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Facebook busca novo tipo de energia limpa para atender data centers

Aposta da big tech é a exploração de energia geotérmica, que usa o calor vindo de áreas profundas da Terra

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Brad Plumer
The New York Times

Grandes empresas de tecnologia nos Estados Unidos estão lutando para encontrar energia limpa suficiente para alimentar todos os data centers que planejam construir.

Atualmente, algumas empresas apostam em uma inovação: aproveitar o calor profundo abaixo da superfície da Terra para criar eletricidade sem emissões, usando técnicas de perfuração do boom da exploração de petróleo e gás.

Na segunda-feira (26), a Meta, dona do Facebook, anunciou um acordo com uma startup chamada Sage Geosystems para desenvolver até 150 MW (megawatts) de um tipo avançado de energia geotérmica que ajudaria a alimentar a crescente rede de data centers da gigante da tecnologia. Isso seria o suficiente para fornecer eletricidade a 70 mil residências.

Usina de energia geotérmica, na Islândia
Usina de energia geotérmica, na Islândia - Marko Djurica - 22.dez.2023/Reuters

A Sage usará uma técnica hidráulica semelhantes às que foram feitas para extrair grandes quantidades de petróleo e gás das rochas de xisto. Mas, em vez de perfurar em busca de combustíveis fósseis, a Sage planeja criar fraturas a milhares de quilômetros abaixo da superfície terrestre e bombear água nelas.

O calor e a pressão subterrâneos devem aquecer a água a ponto que ela possa ser usada para gerar eletricidade em uma turbina, tudo isso sem emitir os gases de efeito estufa que estão causando o aquecimento global.

"É basicamente a mesma tecnologia de fraturamento hidráulico," disse Cindy Taff, que trabalhou na Shell por 36 anos antes de se tornar CEO da Sage. "A diferença é que estamos atrás de calor limpo em vez de hidrocarbonetos (como petróleo e gás)", comentou.

A Sage fez um teste e perfurou um poço no sul do Texas, nos EUA, para demonstrar essa técnica. A startup agora pretende construir sua primeira usina de grande escala em um local ainda a ser determinado a leste das Montanhas Rochosas, com a primeira fase tendo início até 2027.

O acordo é o mais recente sinal da busca frenética por novos tipos de energia geotérmica que poderiam fornecer enormes quantidades de eletricidade sem emissões ao longo do dia e complementar opções mais variáveis como a energia eólica e solar.

O Google fez parceria com a Fervo Energy, uma startup geotérmica em ascensão, para construir uma planta piloto de 5 megawatts em Nevada, nos EUA, que começou a fornecer energia à rede. As duas empresas recentemente fecharam um acordo para fornecer muito mais energia geotérmica nos próximos anos para os data centers do Google.

A Fervo também está construindo uma planta de 400 megawatts em Utah que venderá eletricidade para concessionárias no sul da Califórnia e espera-se que entre em operação a partir de 2026.

As empresas de tecnologia estão com uma necessidade urgente de obter mais eletricidade, à medida que o interesse em inteligência artificial desencadeou um boom de data centers. Segundo uma estimativa, esses locais poderiam consumir 9% da eletricidade dos EUA até 2030, em comparação com os atuais 4%.

Os data centers geralmente precisam de energia 24 horas por dia, algo que turbinas eólicas e painéis solares sozinhos não podem dar conta. Ao mesmo tempo, muitas empresas de tecnologia prometeram reduzir suas emissões de gases e enfrentam pressão para não depender de combustíveis fósseis como carvão ou gás. Portanto, estão explorando tecnologias que podem funcionar o tempo todo, incluindo energia nuclear ou geotérmica aprimorada.

"Vamos precisar de todas as opções no arsenal," disse Michelle Solomon, analista sênior de políticas na Energy Innovation, uma organização sem fins lucrativos. "No curto prazo, a energia geotérmica aprimorada pode desempenhar um papel relativamente pequeno, mas estou muito otimista sobre o caminho que esta tecnologia pode tomar."

A energia geotérmica existe há décadas. Mas, tradicionalmente, as usinas que geram esse tipo de eletricidade eram limitadas a lugares onde as empresas podiam facilmente acessar reservatórios de água quente subterrânea próximos da superfície. Apenas alguns locais têm a geologia certa para isso, como partes da Califórnia ou Islândia. Em virtude disso, esse tipo de geração fornece apenas 0,4% da eletricidade dos EUA.

Mas em todo lugar na Terra há enormes quantidades de calor subterrâneo, e dezenas de startups estão tentando técnicas para obter essa energia. Embora possa ser caro perfurar milhares de quilômetros em rochas quentes e secas, esses custos estão caindo à medida que as empresas ganham experiência. Em fevereiro, a Fervo disse que reduziu os tempos de perfuração em até 70% em apenas um ano.

"Já estamos muito à frente de onde as pessoas esperavam que estivéssemos, e esperamos reduzir mais os custos no futuro," avaliou Tim Latimer, CEO da Fervo.

O Departamento de Energia estima que a geotermia poderia fornecer 90 mil megawatts de capacidade elétrica nos EUA até 2050 se as tecnologias continuarem melhorando, 20 vezes mais do que ocorre hoje.

"A geotermia tem um potencial enorme," comentou a secretária de Energia Jennifer Granholm, em março.

Ainda assim, a geotermia de próxima geração recebe bem menos financiamento federal do que outras tecnologias, incluindo combustíveis de hidrogênio ou energia nuclear, em parte porque só recentemente virou uma opção promissora de fonte de energia. Isso significa que o apoio das gigantes da tecnologia pode ser crucial à medida que as startups geotérmicas navegam pelos riscos de construir os primeiros projetos.

Urvi Parekh, chefe de energia renovável da Meta, afirmou que a empresa pretende sinalizar que tem intenção de comprar eletricidade da Sage para que a startup pudesse levantar fundos e começasse a alinhar equipamentos. "Há um valor tremendo em fazermos esse compromisso hoje," disse Parekh. "Dessa forma, eles podem tomar as medidas necessárias para conseguir aquele projeto que queremos ver nas redes elétricas."

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