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Equilibrando o futuro e o presente na política industrial brasileira

Entre prioridades industriais atuais e futuras, a política industrial brasileira precisa encontrar um equilíbrio

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Mateus Labrunie

Doutor em desenvolvimento econômico, é analista de políticas no Institute for Manufacturing da Universidade de Cambridge

Bernardo Cabral

Professor adjunto da Faculdade de Economia da UFBA (Universidade Federal da Bahia)

Um desafio importante da nova política industrial brasileira –a NIB (Nova Indústria Brasil)–é equilibrar as prioridades das indústrias existentes com as das indústrias que ainda não existem.

Embora seja essencial melhorar a competitividade das indústrias estabelecidas, uma estratégia industrial bem desenhada deve ir além das necessidades presentes. Deve também considerar a direção das tendências tecnológicas e econômicas globais e desenvolver um plano para a participação do país em indústrias futuras.

O CNDI (Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial) tem se esforçado para ouvir todas as partes interessadas afetadas pela política e chegar a missões e uma linguagem que sejam relevantes e aceitáveis para todos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante evento de lançamento do Nova Indústria Brasil - Gabriela Biló - 22.jan.2024/Folhapress

Esse é um esforço louvável para tornar a política democraticamente legítima e ouvir os grupos que melhor conhecem os desafios e necessidades da indústria.

O próximo passo necessário é desenvolver um plano para indústrias que não são grandes ou estruturadas o suficiente para fazer suas vozes serem ouvidas. Esse é um esforço igualmente desafiador, pois envolve considerável dose de antecipação, pensamento estratégico e tomada de riscos.

O Brasil possui importantes iniciativas de prospecção tecnológica e planejamento estratégico, como o CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) e o Observatório Nacional da Indústria da CNI (Confederação Nacional da Indústria). No entanto, essas iniciativas ainda não estão integradas nos processos de formulação das políticas.

Isso faz com que as necessidades de curto prazo ofusquem as políticas orientadas para o futuro. Esse descuido com as perspectivas futuras leva a um maior investimento em indústrias onde a liderança tecnológica não é mais alcançável, restando apenas oportunidades como seguidores ou em pequenos nichos de mercado.

O documento da NIB declara as metas aspiracionais a serem alcançadas dentro de seis missões. Um próximo passo seria realizar um exercício granular de prospecção dos segmentos industriais que contribuirão para alcançar essas metas e combiná-lo com um mapa robusto das capacidades industriais existentes no país.

Esse exercício também ajudaria a evitar cair em "modismos" globais, como IA, hidrogênio verde, computação quântica etc. Embora algumas dessas áreas possam ser relevantes para o Brasil, são necessárias mais evidências para sustentar a escolha de política.

O sucesso atual da China no mercado de veículos elétricos é exemplo da importância dos exercícios de prospecção, para além de uma política de curto prazo. Seus esforços começaram em 2001, quando o governo chinês antecipou a tendência global e decidiu investir significativamente em P&D de baterias de veículos elétricos.

Da mesma forma, as inovadoras iniciativas de antecipação do Japão em meados do século 20 permitiram-lhe dominar em eletrônicos e maquinários, o que também foi replicado na experiência coreana algumas décadas depois.

A importância da prospecção estratégica é particularmente acentuada no momento atual, em que o Brasil se esforça para navegar e capitalizar sobre avanços tecnológicos complexos e intersetoriais, como as transições verde e digital.

É importante recuperar o atraso em indústrias maduras, mas experiências históricas de desenvolvimento bem-sucedidas nos mostram que também é necessário realizar saltos tecnológicos, isto é, explorar indústrias que são novas para todo o mundo.

Entre as prioridades industriais atuais e futuras, a política industrial brasileira precisa, portanto, encontrar um equilíbrio.

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