Empresas oferecem coleta doméstica de resíduos orgânicos para compostagem

Modelo se expandiu pelo país e vende serviço que inclui recipiente coletor, instruções e retirada periódica de lixo orgânico, que gera fertilizante

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São Paulo

"E se eu vendesse o serviço de compostagem doméstica de resíduos orgânicos aos meus amigos em vez de perturbá-los para se engajarem no meu projeto de composteira urbana?" Foi essa a pergunta que levou o engenheiro ambiental Lucas Chiabi, 33, a criar a primeira iniciativa de coleta orgânica domiciliar do país.

Fundado no Rio de Janeiro, o Ciclo Orgânico surgiu de um projeto familiar de compostagem, com cinco casas atendidas, todas de parentes de Chiabi. "Eu vi a minha família se engajar e ficar mais atenta ao que consumia e à qualidade da sua alimentação", lembra. "Comecei a chamar meus colegas de faculdade. Mas muitos não toparam."

Tempos depois, conta ele, esses mesmos colegas contrataram seu serviço de coleta e compostagem e viraram clientes da Ciclo Orgânico, que hoje atende 4.600 famílias na capital fluminense, além de grandes geradores de resíduos, como restaurantes, clubes, empresas, estádios e eventos.

O engenheiro ambiental Lucas Chiadi, fundador da empresa Ciclo Orgânico, que oferece coleta domiciliar de resíduos orgânicos destinados à compostagem, processo que gera adubo orgânico e biofertilizante
O engenheiro ambiental Lucas Chiadi, fundador da empresa Ciclo Orgânico, que oferece coleta domiciliar de resíduos orgânicos destinados à compostagem, processo que gera adubo orgânico e biofertilizante - Divulgação

O serviço inclui uma avaliação da produção de resíduos orgânicos de cada residência, a escolha do recipiente coletor de tamanho adequado e a coleta domiciliar na frequência escolhida. A empresa oferece 30 dias de teste gratuito.

Chiabi se inspirou na chamada Revolução dos Baldinhos, um movimento de compostagem comunitária iniciado em 2008 em Florianópolis (SC) como uma medida sanitária para retirar resíduos orgânicos dispostos inadequadamente e assim acabar com uma infestação por ratos num bairro da cidade.

Baldinhos de plástico foram distribuídos a moradores para que nele recolhessem e transportassem restos de comida das casas até postos de coleta, de onde os resíduos eram levados até composteiras e tratados, produzindo adubo orgânico e biofertilizante.

Trator e maquinário da empresa Ciclo Orgânico, que oferece coleta domiciliar de resíduos orgânicos destinados à compostagem, processo que gera adubo orgânico e biofertilizante
Trator e maquinário da empresa Ciclo Orgânico, que oferece coleta domiciliar de resíduos orgânicos destinados à compostagem, processo que gera adubo orgânico e biofertilizante - Divulgação

O grande salto no número de clientes do Ciclo Orgânico, conta Chiabi, foi durante a pandemia. "O isolamento social da pandemia fez as pessoas cozinharem mais e gerarem mais resíduos orgânicos. A percepção dessa quantidade e do seu potencial nos fez crescer", avalia ele que afirma que mais de 80% dos clientes da empresa são mulheres.

Resíduos orgânicos correspondem, em média, à metade do total de resíduos domésticos produzidos no Brasil por cada indivíduo, calculado em um quilo por dia.

Eles são majoritariamente enviados para aterros sanitários, onde são enterrados e sua decomposição produz gases de efeito estufa ligados à crise climática, entre eles o metano. Parte desse metano pode ser capturado para produção de biogás, em usinas ainda pontuais no Brasil.

A compostagem desvia esses resíduos orgânicos dos aterros para a produção do composto orgânico e do biofertilizante também comercializados pela empresa e por várias das mais de 150 iniciativas de compostagem em todo o Brasil registradas no Mapa dos Composteiros do Brasil, que reúne serviços e projetos comunitários.

O modelo de assinatura criado por Chiabi, com planos que variam de R$ 60 a R$ 100, foi replicado também por boa parte das mais de 80 micro, pequenas e médias empresas que integram a Associação Brasileira de Compostagem (ABCompostagem), criada em 2022 para organizar um setor que nem sequer existia dez anos atrás.

