Pequenos negócios começam a se recuperar mesmo com cenário incerto

Em SP, empresas de menor porte devem fechar 2021 com crescimento de 5%, segundo o Sebrae

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Andrea Vialli
São Paulo

Apesar da crise, as micro e pequenas empresas já começam a registrar recuperação, ainda que desigual, puxada pelos segmentos de comércio e indústria.

No estado de São Paulo, esses negócios devem fechar 2021 com um aumento médio de 5% no faturamento, em comparação com 2020, segundo projeção do Sebrae-SP feita a pedido da Folha. A recuperação tende a ser maior na indústria (alta de 12%), seguida pelo comércio (7,5%).

Mas o setor de serviços deve fechar o ano com retração de 2,8% no faturamento, derivado, em parte, do fato de o primeiro semestre ter sido fraco para essas empresas, muito impactadas pelas medidas de distanciamento social.

Catarina Pignato

Os dados têm como base a pesquisa de conjuntura do Sebrae-SP até 15 de dezembro e descontam a inflação medida pelo INPC-IBGE.

"É um cenário bom no geral, pois mostra que houve recuperação da fase mais aguda da crise. Em 2022, as micro e pequenas empresas devem continuar crescendo, mas em patamar mais modesto do que o de 2021", diz Carolina Fabris, coordenadora de pesquisas e monitoramento do Sebrae-SP.

Segundo ela, a economia brasileira apresenta um ritmo de recuperação suficiente para superar a queda registrada em 2020, mas, descontada essa queda, o crescimento adicional das micro e pequenas empresas tende a ser tímido.

A projeção do Produto Interno Bruto (PIB) para 2021 é de alta de 4,51%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central —no ano passado, a retração do PIB foi de 4,1%.

Os negócios que trabalham com produtos e serviços básicos, como alimentação, vestuário, saúde, higiene e beleza, tendem a se beneficiar neste ano. O consumo das famílias deverá se concentrar nesses itens, em razão da perda do poder de compra causada pela inflação e da queda na renda média do trabalhador.
Esse indicador atingiu o menor valor para o terceiro trimestre de 2021, com queda de 11,1% em comparação ao mesmo período de 2020, de acordo com o IBGE. O rendimento real dos ocupados foi estimado em R$ 2.459.

"Encerramos o ano com um cenário econômico ainda frágil, já que o mercado de trabalho reage lentamente, e isso trava a demanda" diz Rodolfo Tobler, economista do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Apesar disso, as pequenas empresas dos segmentos mais impactados pela pandemia, como comércio e serviços, tendem a manter a recuperação já iniciada no segundo semestre de 2021.

Segundo Tobler, ainda será preciso cautela por parte dos empreendedores, especialmente na tomada de crédito. O custo dos financiamentos tende a subir em razão do aumento da taxa básica de juros (Selic), da inflação e do dólar alto, que encarece insumos.

"O ano que se inicia ainda traz um cenário desafiador para as micro e pequenas empresas, com a instabilidade característica de um ano eleitoral."

Uma saída é comparar os juros praticados pelos bancos com os das fintechs, as startups financeiras, muitas delas especializadas no atendimento a pequenos negócios.

É o caso da 123Qred, que recebeu 80 mil pedidos de empréstimo desde o início da operação, em julho de 2020, e oferece financiamentos para empresas com faturamento anual a partir de R$ 150 mil.

Em 2021, a empresa concedeu R$ 15 milhões em crédito para micro e pequenas empresas. A maioria dos pedidos (60%) foi feita por negócios do setor de serviços.

Até o primeiro semestre do ano, as companhias recorreram a empréstimos para sustentar seu fluxo de caixa. "Agora, o mercado volta aos patamares de operação normais, e os empreendedores já começam a pensar em investir para trazer novas receitas, aumentar estoques, comprar equipamentos e contratação de pessoas. Não é mais um crédito para tapar buraco", diz Adriano Duarte, diretor-executivo da 123Qred.
Entre as tendências para 2022 estão a continuidade da digitalização dos negócios e a recuperação do setor de turismo e hotelaria, bastante impactado pela pandemia. Para as empresas do comércio, as vendas pela internet devem continuar crescendo, mesmo com o retorno do presencial.

De acordo com a FecomercioSP, em 2021 as vendas online tiveram expansão geral em vários segmentos, como o de bens duráveis (eletroeletrônicos e eletrodomésticos), que deve fechar o ano com alta de 46% no faturamento real em relação a 2020; o de não duráveis (alimentos), com crescimento de 29%, e o de semiduráveis (vestuário e calçados, entre outros), com variação positiva de 19%.

O faturamento do ecommerce no estado de São Paulo deve crescer 7% em 2022, segundo projeções da FecomercioSP. De acordo com Kelly Carvalho, economista da entidade, as empresas devem seguir apostando nas vendas pela internet.

"Manter e reforçar as estratégias de digitalização e vendas online é fundamental para as pequenas empresas. Mesmo com o retorno das lojas presenciais, o contexto ainda é de pandemia", diz.

No setor de franquias, que tem participação expressiva de pequenos negócios, o terceiro trimestre de 2021 registrou variação positiva, de 7,8% em comparação com o mesmo período de 2020, reforçando a perspectiva de recuperação dos negócios, segundo pesquisa da ABF (Associação Brasileira de Franchising).

O segmento com maior variação foi o de turismo e hotelaria, com aumento de 53,1% no faturamento, impulsionado pela retomada das viagens, o que traz a perspectiva de uma recuperação mais expressiva em 2022. O crescimento, no entanto, se deu em comparação com uma base deprimida em 2020.

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