Após 3 semanas, passagem de Sidr por Bangladesh afeta mais de 8 mi
A extensão dos danos causados pela passagem do ciclone Sidr --que atingiu a costa de Bangladesh com ventos de até 240 km/h no último dia 15-- já é bem maior do que o previsto inicialmente, de acordo com um relatório divulgado nesta terça-feira pela Agência de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha, na sigla em inglês).
Além dos mais de 3.200 mortos e 40 mil feridos, o ciclone afetou 8,5 milhões de pessoas --1,5 milhão acima do que se calculava.
A dimensão do desastre começa a ser conhecida à medida em que a comunicação nas áreas mais afetadas volta ao normal. "Quanto mais informações temos à disposição, mais dura parece a realidade", aponta o documento da ONU.
Robert Keilman/AP |
Vítimas da passagem do ciclone Sidr recebem caixas com mantimentos; atingidos passam de 8 milhões, segundo a ONU |
"Os danos materiais causados pelo Sidr são muito piores do que mostravam as primeiras estimativas". Cerca de 564 mil casas foram completamente destruídas --200 mil a mais do que se estimava-- enquanto outras 885.280 ficaram parcialmente danificadas. A área devastada na agricultura chega a 809 mil hectares, e 1,25 milhão de animais --gado e porcos-- morreram.
O número representa o dobro do que havia sido apontado inicialmente pelo governo.
Em entrevista por e-mail à Folha Online, o chefe da missão dos Médicos Sem Fronteiras em Bangladesh, o holandês Frido Henrickx, disse que a situação pode se agravar nos próximos meses, já que em janeiro e fevereiro, em geral, a agricultura do país costuma ser prejudicada.
"É uma época em que as pessoas sofrem mais com a fome. Isso não tem ligação com o ciclone, mas certamente as perdas de recursos --essas sim relacionadas ao ciclone-- terão um impacto"
Segundo ele, algumas pessoas perderam "absolutamente tudo" -- seus barcos, suas redes de pesca, sua terra, seu gado.
"É difícil dizer quanto tempo levará para essas pessoas se recuperarem", afirma ele.
Doenças
Henrickx conta ainda que a proliferação de doenças entre os desabrigados também é preocupante.
Arte Folha Online |
Segundo ele, as mais comuns são a diarréia --por causa da falta de água potável--, as doenças respiratórias -- em decorrência causa do frio-- e as doenças de pele --causadas pela falta de saneamento básico.
"O importante, agora, é ficarmos atentos para evitar que essas doenças se espalhem", afirma.
De acordo com ele, o número insuficiente de médicos nos hospitais preocupa mais do que a falta de medicamentos.
"Notamos também uma insuficiência de comida, abrigo e materiais como cobertores".
Apesar da preocupação, ele diz que, por enquanto, o governo de Bangladesh tem conseguido manter um sistema de vigilância capaz de impedir a evolução das doenças.
Custos
Para a ONU, o envio de alimentos, abrigos e recursos financeiros são as principais prioridades para as cerca de 2,6 milhões de pessoas que habitavam as nove áreas mais afetadas do país.
O governo de Bangladesh estima que seria necessário cerca de US$ 1 bilhão [cerca de R$ 1,8 bilhão] para reconstruir a infra-estrutura e as condições de subsistência.
A ONU já desembolsou US$ 14,7 milhões [cerca de R$ 25 milhões ] em ajuda humanitária.
Segundo o chefe da missão dos Médicos Sem Fronteira, países como Paquistão, Índia e Estados Unidos também também estão enviando ajuda.
"Mas Bangladesh é um país muito pobre, que precisa de muita ajuda. Então, dentro dessa perspectiva, quanta ajuda poderia ser suficiente?", questiona ele.
Com Associated Press
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