Lançado há quase 30 anos, Plano Real acabou com inflação de quase 5.000% ao ano

Inflação e ajuste fiscal, duas questões que estiveram no centro do programa de estabilização, ainda dominam o debate econômico

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São Paulo

A Folha inicia nesta quinta (6) a publicação de uma série de reportagens e entrevistas sobre os 30 anos do Plano Real. Inflação e ajuste fiscal, duas questões que estiveram no centro do programa de estabilização, ainda dominam o debate econômico.

Em junho de 1994, mês que antecedeu o início da circulação da nova moeda, dois temas dominavam o noticiário nacional: os preparativos para o lançamento do real e a estreia do Brasil na Copa do Mundo de Futebol.

No dia 6 de junho daquele ano, a capa da Folha mostrava as dificuldades do então ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, para resolver questões relacionadas à conversão dos preços de diversos produtos da moeda da época, o cruzeiro real, para a URV (Unidade Real de Valor).

Naquele mês, a inflação alcançou os patamares recordes de 47,4% ao mês e 4.922% no acumulado em 12 meses. Em julho do mesmo ano, com o início da circulação do real, caiu para 6,84% no mês. Atualmente, a meta é de 3% ao ano.

O ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero e o presidente Itamar Franco mostram as cédulas de reais após troca das notas de cruzeiros reais em agência da Caixa no Palácio do Planalto, em Brasília - Sérgio Lima-01.07.1994/Folhapress

O lançamento da moeda atual, em 1º de julho daquele ano, foi a terceira e última etapa de um plano de controle da inflação que começou em maio de 1993, quando Fernando Henrique Cardoso assumiu o comando do Ministério da Fazenda.

O ritmo de degola de ministros da Fazenda no governo Itamar Franco (1992-1994) impunha urgência. FHC era o quarto a ocupar o cargo em sete meses de governo.

Poucas semanas depois, criou o grupo que reuniu nomes como André Lara Resende, Edmar Bacha, Gustavo Franco, Pedro Malan, Winston Fritsch e Persio Arida.

Em menos de três meses foi anunciada a primeira fase do programa de estabilização: o Plano de Ação Imediata, que buscava reorganizar as contas públicas. Ou seja, o Plano Real começou com uma espécie de ajuste fiscal.

A principal medida era o FSE (Fundo Social de Emergência), uma desvinculação entre despesas e receitas para bancar gastos com saúde, educação, previdência e outros "programas de relevante interesse econômico e social".

Em agosto, começa o processo de troca de moeda. Surge o cruzeiro real (CR$), após um corte de três zeros no cruzeiro, moeda que havia sido ressuscitada no governo Fernando Collor (1990-1992) e acumulava inflação de 118.000% em 41 meses de vida.

O cruzeiro real teria vida breve, de 11 meses, na qual acumulou inflação de 2.400%.

Outra fase do Plano Real começa em março de 1994, com o lançamento da URV (Unidade Real de Valor), valendo CR$ 647,50, uma espécie de moeda virtual.

As duas unidades de conta iriam conviver pelos quatro meses seguintes. Nesse período, vários preços e valores contratuais foram gradualmente convertidos de cruzeiros reais para URVs, cuja cotação era atualizada diariamente pelo Banco Central.

Os primeiros a serem convertidos foram os salários, os benefícios sociais e os contratos do setor público.

Em abril, FHC deixa a Fazenda para se candidatar à presidência. Sob o comando agora de Rubens Ricupero, a equipe econômica inicia a preparação para a última etapa: o lançamento do real.

Começa a operação para troca do meio circulante. Seguem as discussões sobre como converter preços sem carregar a inflação passada para a futura moeda.

As correções diárias da URV terminaram em 30 de junho, quando o BC estabeleceu a cotação de CR$ 2.750.

No dia 1º de julho, cada URV é convertida para exatamente R$ 1,00. A "quase moeda" e o cruzeiro real deixam de existir, e todos os preços da economia passaram a ser denominados exclusivamente em reais.

A capa da Folha daquele dia traz duas imagens. Uma delas com o ministro Ricupero, tratando das remarcações de preços na véspera da conversão. Acima, destaque para o jogador Diego Maradona, pego em exame de dopping no meio da Copa.


Planos anteriores ao Real desde a redemocratização

  • Fev/1986: Plano Cruzado 1
  • Nov/1986: Plano Cruzado 2
  • Jun/1987: Plano Bresser
  • Jan/1989: Plano Verão
  • Mar/1990: Plano Collor 1
  • Jan/1991: Plano Collor 2

Linha do tempo do Plano Real

  • Outubro/1992: Itamar Franco assume a presidência após afastamento de Fernando Collor
  • Maio/1993: FHC é nomeado ministro da Fazenda, o quarto a ocupar a pasta no governo Itamar
  • Maio/1993: Começa a ser criado o grupo de trabalho que elaborou o plano de combate à inflação
  • Julho/1993: Primeira fase - Plano de Ação Imediata para reorganização do gasto público
  • Agosto/1993: Mudança da moeda para cruzeiro real com corte de três zeros
  • Setembro/1993: Paulo César Ximenes é demitido da presidência do BC por Itamar, e FHC ameaça deixar o cargo. Pedro Malan assume comando da instituição
  • Fevereiro/1994: FHC apresenta o Plano Real; Congresso aprova parcialmente Fundo de Social de Emergência
  • Março/1994: Lançada a URV (Unidade Real de Valor), valendo CR$ 647,50 (cruzeiros reais)
  • Abril/1994: FHC deixa Fazenda para se candidatar à presidência; Rubens Ricupero assume
  • Junho/1994: Inflação mensal bate recorde de 47,4% (quase 5.000% em 12 meses)
  • Julho/1994: Real começa a circular, valendo CR$ 2.750 (cruzeiros reais) ou 1 URV. Inflação cai para 6,84%
  • Agosto/1994: Inflação do mês fica em 1,86%
  • Out/1994: FHC é eleito presidente da República no 1º turno, com 54% dos votos
  • Jan/1995: FHC assume a Presidência da República
  • Nov/1995: Governo lança o Proer, programa de reestruturação do sistema financeiro, para conter crise bancária gerada pela queda da inflação
  • Out/1998: FHC é reeleito presidente da República no 1º turno, com 53% dos votos
  • Jan/1999: Governo abandona paridade entre dólar e real
  • Jun/1999: Brasil adota regime de metas de inflação
  • Dez/2010: BC lança segunda família de cédulas e moedas do real

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