Descrição de chapéu Chuvas no Sul

Leilões negociam carros atingidos pelas enchentes no Sul por até metade do preço

Valor entre 40% e 60% da tabela Fipe e oportunidade de reforma são atrativos de negócio

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Porto Alegre

O interesse em leilões de veículos atingidos pelas chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul cresceu nas últimas semanas. Destino final de carros, motos e outros meios de transporte perdidos por gaúchos, os certames atraem compradores atraídos pelo valor baixo e pelas possibilidades de recuperação.

"Quando começaram as notícias de enchente, todo mundo achava que ninguém compraria os carros. Vem sendo uma surpresa, porque está vendendo muito bem", diz a leiloeira Liliamar Pestana Gomes. "A gente está conseguindo vender mais de 90% em cada leilão, isso é muito bom. Mostra que o mercado está aquecido para isso."

Na foto, dezenas de carros estão em uma área alagada, vista de cima.
Carros no pátio do Detran de Porto Alegre cobertos pelas águas da inundação do lago Guaíba no dia 19 de maio - Bruno Santos/Folhapress

O valor final pode oscilar entre 40% a 60% da tabela Fipe, a depender de critérios como marca, modelo, ano e estado pós-sinistro. "Tem veículos que estavam em locais onde ficaram mais sujos, tem veículos que a água chegou só até o pneu."

O primeiro leilão, no dia 18 de junho, teve 111 veículos arrematados de um total de 120. Desde então, a média de vendas fica acima de 90%. Quatro edições já foram realizadas, e a próxima ocorre nesta quinta (4).

Como muitos proprietários ainda preparam a documentação de transferência de veículos para as seguradoras, a expectativa é de que os leilões estejam apenas começando.

Por ora, os veículos estão em um pátio de quase 300 mil km² em Nova Santa Rita, integrando o estoque de carros recolhidos após desastres climáticos ou colisões, além dos que foram retomados por bancos ou instituições financeiras.

Mais de 5.000 veículos foram encaminhados por seguradoras para a leiloeira nos últimos 30 dias, e a perspectiva é de aumento.

"Como teve a enchente, e foi um período que durou, os carros ficaram submersos mais ou menos 20 dias. Agora baixou a água e todo mundo quer retirar os veículos, então acumulou essa entrada [de veículos no pátio da leiloeira]", diz Liliamar.

Pelo contrato feito com as seguradoras, a empresa leiloeira faz a limpeza dos veículos conforme a avaliação da sujeira, que pode ser desde uma lavagem simples para tirar o barro até a remoção de bancos, tapetes e forração para higienização externa. "Muitos carros poderão ser recuperados, a grande maioria será", afirma..

Na foto, três carros aparecem parcialmente submergidos. Ao fundo, casas alagadas
Estragos causados pelas enchentes em São Leopoldo, região metropolitana de Porto Alegre, em 12 de maio - Pedro Ladeira/Folhapress

A expansão de oficinas especializadas em restaurar carros sinistrados é sinal que compradores veem em leilões uma boa oportunidade de negócio. "Eles vão fazer uma recuperação: leva para oficina, faz todo o trabalho, e os veículos vão poder rodar", diz.

O pátio recebe diariamente compradores em potencial para ver a extensão dos danos nos lotes à venda. "Tudo aquilo que é de enchente, o cliente compra sabendo que é de enchente. O cliente tem que ter essa clareza".

O número de cadastrados para participar dos leilões aumentou nas últimas semanas, e tem perfil variado. "Qualquer pessoa pode comprar, então tem uma mistura de público: pessoa física, pessoa jurídica, comerciantes, lojistas, consumidor final. É um mix muito grande".

No leilão presencial, na zona norte de Porto Alegre, o público oscila conforme o horário, ficando em torno de dez pessoas pela maior parte do dia. A maior parte fica no celular no site da leiloeira, por onde são feitos os lances.

Há quem acompanhe a transmissão pela internet de diferentes lugares do Brasil, com lances feitos em Santa Catarina, Paraná e São Paulo.

O ritmo é rápido e direto: na edição do dia 27 de junho, a maior parte dos 250 lotes disponíveis foi vendida em menos de um minuto de lance no ar.

Um Gol 1.0 flex 2021 (R$ 50.246,00 pela tabela Fipe) foi comprado por R$ 29 mil, acima dos R$ 21 mil no lance de abertura. Também saiu por R$ 29 mil um Mobi Like 1.0 Fire Flex, carro da Fiat ano 2024 (R$ 62.503,00 pela Fipe).

Um Fiat Pulse 2023/2024 (R$ 100.292,00) foi vendido por R$ 53,3 mil. Uma Land Rover Evoque Dynamic ano 2013 (R$ 109.106,00) foi arrematada por R$ 49,5 mil.

Alguns poucos veículos não saíram, como um Corolla Altis Premium 2019-2020 (R$ 128.967,00), que não teve lances após a abertura em R$ 65,5 mil.

Muitos veículos de valor mais alto ainda estão sendo higienizados, um processo demorado. Segundo Liliamar, é provável que ocorra um leilão específico para veículos acima de R$ 100 mil.

Uma restrição ocorre às sextas-feiras, dia de leilão de sucatas, nos quais o único público autorizado a dar lance são CDVs (Centros de Desmanche de Veículos).

Ainda não há um número oficial sobre os danos das chuvas e enchentes em automóveis no Rio Grande do Sul.

Estimativas não oficiais da consultoria de transportes Bright Consulting sugerem que entre 140 mil a 280 mil veículos podem ter sido perdidos, entre 5% a 10% de uma frota circulante de 2,8 milhões. Leilamar diz que a maior parte desses veículos provavelmente não tinha seguro.

"No Brasil, a gente tem entre 28% a 30% de veículos segurados", diz a leiloeira. "A gente não sabe dimensionar aqui no Rio Grande do Sul se os carros que foram afetados representam esses 28% ou 30%"

De acordo com a CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras), a tragédia no RS é o maior sinistro já enfrentado pelo setor no Brasil, se aproximando de R$ 3,9 bilhões. Foram 48.870 pedidos de indenizações entre 28 de abril e 18 de junho.

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