Descrição de chapéu Financial Times Energia Limpa JBS

JBS, Microsoft e outras 200 empresas falham em propor metas alinhadas ao Acordo de Paris

Frigorífico afirma continuar com objetivos de redução de emissões, e big tech diz que vai continuar a perseguir "metas ambiciosas"

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Kenzya Bryan e Michael Pooler
Londres e Brasília | Financial Times

Centenas de empresas, incluindo Microsoft, Unilever e JBS, foram removidas de um processo de validação de seus planos climáticos após não apresentarem metas suficientemente ambiciosas.

Mais de 1.000 empresas representando US$ 23 trilhões em capitalização de mercado responderam a um chamado antes da cúpula climática da ONU (Organização das Nações Unidas) em 2021, a COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática), em Glasgow, para se comprometerem a estabelecer metas de emissões líquidas zero.

Desde então, a SBTi (Iniciativa de Metas Baseadas na Ciência, na sigla em inglês), órgão de padronização apoiado por uma coalizão de organizações sem fins lucrativos, tem verificado essas metas para determinar se estão alinhadas com o objetivo global de limitar idealmente o aquecimento a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, conforme estabelecido no Acordo de Paris em 2015.

Placa com marca do frigorífico JBS
REUTERS

Mas muitas empresas foram forçadas a revisar seus planos ao chegarem ao final de 2023, marcando o fim de um prazo de dois anos. Isso levou à sua remoção do processo de aprovação pela SBTi.

As empresas argumentam que os governos não criaram estratégias políticas necessárias para alcançar as reduções de emissões, tornando difícil para elas avançar tão rapidamente quanto originalmente pensavam.

"A conversa em muitos lugares é que já ultrapassamos 1,5°C [do limiar de aquecimento], mas, ao mesmo tempo, você é informado de que deve estabelecer uma meta de 1,5°C", disse Nicola Davidson, vice-presidente de desenvolvimento sustentável e comunicações corporativas da siderúrgica ArcelorMittal.

"Achamos que essa meta de 1,5°C era um salto muito grande em termos de ambição, considerando o que vemos globalmente, quando se olha para nossa pegada, para todas as alavancas [políticas] necessárias para acelerar a transição da indústria do aço", disse Davidson.

Enquanto o aumento da temperatura média global de longo prazo de 1,5°C é medido ao longo de mais de uma década, o aumento contínuo das emissões de gases de efeito estufa significa que as chances de permanecer dentro desse nível continuam a se estreitar.

O mundo já aqueceu pelo menos 1,1°C e deve reduzir as emissões em 43% até 2030 para não ultrapassar o nível de 1,5°C, afirmam os cientistas.

Das 1.045 empresas que aderiram à campanha "Business Ambition for 1.5ºC" (ambição empresarial por 1,5ºC, em tradução livre), entre 2019 e 2021, mais de 230 não apresentaram as metas prometidas. Isso levou a que fossem marcadas como "removidas" no site da SBTi esta semana.

O rótulo de "removido", aplicado a cerca de 500 empresas no total do banco de dados, também pode significar que uma empresa apresentou uma meta que foi rejeitada pela SBTi por não ser suficientemente forte, disse uma pessoa familiarizada com o assunto.

A JBS, entre as empresas marcadas como removidas, disse que a SBTi desenvolveu uma nova abordagem para medir as metas climáticas do setor agropecuário desde que a companhia fez seu compromisso inicial.

A mudança não "alterará os objetivos de redução de emissões de carbono da JBS e a ambição de estabelecer metas com base em ciência sólida", acrescentou.

A SBTi decidiu, no ano passado, dar às empresas dois anos para apresentarem metas depois de firmado o compromisso ambiental, com uma prorrogação para algumas até o final de janeiro deste ano.

A Unilever está entre as empresas que não apresentaram meta para atingir emissões líquidas zero para verificação pela SBTi. Recentemente, a companhia lançou um plano de ação climática revisado que se estende por 15 anos, até 2039.

No plano atualizado, a empresa visa uma redução de 42% entre 2021 e 2030 nas emissões de energia e de origem industrial de clientes e fornecedores, conhecidas como emissões de escopo 3.

"Decidimos que queremos nos concentrar no curto prazo para 2030 e garantir que cheguemos lá", disse Rebecca Marmot, diretora de sustentabilidade da Unilever, em um evento do Financial Times Climate Capital em Londres.

"Porque, se não chegarmos a uma redução de 40% até 2030, infelizmente a realidade de atingir emissões zero em 2039 será muito mais difícil para nós."

Em uma pesquisa da SBTi com empresas que não acabaram apresentando meta de emissões líquidas zero, 21% citaram o desafio de lidar com as emissões de escopo 3.

Essas emissões compõem a maioria da pegada de carbono da maioria das empresas e precisariam diminuí-la significativamente em todas as indústrias de alto impacto para limitar o aquecimento global a 1,5°C.

A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA disse na semana passada que não pediria às grandes empresas do país que divulgassem essas informações, citando custos de conformidade.

A Microsoft disse que continuará a perseguir "metas ambiciosas, que não mudaram desde que foram estabelecidas".

Outras empresas reclamaram que o padrão de emissões zero da SBTi era "muito abstrato" ou "muito distante no futuro". Algumas ainda disseram que a regulamentação poderia entrar em conflito com o estabelecimento de metas. Mas a maioria disse que ainda cogita apresentar uma meta de emissões zero no futuro.

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