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Entenda por que a inflação de serviços virou ponto de alerta para o BC

Índice de preços do setor acumula alta acima do IPCA em 12 meses; inflação de março será divulgada nesta quarta (10)

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Rio de Janeiro

A inflação do setor de serviços virou motivo de alerta para o BC (Banco Central) ao mostrar sinais de persistência com o mercado de trabalho ainda aquecido no início deste ano no Brasil, dizem economistas.

Segundo eles, o comportamento desses preços pode tornar mais lento o processo de desinflação como um todo e, consequentemente, frear o ritmo de queda da taxa básica de juros (Selic).

"Os serviços mais pressionados não mudam dramaticamente o cenário. O que eles fazem é que a taxa de juros, que poderia ser eventualmente um pouco menor, não tenha condições para isso", afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.

Moedas e cédulas de real - Gabriel Cabral - 4.out.2023/Folhapress

Em fevereiro, o índice oficial de preços do Brasil, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), registrou alta de 4,50% no acumulado de 12 meses, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No mesmo período, o IPCA de serviços acumulou avanço superior, calculado pelo instituto em 5,25%. O índice de inflação do setor é composto por subitens diversos do IPCA, como alimentação fora de casa, aluguel, passagem aérea, transportes e serviços médicos.

Conforme economistas, ainda há pressões dos chamados serviços subjacentes, que excluem preços mais voláteis e que são acompanhados pelo BC na hora de definir o patamar da taxa de juros.

Os dados do IPCA de março serão divulgados nesta quarta-feira (10) pelo IBGE.

Quando o BC resolve cortar a Selic, como vem fazendo desde agosto, tenta estimular a demanda por bens e serviços, porque o crédito tende a ficar mais barato.

A questão é que o mercado de trabalho segue dando sinais de força, algo positivo para o trabalhador, mas que pode pressionar os preços em razão da demanda aquecida, conforme economistas. O próprio BC já sinalizou essa preocupação.

A incerteza sobre a velocidade do processo de queda da inflação requer mais flexibilidade e, na avaliação de alguns membros do Copom (Comitê de Política Monetária), pode levar a um ritmo de corte de juros mais lento à frente, conforme ata divulgada pela instituição no dia 26 de março.

"A ata registra um fato difícil de contestar: há um mercado de trabalho relativamente apertado e inflação de serviços um pouco mais alta", disse no dia 4 de abril o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo.

A Selic está em 10,75% ao ano. Na mediana, analistas do mercado financeiro projetam taxa de 9% ao final de 2024, segundo a edição mais recente do boletim Focus, divulgada nesta terça-feira (9) pelo BC.

Andrea Damico, economista-chefe da gestora Armor Capital, diz que, no início deste ano, a inflação de serviços foi pressionada, em parte, por reajustes sazonais.

"Tem um componente de uma certa pontualidade, o médico que reajusta o valor da consulta uma vez por ano, o cabeleireiro que reajusta o corte de cabelo uma vez por ano", afirma.

Ela, contudo, diz que a "dúvida" do BC sobre o eventual impacto do mercado de trabalho é "genuína".

De acordo com a economista, a tendência é de uma desaceleração da inflação de serviços no segundo trimestre com a perspectiva de alguma perda de fôlego do mercado de trabalho.

Apesar disso, Damico ainda prevê alta de 4,8% para o IPCA de serviços em 2024. Para o índice geral de preços, a variação projetada deve passar de 3,6% para 3,45% em razão do possível comportamento das tarifas de energia elétrica, segundo a economista.

Em 2024, o centro da meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais. Ou seja, a meta será cumprida se o IPCA ficar no intervalo de 1,5% (piso) a 4,5% (teto) no acumulado deste ano.

Sergio Vale, da MB Associados, prevê alta de 3,8% para o IPCA como um todo em 2024 e de 5% para o índice específico de serviços.

Ou seja, no segundo caso, a perspectiva é de relativa estabilidade da taxa de inflação, se comparada ao patamar atual, aponta o economista.

"É algo preocupante, mas não é dramático. Há um processo de inflação de serviços no momento em que outros segmentos estão indo bem, sob controle", afirma.

"O Banco Central tem um cenário no qual precisa olhar até onde pode chegar com a taxa de juros. O que a inflação de serviços está dizendo para o Banco Central é que dá para cair a Selic, mas não tanto", completa.

Análise recente da gestora Kínitro Capital sobre a inflação de serviços aponta que "grande parte" dos desvios de projeções do início de ano veio de subitens não influenciados pelo ciclo econômico, como os serviços bancários.

"Isso não reduz a importância do dinamismo do mercado de trabalho atual sobre a perspectiva de uma possível desaceleração mais gradual da inflação de serviços", pondera a análise.

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