Chinesa BYD ultrapassa Tesla em vendas de carros elétricos

Vendas da montadora asiática passaram de 3 milhões de unidades, o que incluiu 1,6 milhão de veículos totalmente movidos a bateria

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Claire Fu Rich Barbieri
Seul | The New York Times

A gigante chinesa BYD anunciou na segunda-feira (1º) que vendeu 3 milhões de carros elétricos com bateria em 2023, o maior número já registrado, encerrando um ano turbulento para a indústria de veículos elétricos da China.

Com isso, a empresa terminou o ano ultrapassando Tesla, referência no setor: a companhia chinesa fabricou 526 mil veículos exclusivamente elétricos no quarto trimestre, enquanto a americana entregou 484 mil carros, segundo informou nesta terça-feira (2).

Linha de produção da fábrica de veículos elétricos da BYD em Chanzhou, na China, que servirá de espelho para a unidade brasileira
Linha de produção da fábrica de veículos elétricos da BYD em Chanzhou, na China, que servirá de espelho para a unidade brasileira - Divulgação/BYD

Mesmo com as vendas em alta, a intensa concorrência e uma guerra de preços sustentada tiveram um impacto financeiro em muitas montadoras.

A BYD, porém, vendeu no ano passado 1,6 milhão de veículos totalmente elétricos e mais 1,4 milhão de híbridos, que são alimentados tanto por baterias quanto por gasolina. Juntos, isso representa um aumento de 62% em relação a 2022. A BYD também triplicou seu lucro para US$ 1,5 bilhão (R$ 7,3 bilhões) no primeiro semestre do ano passado.

No total, espera-se que as montadoras chinesas tenham vendido cerca de 9,4 milhões de veículos elétricos e híbridos no ano passado, um aumento em relação a 6,9 milhões em 2022, de acordo com a Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis. O grupo disse que espera que as vendas em 2024 aumentem novamente, para 11,5 milhões.

Já o maior mercado automobilístico do mundo, a China agora também é o que mais cresce, avançando na transição para veículos elétricos que está revolucionando a indústria global. A China domina a cadeia de suprimentos de carros elétricos —desde a mineração e processamento de cobalto e outros minerais usados em baterias até a implantação de robôs em fábricas que produzem carros e caminhões.

Uma grande razão para a liderança precoce da China em veículos elétricos foi o pesado apoio financeiro do governo para o desenvolvimento da indústria. Após o vencimento dos incentivos financeiros para os consumidores no final de 2022, as montadoras reduziram os preços dos carros para atrair compradores. Muitas empresas, incluindo a BYD, introduziram outra rodada de cortes no outono.

Em novembro, a BYD anunciou descontos de até 18 mil iuanes (R$ 12.262) em cinco modelos. Outra empresa chinesa de veículos elétricos, Ji Yue, uma parceria entre Geely e Baidu, reduziu o preço de todas as versões de seu primeiro modelo em 30 mil iuanes (R$ 20.436) em novembro.

Os cortes de preços do ano passado foram iniciados pela Tesla, a montadora americana que possui uma fábrica em Xangai. Em janeiro de 2023, ela reduziu os preços na China pela segunda vez em três meses, e outros seguiram o exemplo.

A Tesla perdeu sua posição como a fabricante de veículos elétricos mais popular do mundo apesar das vendas trimestrais superarem as estimativas dos analistas.

A empresa americana, dirigida por Elon Musk, entregou 484 mil carros no quarto trimestre de 2023, informou a Tesla nesta terça-feira (2), mais do que os 473 mil previstos pelos analistas consultados pela LSEG.

A BYD, por sua vez, anunciou vendas recordes de veículos movidos exclusivamente a bateria de 526 mil no quarto trimestre do ano passado, ajudada por um forte final de ano para o mercado chinês de veículos elétricos.

De propriedade do bilionário Elon Musk, a montadora americana fabrica cerca de metade de todos os veículos elétricos vendidos nos Estados Unidos.

Enquanto a Tesla e a BYD disputam o posto de maior fabricante de veículos elétricos totalmente elétricos do mundo, ambas as empresas enfrentam uma concorrência crescente de montadoras tradicionais que estão gastando bilhões de dólares para alcançá-las.

"Acredito que uma reestruturação da indústria seja uma tendência inevitável", disse Cui Dongshu, secretário-geral da Associação Chinesa de Automóveis de Passageiros, que representa a indústria doméstica do país. "Mas ainda é incerto quem vai assumir a posição de liderança no futuro a longo prazo".

À medida que as vendas de veículos elétricos na China aumentam rapidamente, as empresas estão investindo dinheiro em fábricas e pesquisas, muitas vezes com empréstimos de bancos estatais e apoio de municípios. A Nio, uma das marcas chinesas mais vendidas de veículos elétricos, anunciou em novembro que demitiu 10% de seus funcionários.

No último ano, a Tesla perdeu participação de mercado para concorrentes como General Motors, Hyundai, Ford Motor e Volkswagen, à medida que as montadoras tradicionais lançaram mais veículos elétricos.

A BYD, que enfrenta tarifas proibitivas no mercado dos EUA, vende a maioria de seus carros na China, mas está expandindo globalmente, especialmente na Europa.

Em dezembro, anunciou que construiria uma fábrica de montagem na Hungria, sua primeira instalação de produção de carros com bateria na Europa. Na Alemanha, o centro da indústria automobilística europeia, ela lançou três modelos de carros elétricos no início de 2023. A BYD abriu concessionárias na Alemanha, Noruega e Suécia.

Conforme a competição global por veículos elétricos se intensifica, as ramificações políticas se tornam mais intensas. Os formuladores de políticas dos EUA dificultaram a parceria de empresas estrangeiras com empresas americanas.

Na Europa, os legisladores estão investigando os subsídios estatais da China, um passo que poderia levar a tarifas impostas pela União Europeia.

No entanto, a indústria automobilística europeia não pode ignorar a China como cliente e parceira comercial.

A BMW, que possui mais de 30 mil funcionários na China, anunciou na primavera passada que investiria cerca de US$ 1,4 bilhão em capacidade de montagem de baterias em sua fábrica em Shenyang, no nordeste da China.

A Volkswagen, que considera a China seu maior mercado de vendas, está transferindo mais de sua cadeia de suprimentos e fabricação para a China. A gigante alemã está contratando milhares de engenheiros chineses para projetar carros elétricos em seu complexo industrial em Hefei, uma cidade no centro da China.

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