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'Não sou a mãe de vocês': executiva da Baidu diz não se importar com vida pessoal da equipe

Chefe de relações públicas da empresa afirma que pode arruinar carreiras com vídeos nas redes sociais

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Ryan McMorrow Nian Liu
Pequim (China) | Financial Times

A chefe de relações públicas da Baidu, empresa chinesa de buscas, criou sua própria crise de imagem depois de postar vários vídeos nas redes sociais diminuindo funcionários, no mais recente exemplo das práticas de trabalho às vezes brutais no setor de tecnologia da China.

"Posso te deixar desempregado nesta indústria", disse a vice-presidente da Baidu, Qu Jing, em vídeo. Ela acrescentou que precisava de funcionários dedicados o suficiente para fazer 50 dias seguidos de viagens de negócios ao seu lado e não se importava se isso afetasse suas vidas pessoais. "Não sou sua mãe", disse ela. "Eu só me importo com os resultados."

Qu também disse que era tão dedicada à Baidu que não sabia em que ano escolar estava seu filho.

A executiva postou os vídeos no Douyin, versão chinesa do TikTok, com a intenção que os clipes servissem como exemplos para sua equipe sobre como usar as redes sociais para promover a Baidu. Em vez disso, eles reacenderam críticas à cultura de trabalho nas empresas de tecnologia chinesas.

Qu Jing, vice-presidente da Baidu - Qu Jing no Douyin

"Os funcionários nunca se sentirão em casa em uma empresa que não tem nem um pouco de calor", escreveu um usuário na plataforma Weibo, equivalente ao Facebook, onde comentários de Qu estão em alta. Até esta quinta-feira (9), a discussão havia atraído 150 milhões de visualizações.

"Ela queria criar uma imagem de 'dama de ferro', mas o contexto mudou", disse o colunista de tecnologia independente Wang Qingrui. "Agora as pessoas não concordam com a lógica daqueles no poder.

"Ela não está apenas se representando nos vídeos, mas também a cultura e valores da Baidu", acrescentou. "Isso aprofunda os problemas de imagem da empresa."

Os comentários de Qu também reavivaram preocupações sobre as condições de trabalho. As longas horas frequentemente esperadas dos funcionários de tecnologia são conhecidas como "996" —que significa que eles começam a trabalhar às 9h, saem às 21h e trabalham seis dias por semana.

Embora tenha havido alguma melhora depois que Pequim reprimiu os gigantes de tecnologia do país em 2021, Qu indicou que ainda exigia longas horas de sua equipe. Em vídeo, ela disse que funcionários de relações públicas precisavam estar disponíveis 24 horas por dia e nunca poderiam sair de férias.

Muitos funcionários do setor relataram que a desaceleração recente do setor de tecnologia e cortes de empregos em larga escala reviveram as longas horas em meio a uma intensa competição.

Em outros casos de práticas rigorosas, a PDD Holdings rastreou e processou ex-funcionários que violaram acordos de não concorrência (acordo que impede de ex-funcionários a trabalharem em concorrentes imediatamente após o desligamento da antiga empresa contratante), enquanto a empresa de mídia social Kwai começou a afastar funcionários com mais de 35 anos.

A Baidu tem lutado para se reinventar, já que seu negócio de publicidade de busca estagnou e apostas em negócios não deram retorno. O grupo recentemente se concentrou totalmente em inteligência artificial, buscando ser a resposta da China a OpenAI.

Logo da Baidu no lado de fora do escritório principal da empresa, em Pequim, na China.
Logo da Baidu no lado de fora do escritório principal da empresa, em Pequim, na China. - Jade Gao/AFP

Até esta quinta-feira, Qu havia removido os vídeos de sua conta no Douyin e se desculpado, dizendo que tinha "lido sinceramente as opiniões e críticas das pessoas" e iria "refletir profundamente" sobre elas.

"Sinto muito que meus vídeos tenham causado mal-entendidos externos sobre os valores e a cultura da Baidu", escreveu nas redes sociais.

Em meio à polêmica, outro vídeo se espalhou nas redes sociais chinesas, mostrando Qu reagindo a um artigo negativo do jornal South China Morning Post.

O clipe mostra um boneco de papel pendurado no escritório da Baidu, com quatro facas vermelhas apontadas para "SCMP" escrito em seu peito. Qu é vista chicoteando o boneco com uma corda.

A Baidu não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

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