente envelhecida. De acordo com o Instituto Coreano de Saúde e Assuntos Sociais, o produto interno bruto do país será 28% menor em 2050 do que era em 2022, à medida que a população em idade ativa encolher quase 35% nos próximos 25 anos.

A proporção de pessoas com 65 anos ou mais deve subir para 25,5% em 2030 e 46,4% em 2070. De acordo com a OCDE, 40,4% dos sul-coreanos com mais de 65 anos já vivem em situação de pobreza relativa, a maior taxa no mundo desenvolvido, enquanto o fundo nacional de pensões do país está previsto para se esgotar em pouco mais de 30 anos.

"A Coreia está enfrentando uma crise sem precedentes", disse Oh Suk-tae, economista da Société Générale em Seul. "O país em breve começará a experimentar crescimento negativo à medida que sua população diminui. Haverá sérios problemas sociais relacionados a seguros de saúde, pensões públicas, educação e mão de obra militar."

De acordo com estatísticas do governo, um casal recém-casado médio na Coreia do Sul tem dívidas combinadas de US$ 124 mil. Os jovens também enfrentam custos crescentes de mensalidades privadas em meio à acirrada competição por vagas limitadas em universidades de elite e grandes empresas, bem como por moradia.

Nesse contexto, algumas empresas da Coreia também estão intensificando seus esforços.

"As empresas estão plenamente conscientes de que precisam desempenhar um papel para resolver o problema das baixas taxas de natalidade, e estão fazendo esforços para melhorar a cultura corporativa a fim de facilitar para os funcionários trabalhar e criar filhos através de um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal", disse Yoo Il-ho, líder da equipe de política de emprego e trabalho na Câmara de Comércio e Indústria da Coreia.

Algumas empresas parecem ter encontrado sucesso com seus incentivos. A gigante do varejo Lotte tem se gabado de uma taxa de fertilidade superior a 2 entre seus funcionários desde que introduziu programas obrigatórios de licença maternidade e paternidade em 2012. As funcionárias da Lotte têm direito a dois anos de licença maternidade, além dos três meses garantidos pelo estado.

Mas especialistas alertam que os incentivos financeiros nem sempre funcionaram. Entre 2006 e 2023, a Coreia do Sul gastou US$ 270 bilhões em políticas que vão desde pagamentos em dinheiro até serviços de babá subsidiados e tratamentos de infertilidade, de acordo com o escritório de orçamento do parlamento sul-coreano.

"Os governos trataram isso como uma questão de custo, mas os sul-coreanos relativamente bem-sucedidos também não estão tendo filhos", disse Lee Sang-lim, chefe do centro de monitoramento demográfico do Instituto de Saúde e Assuntos Sociais da Coreia.

"O problema é a intensa pressão competitiva sob a qual os jovens sul-coreanos, tanto mulheres quanto homens, estão, seja na educação, no mercado de trabalho ou no mercado imobiliário", acrescentou Lee.

"Eles cresceram apenas estudando, observando suas mães lutarem para colocá-los em academias extracurriculares e seus pais lutarem para ganhar dinheiro suficiente. O resultado é que eles sentem menos apego ao conceito de família —eles não querem a mesma vida para si ou para seus filhos."

Muitos especialistas também citaram atitudes sociais enraizadas que tornavam difícil para as mulheres construírem suas carreiras enquanto criavam uma família.

"Se eu tiver um filho, isso só significará mais discussões, porque minha vida será reduzida a cuidar e fazer serviços domésticos", disse Yoon So-yun, uma professora de escola secundária de 41 anos de Seul. "Eu tive que escolher entre minha carreira e ter um filho."

Por mais impressionante que seja o incentivo de US$ 75 mil da Booyoung, não chega nem perto do que Yoon diz que precisaria. "Minha mãe quer que eu tenha um filho, então eu disse brincando que se ela me desse US$ 200 mil, então eu teria um bebê."

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