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'Crise vai reduzir poder de compra e forçar migração para o virtual', diz presidente do Sebrae

Para Carlos Melles, empreendedores têm que se preparar porque impactos do coronavírus não serão momentâneos

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Flávia Pinho
São Paulo

Os impactos da crise nos pequenos negócios serão prolongados, na opinião de Carlos Melles, presidente do Sebrae. Ele afirma que as empresas terão de se reinventar, uma vez que os hábitos de consumo devem sofrer mudanças permanentes.

Além de capacitar os empreendedores para lidar com os novos desafios, a entidade destinou metade da sua arrecadação para um fundo que servirá como garantia para que empresários consigam obter empréstimos junto aos bancos.

"Nossa expectativa é que sejam feitas operações de microcrédito que somem R$ 12 bilhões até o final do ano", diz.

A seguir, Melles fala sobre como se preparar para enfrentar o difícil momento.

Carlos Melles, presidente do Sebrae
Carlos Melles, presidente do Sebrae, também já atuou como ministro do Esporte e Turismo (2000) e secretário de Transportes e Obras Públicas (2011) do Governo de Minas Gerais - Divulgação

O que esperar durante e após a crise?

Os impactos não são momentâneos. Além de reduzir o poder de compra, a crise vai acentuar tendências que já vinham crescendo, como as vendas online, o delivery, o teletrabalho e o uso do WhatsApp como ferramenta de interação com os clientes.

Empresas que já investiam em plataformas online e de entrega se adaptaram rapidamente e até aumentaram as vendas. Mas alguns setores mais afetados, como o varejo tradicional, o turismo, os salões de beleza e a alimentação fora do lar, que representam 13 milhões de negócios, estão passando por uma transformação digital forçada.

Vemos uma explosão de lives nas redes sociais. Quem não estava 100% conectado foi obrigado a fazendo isso às pressas. Quando o isolamento terminar, os empresários deverão manter contato direto com os clientes, para continuar gerando valor e atendendo às suas necessidades.

Como o empreendedor deve traçar seu plano de sobrevivência?

Planejar e negociar são as palavras de ordem. O primeiro passo é dimensionar os custos e avaliar se é conveniente manter a empresa operando normalmente, reduzir a operação ou fechar as portas até que a crise passe.

Depois, é preciso reduzir ao máximo os gastos secundários, que não são imprescindíveis para manter a empresa aberta, e negociar com os públicos do negócio: fornecedores, parceiros, clientes, agentes financeiros. Vale tentar reduzir o aluguel, alongar prazos de financiamentos e de entrega aos clientes.

Por fim, é essencial usar a criatividade para aumentar a receita, como aqueles restaurantes e salões de beleza que estão vendendo vouchers com desconto para consumo no futuro. Acreditamos que essas ações criam uma sensação de pertencimento e fidelidade aos pequenos negócios.

Demitir ou não demitir funcionários? O que deve ser levado em consideração na hora de decidir?

Apesar da queda no faturamento, a demissão não precisa ser a primeira alternativa. O isolamento social não vai durar para sempre e, quando as empresas reabrirem, vão precisar de funcionários qualificados e prontos para retomar as atividades rapidamente.

Antes de demitir —e seria uma demissão sem justa causa, com maior custo para o empregador— é melhor considerar saídas como a interrupção do contrato, autorizada por medida provisória, a concessão de férias coletivas, a antecipação de férias, o teletrabalho ou até mesmo a redução salarial.

Como saber se é ou não momento de tomar um empréstimo?

O empreendedor só deve tomar empréstimo para capital de giro e, mesmo assim, quando tiver certeza de que o fluxo será restabelecido.

É fundamental negociar com o agente financeiro uma boa carência para o início do pagamento e estudar as alternativas anunciadas pelo governo federal e pelas instituições financeiras.

Foram criadas linhas de crédito para pagamento de funcionários e fluxo de caixa em condições especiais para micro e pequenas empresas. Mas o empreendedor não deve nem pensar em tomar recursos para qualquer outra ação, como aquisição de máquinas e equipamentos, móveis ou veículos.

Que recursos o Sebrae têm colocado à disposição dos empresários?

Estamos formulando políticas públicas de emergência, com o governo federal e outros atores, que ampliam o acesso a crédito, flexibilizam questões trabalhistas, reduzem a burocracia e racionalizam a cobrança de impostos.

Por exemplo, o Sebrae vai destinar 50% de sua arrecadação ao Fampe (Fundo de Aval para as Micro e Pequenas Empresas). Esses recursos servirão de garantia para que milhões de empreendedores consigam crédito junto aos bancos.

Nossa expectativa é que sejam feitas operações de microcrédito que somem R$ 12 bilhões até o final do ano. Além disso, desenvolvemos conteúdos de orientação pensados para vários setores. Nosso corpo técnico está voltado ao desenvolvimento de soluções.

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