Descrição de chapéu Financial Times Argentina

Por que a Bolsa da Argentina disparou e a do Brasil desvalorizou

Ações em Buenos Aires e em Karachi, no Paquistão, têm forte alta no ano, enquanto outros emergentes perdem valor

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Humza Jilani Joseph Cotterill
Islamabad (Paquistão) e Londres | Financial Times

Antigos párias entre os países emergentes, Argentina e Paquistão têm sido alguns dos melhores mercados de ações do mundo neste ano. A performance é impulsionada por investidores que apostam que as reformas econômicas ajudarão os dois países a deixar para trás o histórico de crise.

O índice Merval da Argentina liderou as bolsas da América Latina, subindo 53% no valor em dólar americano, enquanto o índice de ações do Paquistão detém um dos melhores desempenhos na Ásia, superando o período em que era visto como muito problemático.

Javier Milei gesticula durante evento em Buenos Aires
Bolsa de Buenos Aires subiu 53% em valor em dólar neste ano impulsionada por reformas feitas pelo presidente Javier Milei - Tomas Cuesta/AFP

Esses chamados "mercados de fronteira" têm sido atraentes devido às suas avaliações baratas, dizem os investidores. Em contraste, os índices das Bolsas em mercados mais estabelecidos como México e Brasil caíram no valor em dólar à medida que o capital foi atraído para ações de inteligência artificial, que estão em alta nos EUA.

"Você tem uma grande atração dos EUA, chamada [fabricante de chips] Nvidia (que desviou dinheiro de mercados emergentes maiores)", afirmou James Johnstone, codiretor da equipe de mercados emergentes e de fronteira da gestora de investimentos Redwheel.

"Mas o que está indo bem são mercados que passaram por crises quase existenciais e realizaram as reformas necessárias," acrescentou o analista.

Em sua avaliação, outro grupo de economias em desenvolvimento, incluindo Sri Lanka e Turquia, "passou por um período realmente difícil" mas agora estão prontos para a recuperação, à medida que dívidas em moeda estrangeira caras e taxas de inflação de dois dígitos são controladas.

O presidente da Argentina, Javier Milei, tem transformado medidas econômicas em lei, atuando rapidamente em comparação com tentativas anteriores de reforma que ficaram paralisadas pela oposição política, disse Dominic Bokor-Ingram, gestor de portfólio sênior em mercados emergentes e de fronteira na Fiera Capital. "A diferença entre desta vez e todas as anteriores é a rapidez com a qual Milei fez isso".

No Paquistão, o índice de ações de Karachi subiu 30% desde o início de 2024, mais do que as Bolsas de Taiwan e Índia. Ele quase duplicou em termos de dólar desde junho do ano passado, quando o país evitou um calote ao garantir um empréstimo de US$ 3 bilhões do FMI (Fundo Monetário Internacional).

"A recente alta se deve à confiança dos investidores de que o Paquistão conseguirá um acordo de longo prazo com o FMI após a conclusão bem-sucedida do acordo do ano passado," disse Mohammed Sohail, presidente-executivo da corretora paquistanesa Topline Securities.

Mesmo após a recente alta, as ações paquistanesas ainda são negociadas cerca de 3,7 vezes maiores que seus lucros, aproximadamente a metade da média histórica de sete, acrescentou Sohail.

A maior contribuição para a alta veio do setor bancário, que teve lucros robustos à medida que o banco central elevou a taxa de juros para acima de 20% para derrubar a inflação desenfreada, de acordo com uma nota de pesquisa da Arif Habib Limited, uma corretora paquistanesa.

Mesmo assim, os fluxos estrangeiros para as ações do Paquistão permanecem mínimos e a recuperação é, na verdade, uma reação a uma queda na inflação de alimentos e combustíveis, que disparou após a invasão da Rússia à Ucrânia, disse Bokor-Ingram. "Não vemos isso como uma história de reforma, mas sim como um retorno de níveis muito baixos", disse.

Alguns mercados de ações permaneceram em dificuldades na primeira metade do ano em termos de dólares devido às recentes desvalorizações cambiais. O mercado de ações do Egito, por exemplo, caiu 27% este ano, atingido pela desvalorização da libra egípcia em março.

Mesmo no grupo de países que vivenciaram variações nos mercados de ações, as condições econômicas continuam sendo em grande parte miseráveis para as pessoas comuns. A inflação permanece alta em comparação com outros mercados emergentes, apesar dos fortes aumentos nas taxas de juros —na Turquia, por exemplo, a inflação desacelerou pela primeira vez em oito meses em junho, mas ainda está em 71,6%. Vários governos enfrentam resistência aos planos de aumentar impostos para pagar suas dívidas.

A Bolsa de Nairóbi saltou 44% em termos de dólar este ano, enquanto o Quênia evitou um calote nos pagamentos iminentes de títulos e o xelim se valorizou mais de 20% em relação ao dólar.

O Ministério das Finanças do Paquistão revelou um orçamento pesado em impostos no mês passado, com o objetivo de aumentar as receitas e aplacar as preocupações do FMI, à medida que a frágil coalizão governante busca um caminho para sair do crescimento anêmico, da inflação de dois dígitos e da disparada das dívidas públicas.

Os mercados de fronteira e mercados maiores mais idiossincráticos, como a Argentina, também entraram no radar dos investidores enquanto tentam controlar a exposição a grandes mercados emergentes, como a China.

No entanto, apesar da promessa de reformas em alguns países, muitos investidores têm consciência de que os retornos das ações de mercados emergentes têm sido geralmente fracos na última década em comparação com os mercados dos EUA, disse um gestor de renda variável de mercados emergentes. No fim do dia, acrescentou o gestor, "você está simplesmente operando em uma classe de ativos altamente cíclica".

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