Descrição de chapéu Argentina imigrantes

O choque na Argentina cria uma economia que sufoca e expulsa

Venezuelano Franklin e argentina Gabriela ilustram como a alta nos preços anula a qualidade de vida

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Mayara Paixão
Mayara Paixão

Correspondente para América Latina

Franklin foi a exceção à regra. Ele deu baixa nos papéis e conseguiu abandonar a Guarda Nacional da Venezuela, apropriada pelo chavismo, sem ter de desertar e depois viver à base do medo. Deixou o país sob Nicolás Maduro e há três anos vive em Buenos Aires.

Mas essa capital cosmopolita, onde argentinos e estrangeiros dizem que o acolhimento é comum e a xenofobia, raridade, deixará de ser seu lar em breve. A alta dos preços e o tombo no poder de compra fizeram esse motorista de Uber e pai de família decidir emigrar. De novo.

Vendedor conta dinheiro em Buenos Aires
Vendedor conta dinheiro em Buenos Aires - Irina Dambrauskas - 11.mai.24/Reuters

A motosserra de Milei tem consecutivamente reduzido a inflação, a ponto de o chefe da Casa Rosada almejar um... Nobel da Economia.

Mas esses dados vêm acompanhados de uma alta expressiva de muitos produtos, em parte fruto do fim do controle de preços; do aumento das tarifas de luz e água; do salto no custo dos aluguéis e da saúde privada. Viver está muito mais caro.

Alguns argentinos sentem o choque e muitos ainda repelem a ideia de algum protesto social massivo por crer que é melhor esperar, como se esta fosse sua última chance de tentar mudar algo neste país onde crise econômica é o status quo.

Outros, como Gabriela, viram nos últimos meses a gota d'água para dar adeus. E uma porção considerável escolhe o Brasil. Não à toa o número de argentinos se registrando como residentes nos primeiros cinco meses deste ano (4.560) foi recorde e representou alta de mais de 100% em relação à média dos seis anos anteriores para o mesmo período.

O país vira uma opção mesmo que, como diz essa argentina, emigrar dentro da América Latina seja trocar de cabine dentro do Titanic.

Com anos de de uma crise social pavimentada pelo kirchnerismo e agora um duro arrocho patrocinado pelo projeto ultraliberal de Milei, a Argentina periga se tornar mais um exemplo das economias que sufocam e expulsam. Não seria tão incomum na América do Sul.

Um dos problemas desses sistemas falhos com sua população —e com aquela população que aceitaram acolher— é que engrossam o caldo do movimento cada vez mais comum nas Américas de migração em série. Difícil é encontrar o migrante que tenha emigrado uma só vez.

Para Franklin há duas possibilidades.

1) Ir à Venezuela tentar regularizar seu passaporte e, se o conseguir, emigrar de maneira legal para Barcelona. 2) Se isso falhar —e é bem possível que falhe, dada a destruição da burocracia venezuelana sob o chavismo—, ir aos EUA; como? Pela selva de Darién, a perigosa floresta que tira um número desconhecido de vidas migrantes.

Chega um ponto em que o cosmopolitismo e o bom humor argentinos com os imigrantes não bastam.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.