Maioria das startups morre porque ignora os problemas reais do consumidor

Falta de dinheiro é o segundo motivo mais comum de falência, de acordo com levantamento

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São Paulo

​O futuro da maioria das startups brasileiras é a morte. Nove em cada dez empresas do tipo no país acabam, segundo a consultoria e auditoria PwC Brasil.

A principal causa do fim é a aposta em um negócio que não resolve um problema real do mercado, de acordo com um levantamento mundial feito neste ano com 101 startups pela empresa de pesquisa CB Insights. Em seguida, vêm a falta de dinheiro e os problemas com a equipe.

Muitos empreendedores não atendem a uma demanda do mercado porque se baseiam apenas na sua experiência pessoal para criar um produto ou serviço, afirma Gustavo Gierun, cofundador da Distrito, empresa de inovação em startups. 

Sem conversar com os consumidores nem fazer testes para verificar a aceitação do negócio, os empresários gastam tempo e dinheiro para desenvolver uma mercadoria que ninguém quer comprar. 

Em muitos casos, também, a ideia é boa, mas o empreendedor tem dificuldade para conseguir tirá-la do papel, afirma Carlos Arruda, gerente-executivo do núcleo de inovação e empreendedorismo da Fundação Dom Cabral. 

Homem com camiseta preta sentado em poltrona
Alex Frazatti, 38, no centro de referência em inovação do Sebrae, no cento de São Paulo, onde sua startup, a Atleta.co, está hospedada - Lucas Seixas/Folhapress

Em 2015, o professor coordenou um levantamento da instituição sobre os principais motivos pelos quais as startups acabam. Os resultados foram semelhantes aos do estudo da CB Insights. 

Também estão nas primeiras posições a má localização da companhia e a relação conflituosa entre os parceiros de negócio. Quanto mais sócios, maiores são as chances de a empresa fracassar. 

Em uma startup, os proprietários geralmente assumem mais de uma função e precisam tomar muitas decisões com mais rapidez. Esse cenário exige uma maior sintonia entre os membros, de acordo com a pesquisa. 

Além do contrato social, que formaliza a constituição da empresa, é importante fazer um acordo específico entre sócios antes de começar o negócio, recomenda Marcelo Hoffmann, que é coordenador da comissão de startups do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.

Nesse documento, é possível detalhar temas particulares, como a distribuição de funções, capacidade de tomada de decisão de cada um e até trabalhar a hipótese de ingresso de novos parceiros, diz Hoffmann. 

Isso minimiza o risco que um desentendimento entre os fundadores pode causar à sobrevivência da empresa. 

“É um tema excelente para trabalhar no início da relação, quando ela ainda está saudável”, afirma ele. “Se as empresas conseguissem formalizar as razões e condições de términos da sociedade haveria, eventualmente, um número menor de mortes de startups”, completa.

​Hoffmann também avalia que um bom time é aquele que reúne pessoas com competências complementares.

É o que faltou à startup criada em 2013 por Alex Frazatti, 38. Com formação na área de tecnologia, ele trabalhou por um ano ao lado de um sócio na criação de um aparelho automático para a alimentação de animais domésticos.

Um dos fatores que fizeram com que o projeto não fosse levado adiante foi a ausência de uma pessoa na equipe dedicada à área de marketing.

“Éramos dois nerds desenvolvendo algo para nossa curiosidade intelectual”, diz.

Um segundo problema foi a falta de dinheiro. Como o projeto não evoluía, o caixa foi secando, e os sócios tiveram que desistir da ideia de lançar o novo aparelho.

“Faltou uma visão mais clara de planejamento. A gente estava mais preocupado em desenvolver o produto”, afirma Frazatti.

Em 2017, o empresário fundou uma nova startup, a Atleta.co, que trabalha para desenvolver soluções no segmento esportivo. Nessa nova fase, ele buscou estar em contato constante com outros empreendedores para poder trocar mais experiências.

Além de participar de eventos que discutem os principais erros e acertos de startups, ele instalou sua nova empresa no centro de referência em inovação do Sebrae, nos Campos Elíseos, bairro da região central de São Paulo.

As chances de sobrevivência são maiores para os negócios que estão abrigados dentro de incubadoras, segundo Paulo Renato, gerente de inovação do Sebrae-SP.

“É importante ter convivência com esse ecossistema de startups. Há muitas pessoas que criam uma empresa e ficam isoladas”, afirma ele.

​Sergio Alexandre, sócio da PwC Brasil, ressalta que mesmo aquelas startups que evitam os principais problemas que levam à mortalidade apontados pelas pesquisas podem acabar enfrentando uma outra adversidade: ser incorporada por uma outra companhia que não mantém o espírito do negócio.

Quando um grupo vê a startup apenas como uma solução para um problema interno e a absorve como um departamento, mata-se a paixão e a dinâmica do time, explica Sergio Alexandre. “A startup deveria influenciar a empresa, e não o contrário”, afirma.

Ele avalia que mapear os principais erros de uma startup é um importante processo de aprendizagem. “As empresas que conseguem perceber e aprender com esses erros são as que conseguem escalar mais rápido”, diz

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