Crescem as empresas que oferecem soluções digitais para condomínios

Prédios buscam ferramentas para fazer reuniões online e organizar uso das áreas de lazer

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Cristiane Teixeira
São Paulo

Em sete meses, as administradoras de condomínios residenciais viveram uma revolução tecnológica. Com a pandemia, as empresas tiveram que digitalizar boletos, realizar assembleias a distância e oferecer agendamento online para o uso das áreas de lazer.

“Quem não está fazendo isso está fora do mercado”, afirma José Roberto Graiche Júnior, presidente da AABIC (Associação Brasileira de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo).

Segundo ele, há mais de uma década o setor vem se modernizando, mas o público nem sempre fazia uso dos recursos digitais disponibilizados, o que se alterou com a pandemia.

“O mercado condominial brasileiro está atrasado de 20 a 30 anos no aspecto tecnológico. Quando a pandemia iniciou, poucas administradoras estavam preparadas para atender remotamente e de forma ágil", diz Rafael Lauand, 30, cofundador da Lar.App, administradora digital aberta há dois anos em Curitiba.

Rafael sorri para a câmera, veste camiseta e está de braços cruzados, que têm tatuagens
Rafael Lauand, cofundador da administradora digital de condomínios - Divulgação

Entre fevereiro e setembro, a empresa teve crescimento de 150%, afirma ele. O plano mais econômico da administradora, que inclui apenas serviços digitais, sai por cerca de R$ 500 e atende condomínios com até 30 apartamentos ou casas, que tenham um ou dois funcionários.

Idealizado para funcionar como um apoio para os síndicos, o aplicativo de gestão condominial My Cond, criado em 2016 pela analista de sistemas Ana Rita Oliveira, 44, dobrou a clientela em 2020 e expandiu sua área de atuação, da Bahia para outros 13 estados.

O uso do aplicativo por condomínios com até 50 unidades residenciais custa R$ 125 ao mês. A startup não cobra pela personalização da ferramenta, que sempre é feita.

Assim como acontece com a Lar.App, os preços da My Cond sobem conforme o tamanho do empreendimento, porém o custo por apartamento ou casa se reduz.

“Nossas ações de marketing eram presenciais e centradas em nossa região, Salvador. Quando os eventos foram proibidos, migramos a comunicação para o meio digital e percebemos a oportunidade de atender interessados de outros lugares”, conta Ana Rita.

O interesse aumentou por parte de condomínios, mas também de administradoras, que começaram a contratar a empresa para desenvolver seus próprios aplicativos. Em quatro meses, elas já representam 20% da clientela da startup.

Ana Rita Oliveira, sentada em frente a uma mesa de vidro, que tem um notebook apoiado sobre ela
Ana Rita Oliveira, fundadora da empresa de aplicativo de gestão condominial My Cond - Divulgação

Entre as vantagens comuns à maioria das administradoras digitais e aplicativos de gestão, a transparência na prestação de contas impera, já que todas as receitas e despesas dos condomínios podem ser acessadas online, via aplicativo ou site.

Além disso, são atualizadas quase em tempo real: ninguém espera de dois a três meses para visualizar os custos de uma obra emergencial provocada pelo estouro de um cano, por exemplo.

Pelo aplicativo, os moradores recebem automaticamente o boleto, que pode ser pago por ali mesmo. O sistema ainda gera a folha de pagamento dos funcionários e avisa ao síndico que é hora de revisar elevadores, renovar o seguro e fazer a manutenção preventiva dos extintores de incêndio.

O papel não faz parte do negócio, o que livra a clientela das frequentes despesas com impressão de documentos, encadernações e entrega por motoboy. Mas, de modo geral, a economia não vai muito além disso, segundo Graiche Júnior. “As empresas eliminam custos com a 'burrocracia', mas precisam investir constantemente em tecnologia."

Já para Rafael, a gestão digital pode tornar os custos mais acessíveis ou, mantendo os valores praticados por gestoras convencionais, oferecer experiências melhores. “É possível reduzir a inadimplência e conseguir melhores cotações de produtos e serviços.”

Em tempos normais, apenas salões de festas e áreas de churrasqueira eram reservados pelos moradores. “Hoje, até brinquedoteca, playground e piscina exigem agendamento, inclusive para que todos tenham a chance de usá-los”, diz Ana Rita, comentando uma das principais demandas detectadas entre os clientes recém-chegados e os já atendidos.

Outra foi a necessidade de melhorar o fluxo de pacotes recebidos pelo correio, segundo a empresária. “Com o aumento de compras pela internet, isso se tornou um enorme problema para empreendimentos com 300, 500, 600 unidades.”

Para solucionar a questão, ela e sua equipe fizeram uma customização no aplicativo que permite aos porteiros fotografar a encomenda e notificar o morador, que então vai até a portaria para retirá-la.

Apesar de já serem uma alternativa oferecida por alguns aplicativos e administradoras, as reuniões virtuais só chamaram a atenção agora. “Apenas 5% dos nossos clientes faziam assembleias online antes das medidas de distanciamento social”, relata Rafael, que viu a adesão naturalmente subir para 100% de março a julho.

“Após a flexibilização das regras, alguns condomínios estão testando reuniões presenciais, mas o quórum tem sido muito baixo. Talvez tenhamos uma mudança de hábito definitiva aí”, conta o empresário, que espera ver a Lar.App crescer de 400% a 500% até o final de 2021, mesma taxa projetada por Ana Rita para a My Cond.

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