Serviços caem após três altas, mas analistas ainda veem quadro positivo na economia

Setor recua 0,9% em fevereiro, segundo IBGE, e frustra projeções do mercado financeiro

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Rio de Janeiro

Após três altas consecutivas, o volume do setor de serviços no Brasil teve queda de 0,9% em fevereiro, em relação ao mês anterior, indicam dados divulgados nesta sexta-feira (12) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado frustrou as projeções de analistas do mercado financeiro. Segundo pesquisa da agência Reuters, a expectativa era de avanço de 0,2%.

Apesar da surpresa negativa, analistas ainda enxergam um quadro positivo para a atividade econômica como um todo no início de 2024.

Movimento em bar no Rio de Janeiro; serviços prestados às famílias, que envolvem alimentação e hospedagem, avançaram em fevereiro, segundo IBGE - Sergio Moraes/Reuters

A publicação do resultado de serviços veio um dia após o IBGE informar que o volume de vendas do varejo subiu 1% no país em fevereiro, acima das estimativas negativas do mercado.

Com o segundo avanço consecutivo, o comércio alcançou o nível recorde de uma série histórica iniciada em 2000.

"A atividade econômica tem mostrado resultados mistos. Teve surpresa positiva no varejo e negativa nos serviços. Mas, de maneira geral, a gente avalia que as surpresas têm sido mais positivas", afirmou o economista Gabriel Couto, do Santander Brasil.

Na visão dele, o impulso da renda das famílias parece estar mais voltado agora para a compra de bens no varejo do que para o consumo de serviços.

Recentemente, o Santander elevou sua projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre de 0,6% para 0,7%. Conforme Couto, o acompanhamento de indicadores econômicos sugere que a variação pode ficar na faixa de 0,8%.

Só os serviços prestados às famílias avançam em fevereiro

De acordo com o IBGE, a baixa de serviços em fevereiro foi puxada por atividades mais voltadas a empresas –e não tanto a famílias. Das 5 pesquisadas dentro do setor, 4 recuaram na comparação com janeiro.

A exceção veio justamente dos serviços prestados às famílias, que envolvem empresas como bares, restaurantes e hotéis. A atividade avançou 0,4%, após uma retração de 2,9% no primeiro mês de 2024, indicou o instituto.

"A queda [dos serviços] foi disseminada, e a única alta do mês foi a registrada em serviços prestados às famílias, que pareceu mais uma reversão parcial da forte queda de janeiro", afirmou João Savignon, diretor de pesquisa macroeconômica da gestora Kínitro Capital.

A casa espera avanço de 0,8% para o PIB trimestral. "Nossa visão para os serviços permanece sendo de desaceleração lenta, compatível com uma acomodação do ritmo de crescimento do setor, dada a base de comparação elevada", avaliou Savignon.

O volume de serviços está 11,6% acima do nível pré-pandemia (fevereiro de 2020) e 1,9% abaixo do ponto mais alto da série histórica do IBGE (dezembro de 2022).

Luiz Almeida, analista da pesquisa do instituto, considera que o setor passa por uma compensação após meses em alta.

"É uma descontinuação dos ganhos anteriores", disse o pesquisador, destacando o comportamento da atividade de serviços profissionais, administrativos e complementares.

Esse grupo caiu 1,9% em fevereiro, após uma alta de 1% em janeiro sob influência do pagamento de precatórios, o que gerou reflexos nas atividades jurídicas, segundo o IBGE.

"Como não houve essa receita em fevereiro, acontece esse retorno ao patamar anterior", declarou Almeida.

As outras três atividades de serviços em baixa foram informação e comunicação (-1,5%), transportes (-0,9%) e outros serviços (-1%).

"O número [de serviços] divulgado hoje [sexta] retira o viés de alta da nossa projeção de crescimento de 2,4% para o PIB de 2024, mas não muda nossa visão de que a atividade econômica veio forte neste começo de ano", avaliou Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank.

Em relação a fevereiro de 2023, o setor de serviços teve expansão de 2,5%. No acumulado do primeiro bimestre de 2024, o volume aumentou 3,3%. Em 12 meses, a alta passou de 2,3% até janeiro para 2,2% até fevereiro.

O economista Igor Cadilhac, do PicPay, afirmou que o desempenho mensal abaixo do esperado para serviços não indica uma tendência para o ano.

"Seguimos observando um bom momento da atividade econômica brasileira, que vem se beneficiando de um mercado de trabalho em pleno emprego, de uma massa salarial crescente e da inflação bem comportada. Olhando à frente, esperamos que esse cenário se mantenha ao longo do ano", disse Cadilhac.

Ainda na pesquisa de serviços, o IBGE divulgou nesta sexta que o índice de atividades turísticas recuou 0,8% em fevereiro, na comparação com janeiro. Foi o segundo revés seguido, com perda acumulada de 1,8%.

O segmento encontra-se 2,2% acima do patamar pré-pandemia e 4,3% abaixo do ponto mais alto da série, alcançado em fevereiro de 2014.

O resultado mais recente da produção industrial, outro grande setor analisado pelo IBGE, foi publicado no início deste mês. O indicador teve variação negativa de 0,3% na passagem de janeiro para fevereiro de 2024.

"Com os números de atividade de fevereiro fechados, estimamos que os avanços do varejo e do mercado de trabalho devam prevalecer sobre o recuo nos serviços e na indústria", afirmou Cadilhac.

O desempenho de serviços e a inflação do setor vêm sendo pontos de alerta para o BC (Banco Central). O temor é de que a demanda por serviços pressione os preços, o que poderia frear o ciclo de cortes da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 10,75% ao ano.

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