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Executiva da Cargill tenta montar quebra-cabeça para chegar ao alimento do futuro

Sandra Biben é a primeira mulher a comandar setor de pesquisa e desenvolvimento da empresa na América do Sul

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Campinas

Uma das lembranças de infância de Sandra Biben, 50, era ir com os pais fazer compras no Ceagesp, em São Paulo. A imagem dos alimentos jogados no lixo nunca a deixou.

"Precisava fazer algo."

A sua preocupação atual é garantir que nada seja desperdiçado. Ela é a atual diretora de Pesquisa e Desenvolvimento da Cargill. A única mulher a ocupar este cargo na empresa na América do Sul.

Sandra Biben no centro de desenvolvimento e pesquisa da Cargill, em Campinas
Sandra Biben no centro de desenvolvimento e pesquisa da Cargill, em Campinas - Zanone Fraissat/Folhapress

Seu local de trabalho é uma área de cerca de 10 mil metros quadrados (o equivalente a um quarteirão de uma cidade) em Campinas, interior de São Paulo. Está ali o centro de inovações da multinacional, vizinho ao Sirius, o acelerador de partículas, em região apelidada de Vale do Silício brasileiro.

É dali que Biben quer ajudar a definir qual será o futuro dos alimentos.

"Trata-se de um quebra-cabeça", define, enquanto percorre laboratórios para cada tipo de pesquisa feita pela empresa, um ao lado do outro e formando um círculo.

Engenheira de alimentos com 27 anos de experiência na indústria, ela chegou à Cargill em 2016 com a bagagem de quem tinha passado por toda a cadeia de produção. Já trabalhou em controle de qualidade, administração, marketing e engenharia de produtos. Está agora na posição em que mais queria: a de garantir que todos os alimentos sejam aproveitados ao máximo, como se em resposta às suas memórias de criança no Ceagesp.

"Na minha casa, também não gosto de jogar comida fora. É o mesmo aqui [na Cargill]. Na indústria, você tem de transformar tudo. Um exemplo é como tirar a proteína da ervilha. Como aproveitar tudo o que aquele produto tem a oferecer? A gente quer valorizar a cadeia do início ao fim", define.

Desenvolvimento e pesquisa (chamado em inglês de "food solutions", a soluções de alimentos) é um dos pilares do negócio da Cargill, gigante fundada em 1865 em Minnesota, nos Estados Unidos, que em 2022 teve faturamento de US$ 165 bilhões (cerca de R$ 822 bilhões).

A companhia também tem a parte agrícola, que faz exportações e possui frota de navios. Há o setor de nutrição animal, que produz ração paga gado, cavalos, aves e porcos.

Qual a temperatura certa para fritar batatas?

A Cargill possui marcas próprias conhecidas do público, como o óleo Liza e o extrato de tomate Elefante. Faz pesquisas para seus produtos, mas também é procurada por companhias como Nestlé, Burger King, McDonald’s, Unilever e Pepsico. Pode acontecer de atender a clientes que são seus concorrentes nas prateleiras dos supermercados.

São diferentes testes. Pode ser para descobrir qual a temperatura certa para preparar batata frita na rede de fast food ou quanto tempo determinado alimento dura se mantido fora da geladeira em diferentes condições de temperatura e umidade.

Parte do trabalho do centro de pesquisa é prever o que vai acontecer na indústria de alimentos e indicar ingredientes e proporções.

"Nós temos de compreender o produto tanto quanto o nosso cliente. Mesmo as nossas marcas estão em desenvolvimento e pesquisa porque há a necessidade de reduzir custos sem perder a qualidade", define Sandra.

Por ano, ela estima que são investidos US$ 800 mil (cerca de R$ 4 milhões) em novos equipamentos.

Uma das preocupações da diretora é a pesquisa em ciência do consumidor, em tecnologias como o uso de um aminoácido extraído de uma bactéria ou fungo em vez da proteína animal, questões sobre as quais estão debruçados cientistas da Cargill, relata Biben.

A corrida é para perceber o que o consumidor vai querer no futuro. Para a engenheira, é algo que vai sair da massificação para a especialização. As pessoas, segundo ela, vão querer uma combinação de alimentos saudáveis, práticos, que possam ser feitos rapidamente e dentro das características da região em que está.

Uma das pesquisas em andamento é de produtos veganos direcionados à classe C (pessoas que recebem de quatro a dez salários mínimos).

"Aprimorar a cadeia é oferecer um produto mais sustentável."

Isso tudo sem esquecer o que será sempre o mais importante na experiência sensorial de comer. "O que o consumidor quer mesmo é ter prazer. Ele quer comida sustentável, mas quer ter prazer no ato de comer."

Não desperdiçar nada, encontrar ou aperfeiçoar uma cadeia de alimentos sustentável, acessível, saudável, prática e que ofereça prazer. Soa como algo complexo, admite.

"Eu te disse. É um quebra-cabeça."

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