Dólar sobe e atinge os R$ 5,29, maior valor desde janeiro de 2023; Bolsa recua

Dados mistos sobre aquecimento de atividade nos EUA colocam mercado em compasso de espera

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São Paulo

Após horas de movimentos discretos, o dólar engatou alta na tarde desta quarta-feira (5) e fechou o dia com valorização de 0,20%, cotado a R$ 5,296, seu maior nível desde janeiro de 2023. Como pano de fundo, investidores seguem monitorando a situação econômica dos Estados Unidos, em meio a temores sobre a manutenção dos altos patamares de juros no país.

Nesta quarta, números conflitantes sobre a maior economia do mundo foram divulgados. Dados secundários de emprego mostraram abertura de vagas abaixo do esperado, mas o ISM (Instituto de Gestão e Fornecimento) informou que seu índice de gerentes de compras subiu 49,4 em abril para 52,8 em maio, apontando que o setor de serviços voltou dos EUA voltou a acelerar.

Na Bolsa brasileira, o Ibovespa registrou mais um dia negativo, descolando-se dos índices de Nova York, que registraram alta.

As ações da Vale, empresa de maior peso do Ibovespa, seguem caindo, limitando o desempenho do índice, em mais um dia de fraqueza do minério de ferro —que também penaliza o real. Com isso, o Ibovespa caiu 0,32%, aos 121.407 pontos, segundo dados preliminares.

Preocupações com a situação fiscal do Brasil também são citadas por profissionais do mercado como um dos motivos para a desvalorização da moeda brasileira.

Agora, investidores aguardam a divulgação do relatório de empregos fora do setor agrícola nos Estados Unidos, marcada para sexta (7). O relatório é considerado o indicador mais relevante de mercado de trabalho no país.

"Os dados deverão testar o otimismo crescente quanto aos juros do Fed após o fraco número de abertura de vagas que derrubou os rendimentos dos títulos do Tesouro na sessão anterior", afirma a equipe da Guide Investimentos.

Na Europa, a expectativa recai sobre uma nova decisão de política monetária do BCE (Banco Central Europeu), que ocorre nesta semana.

Reuters

No início do dia, o clima era de otimismo. O estrategista-chefe da EPS Investimentos, Luciano Rostagno, havia mencionado que os mercados estavam mais positivos para emergentes no geral.

"Dados de mercado de trabalho dos EUA mostraram criação de postos abaixo da expectativa. Isso ajuda a reduzir as preocupações com a inflação e favorece um enfraquecimento do dólar", acrescentou.

O catalisador havia sido os novos dados de criação de vagas de trabalho no setor privado dos EUA, que ficou abaixo do esperado em maio. Os dados do mês também anterior foram revisados para baixo.

Foram abertos 152 mil empregos no mês passado, depois de 188 mil em abril, segundo o relatório da ADP. Economistas consultados pela Reuters previam a criação de 175 mil postos no mês passado.

"Foi mais um dado que sugeriu que economia americana está de fato desacelerando. Com isso, o mercado vai passando a precificar com mais força que o corte de juros pelo Federal Reserve comece no mês de setembro. Ontem havia 58% de probabilidade para setembro, incorporada na curva de juros futura, e hoje já está em 64%", afirma Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research

A persistência de um mercado de trabalho bastante aquecido nos EUA tem deixado as autoridades do Federal Reserve (banco central americano) com uma postura cautelosa em relação à trajetória da inflação de volta à sua meta de 2%, adiando o possível início de um ciclo de cortes nos juros.

Com a moderação recente no mercado de trabalho, operadores passaram a ver 65% de chances de um corte de juros pelo Fed em setembro, contra 46% uma semana antes, de acordo com a ferramenta FedWatch da CME.

Quanto mais o banco central dos EUA cortar os juros, pior para o dólar, que se torna comparativamente menos interessante quando os rendimentos dos títulos do Tesouro americano diminuem.

O PMI de serviços, no entanto, pesou contra o mercado doméstico.

"A atividade veio mais forte do que o esperado.Toda vez que sai um dado mais forte de atividade lá fora, o mercado acaba batendo um pouco, porque bota um aperto nos juros. O mercado já está bastante pressionado por conta dos treasuries [títulos do Tesouro americano], então está muito sensível a dados de atividade mais forte", diz Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos.

No cenário doméstico, dúvidas sobre a condução da política econômica do país seguem sendo citadas pelo mercado.

"O mercado está muito descontente com a política econômica brasileira e todo o ruído fiscal. O que tem pesado bastante é a MP do PIS/Cofins apresentada pelo governo, porque a briga política entre Executivo e Legislativo continua. Esse cenário está afastando investidores", diz Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável da Veedha Investimentos

Na Bolsa brasileira, o destaque o dia foi a Sabesp, que subiu mais de 4,47% e foi a maior alta da sessão após o governo de São Paulo ter aprovado o Acordo de Investimentos do processo de privatização da companhia.

Dentre as regras, o acordo prevê que o governo do estado deverá se abster de indicar o candidato a diretor-presidente da companhia.

Além disso, o novo conselho de administração após a privatização será composto de nove membros, sendo três indicados pelo governo de São Paulo, três indicados pelo acionista de referência, que após leilão será uma espécie de sócio do estado na Sabesp, e três conselheiros independentes.

"Os pontos esperados são razoáveis e amplamente aguardados pelo mercado no formado em que saíram. O anúncio em si é positivo por demonstrar que a agenda de privatização está avançando e a oferta de privatização deve ser concluída até o início de agosto de 2024 no máximo", afirmam analistas da Genial Investimentos.

Na ponta negativa do Ibovespa, Petz, Localiza e Cogna, que recuaram 4,32%, 3,34% e 3,72%, respectivamente.

Com Reuters

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