Dólar e Bolsa fecham em queda, com cautela antes de decisões de juros no Brasil e nos EUA

Reuniões do Copom e do Fed, na próxima quarta, são as principais expectativas da semana para investidores; mercado também reage ao Boletim Focus

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São Paulo

O dólar fechou em queda de 0,56% nesta segunda-feira (29), cotado a R$ 5,625, com investidores de olho nas decisões de política monetária dos bancos centrais do Brasil, Estados Unidos e Japão previstas para esta semana.

Já a Bolsa teve queda de 0,42%, aos 126.953 pontos. O pregão foi marcado por perdas firmes nos papéis da Petrobras, além de cautela dos agentes financeiros diante dos novos dados do Boletim Focus.

Investidores aguardam decisões sobre juros nos Estados Unidos e Brasil nesta semana - Dado Ruvic/Reuters

Analistas consultados pelo BC (Banco Central) elevaram a expectativa para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor) mais uma vez.

Para o final deste ano, a previsão do Focus é que a inflação feche em 4,10%, ante avanço de 4,05% na semana anterior. Em 2025, a projeção é de que o índice chegue a uma alta de 3,96%, ante 3,90%.

O resultado vem depois da divulgação de dados do IPCA-15 para julho na semana passada. O indicador, apesar de ter desacelerado em relação ao mês anterior, subiu mais do que o esperado na base mensal, a 0,30%, com a taxa em 12 meses se aproximando do teto da meta de inflação em 4,45%.

O BC, vale lembrar, trabalha com a meta de 3% para a inflação do ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Em semana de reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), cresce a expectativa pelo tom do comunicado sobre a taxa de juros básica do país, a Selic, a principal ferramenta da autarquia para controlar a inflação.

A expectativa de especialistas consultados pela Folha é de que a Selic seja mantida no patamar de 10,50% ao ano pela segunda vez consecutiva. A deterioração do cenário econômico, porém, pode levar a sinalizações de que uma alta nos juros em decisões futuras não está descartada.

Para o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, ainda se soma ao caldo a "elevada incerteza quanto à capacidade do governo de atingir as metas fiscais em 2024, 2025 e 2026, o que tem gerado desvalorização do real, com consequente pressão sobre a taxa de inflação".

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em pronunciamento em rede nacional no domingo (28), reforçou o compromisso com a estabilidade fiscal do país.

"Não abrirei mão da responsabilidade fiscal. Entre as muitas lições de vida que recebi de minha mãe, Dona Lindu, aprendi a não gastar mais do que ganho. É essa responsabilidade que está nos permitindo ajudar a população do Rio Grande do Sul com recursos federais", disse.

O pronunciamento de Lula ocorre após o anúncio de contenção de R$ 15 bilhões no Orçamento deste ano, necessário para que o governo cumpra as regras do arcabouço fiscal. Os detalhes do corte serão divulgados na terça-feira (30).

Na esteira da reunião do Copom, de acordo com a análise de Camargo, o comunicado "deverá indicar que cresceu a probabilidade de não cumprimento da meta de inflação de 2025, o que significa que o risco de aumento da taxa de juros aumentou no horizonte relevante".

O comitê se reúne entre terça e quarta-feira, assim como o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano). As decisões de ambas as autarquias serão conhecidas ao final do último dia de reunião, em data apelidada de "super quarta" pelos mercados.

A expectativa é que o BC dos EUA mantenha a taxa de juros na faixa de 5,25% a 5,50%. O foco estará em sinalizações sobre o futuro, conforme têm crescido apostas de um corte na reunião de setembro, com a possibilidade de mais uma redução até o final do ano.

A ferramenta CME FedWatch, que monitora as apostas do mercado quanto à política monetária dos EUA, aponta que as chances de um corte em setembro subiram para 95%. Quanto mais o banco central norte-americano cortar os juros, pior para o dólar, que se torna comparativamente menos interessante quando os rendimentos dos Treasuries —títulos ligados ao Tesouro dos EUA— diminuem.

A quarta-feira ainda reserva a decisão sobre juros do Banco do Japão, com expectativa de nova alta.

As autoridades japonesas elevaram a banda para 0% e 0,1% no último encontro, a primeira alta desde fevereiro de 2007. O aperto monetário encerrou o longo período de juros negativos do país asiático, que, até março deste ano, trabalhava com uma banda entre 0% e -0,1%.

A especulação sobre um aperto monetário no país valorizou o iene na semana passada, gerando pressão sobre as moedas de mercados emergentes.

Um iene valorizado ante o dólar e a possibilidade de diminuição no diferencial de juros entre Japão e Estados Unidos levam investidores a reverter operações de "carry trade", isto é, quando tomam ativos em locais com juros baixos para rentabilizar em outros com juros mais altos. Isso provoca uma fuga de capitais de emergentes, como o real, para sustentar essa reversão no mercado japonês.

Na cena corporativa, o Ibovespa foi afetado pela forte queda dos papéis da Petrobras, em repercussão à possível oferta por uma fatia das operações em campo de Mopane, na Namíbia. A notícia, na análise do BTG Pactual, "deve ser encarada de maneira negativa dado o histórico ruim da companhia em alocação de capital no exterior".

Ainda pressionadas pela queda do petróleo Brent no exterior, as ações preferenciais e ordinárias da estatal caíram 2,02% e 2,52% no pregão da B3.

Também na coluna negativa, Usiminas recuou 4,42%, na esteira do derretimento de 23% dos papéis da siderúrgica na sexta-feira.

Magazine Luiza, Petz e Pão de Açúcar fecharam no negativo diante da expectativa de um IPCA maior ao final do ano. "A inflação mais alta faz com que os juros tenham que se manter elevados para segurar os preços, o que prejudica as empresas do varejo", diz Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital.

Vale fechou com alta de 0,18%, e Klabin e 3R Petroleum lideraram ganhos com alta de 3,21% e 2,80%.

Nos Estados Unidos, a semana guarda balanços corporativos de grandes empresas, a incluir Microsoft, Apple, Amazon, Meta, McDonalds, Toyota, Pfizer, Airbus, Mastercard, Boeing, Intel, Exxon Mobil, entre outras.

Na sexta-feira (26), o dólar fechou em alta de 0,17%, aos R$ 5,657, e a Bolsa avançou 1,22%, aos 127.492 pontos.

Com Reuters

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