Entre elas, estão empresas como a Planta Feliz, pioneira na cidade de São Paulo a ofertar o serviço de coleta doméstica de resíduos orgânicos para compostagem, e a Oeko Bioplásticos, que produz contentores, sacolas, copos e canudos compostáveis, feitos de recursos renováveis agrícolas, como cana, milho e mandioca.

"Essa indústria vem se desenvolvendo largamente no mundo todo, mas sofre problemas em relação a produtos falsos", afirma o engenheiro de materiais João Carlos Godoy, fundador da Oeko. "Muitos alegam usar fontes renováveis como matéria-prima, mas usam fontes fósseis, outros se dizem biodegradáveis ou compostáveis e não são. Estamos lutando contra todo esse greenwashing", diz.

Para ele, a norma brasileira está desatualizada sobre materiais compostáveis e não há sistema de certificação. "É preciso fazer testes nos materiais e certificá-los", aponta. "Um produto falso pode contaminar o adubo com substâncias tóxicas, o que é muito sério."

Godoy defende que a compostagem é "uma industria de fertilizante e de saneamento porque evita impactos danosos da destinação incorreta do resíduos orgânicos e ainda produz adubo que devolve carbono para solos agrícolas".

Ele cita o exemplo da Itália, onde que o varejo vende sacola compostável na boca do caixa porque ela faz parte do sistema de gestão de resíduos do país. "Lá, mais de 70% dos resíduos orgânicos são desviados de aterros para a compostagem", afirma.

O casal Marina Sierra e Adriano Sgarbi, fundadores da Planta Feliz, que oferece serviço de coleta doméstica de resíduos orgânicos para compostagem e produção de adubo e fertilizante orgânicos
O casal Marina Sierra e Adriano Sgarbi, fundadores da Planta Feliz, que oferece serviço de coleta doméstica de resíduos orgânicos para compostagem e produção de adubo e fertilizante orgânicos - André Bueno/Divulgação

Para o engenheiro, a grande barreira para a generalização da compostagem é fruto do lobby de grandes aterros, que são remunerados por tonelada de resíduos e não querem perder quase metade deles para composteiras.

"Sempre se apostou que as pessoas não são capazes de separar resíduos em três frações —orgânicos, recicláveis e rejeito—, mas nunca se implementou esse sistema, previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos", critica.

Marina Sierra, 41, sócia-fundadora da paulistana Planta Feliz, criada em 2019 para oferecer o serviço de coleta doméstica e compostagem, além de imersões de educação ambiental no pátio em Parelheiros, zona sul da capital, também critica a ausência de um sistema de informação e coleta em três frações e aponta para outros entraves à ampliação deste modelo de negócio.

"No primeiro ano de operação, a demanda foi maior do que nossas projeções. Mas os custos de logística, ainda assim, não fechavam a conta. Precisávamos atingir grandes geradores, como escolas, restaurantes e outras empresas", conta ela.

A Planta Feliz aguarda licença ambiental para operar maior volume de resíduos orgânicos desde junho de 2021, quando ingressou com o pedido junto à Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). A legislação paulista permite o manejo de até 500 quilos de resíduos orgânicos por dia sem necessidade de licença.

SERVIÇO

Ciclo Orgânico - Rio de Janeiro (RJ)

tel.: 0/xx/21/98521-0747

https://cicloorganico.com.br/

@cicloorganico

Planta Feliz - São Paulo (SP)

tel.: 0/xx/11/ 96326-8425

https://www.plantafelizadubo.com.br/

@plantafelizadubo

Ibi Terra Viva - São Paulo (SP)

tel.0/xx/11/93370-6987

https://ibiterraviva.com.br/

@ibiterraviva

Guaraipu - Campinas (SP)

https://guaraipu.com.br/

@guaraipu_compostagem

Eclo Compostagem Urbana - Juiz de Fora (MG)

tel.: 0/xx/32/99999-7874

https://www.eclo.eco.br/

@eclo.eco

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