Cubanos vão às urnas enquanto dissidentes são hostilizados
Os cubanos votaram neste domingo em eleições municipais apresentadas como prova da democracia na ilha comunista, mas ao mesmo tempo, o grupo dissidente Damas de Branco foi hostilizado por partidários do governo enquanto tentava protestar pela liberdade de presos políticos.
Os eventos simultâneos mostram as dificuldades que o governo cubano enfrenta ao tentar combater uma imagem autoritária no exterior e manter a oposição no país sob controle.
Pelo menos 95% do país, 8,4 milhões de eleitores, eram esperados na votação para escolher os membros para as assembleias locais em todo o país, que cuidam de questões municipais.
O Partido Comunista é o único partido legal em Cuba e os principais líderes da nação não são eleitos diretamente pelo povo.
Autoridades cubanas afirmam que as eleições locais são um exemplo invejável da democracia para o resto do mundo por causa da elevada taxa de participação e da transparência do processo.
"Em nenhuma outra parte do mundo há uma participação tão elevada nas eleições como em Cuba", disse o vice-presidente cubano, Esteban Lazo.
"Os membros são escolhidos pelo seu próprio povo, que nomeia o melhor e mais capaz", disse ele a jornalistas depois de votar.
Críticos afirmam que o comparecimento é alto porque os cubanos que não votam enfrentam problemas com as autoridades locais.
A televisão cubana mostrou o presidente Raúl Castro depositando seu voto em Havana, mas o ex-líder Fidel Castro, 83, não fez uma aparição pública.
Uma autoridade eleitoral afirmou ter recebido a cédula de Fidel, que não tem sido visto em público desde julho de 2006, e foi mostrado o momento em que ela depositou o voto na urna. "Ele votou", disse ela com um sorriso.
Enquanto a TV cubana reportava a eleição, seis membros do Damas de Branco tentaram realizar uma marcha de protesto, como todos os domingos nos últimos sete anos até a repressão do governo na semana passada. Quando caminhavam para o tradicional ponto de partida, no centro da Quinta Avenida de Havana, cerca de 80 simpatizantes do governo apareceram para empurrá-las para um parque nas proximidades.
No parque, as mulheres permaneceram em silêncio de braços dados em um círculo sob os gritos da multidão de partidários do governo com palavras de ordem como "esta rua é de Fidel" por mais de três horas.
As mulheres, que exigem a liberdade para seus maridos e filhos presos desde 2003 na repressão aos dissidentes, foram tratadas de forma similar na semana passada, quando tentavam realizar uma de suas marchas de protesto em Havana.
A repressão e a morte, em fevereiro, de um dissidente em greve de fome gerou condenação internacional ao governo cubano, que disse que não iria ceder à "chantagem" perpetrada pelos Estados Unidos e pela Europa.
O governo passou a exigir que as Damas de Branco pedissem permissão a partir de março para a realização das marchas, os únicos protestos públicos permitidos em Cuba desde os anos 1960. Mas elas se recusaram. A comunidade dissidente de Cuba é pequena, mas recebe amplo apoio. Os líderes cubanos as consideram mercenárias trabalhando com os Estados Unidos e a Europa para derrubar o governo.
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