Campanha agressiva faz comentaristas nos EUA baixarem o tom
Autora de livros com títulos como "Demoníaco -Como a Turba Progressista Põe em Risco os EUA", a comentarista política Ann Coulter pedia moderação à plateia neste mês em convenção conservadora em Washington.
"Não adianta sair gritando e alienar os eleitores de centro", explicava. "Ronald Reagan não derrotou Jimmy Carter [em 1980] chamando-o de socialista, e sim mostrando que seu governo falhara."
A mudança brusca no tom de Coulter, uma das críticas mais ferozes do governo Barack Obama, não é isolada.
Com ela, colunistas, radialistas e canais conservadores nos EUA vêm investindo, nas últimas semanas, em uma retórica mais branda, exortando os eleitores de direita e centro-direita a se unirem.
"Tem tudo a ver com política -é um esforço para apelar ao eleitor independente", disse Alex Jones, diretor do Centro Joan Shorenstein para Imprensa, Política e Política Pública em Harvard.
Para ele e Tom Rosenstiel, que dirige o Projeto para Excelência no Jornalismo do Centro Pew, trata-se de um contrapeso à gritaria dos aspirantes republicanos à Presidência em uma temporada de primárias partidárias tomada por acusações de um potencial fratricida inédito.
"Todos eles [veículos e figuras da mídia] têm visto o banho de sangue retórico que viraram essas primárias e admitem que isso não ajuda o lado deles", diz Jones.
Além de Coulter, radialistas conservadores com programas vespertinos populares, como Sean Hannity, têm insistido para o público focar não em ataques, mas, sim, em propostas políticas para derrotar Obama em novembro.
"No final das contas, um desses sujeitos será o candidato do partido", explicava Hannity a seus ouvintes durante a campanha na Flórida. "Por favor, prestem atenção em suas propostas."
MAIS EQUILÍBRIO
Ícone da mídia conservadora, a TV Fox News aumentou o escrutínio sobre os pré-candidatos e propôs-lhes perguntas difíceis durante os debates que organizou.
Paralelamente, tem dado menos destaque às vozes mais estridentes, como o comentarista Glenn Beck (desligado da emissora de Rupert Murdoch) e a ex-candidata a vice-presidente Sarah Palin, cujo tempo na tela diminuiu.
O movimento começou após o atentado a tiros que quase matou a deputada democrata Gabby Giffords em 2011 e o escândalo que envolveu a empresa-mãe do canal, a News Corp., quando veio à tona que um jornal do grupo grampeara políticos e artistas no Reino Unido.
Em entrevista ao site noticioso "Daily Beast", Roger Ailes, executivo-chefe do canal, afirmou que se trata de uma estratégia deliberada de migrar para o centro.
Por que a Fox News escolheu esse rumo -se há fim político ou uma estratégia para polir sua imagem- é cedo para saber, diz Rosenstiel.
Mas uma enquete do Centro Western de Jornalismo, organização de direita sem fins lucrativos, indica que 70% do público da emissora acha que ela já não é conservadora como antes.
É algo notório quando o foco do líder de audiência entre os canais noticiosos a cabo é uma campanha arrastada e tomada por uma disputa de agressividade ímpar do seu lado do espectro político (os democratas não têm prévias neste ano, pois Obama tenta a reeleição).
Mas o movimento se faz perceber também no "Wall Street Journal", do mesmo grupo. Embora editorialmente o jornal sempre tenha sido mais equilibrado que o canal, colunistas como Peggy Noonan e o estrategista republicano Karl Rove não costumavam poupar Obama.
Nas últimas semanas, porém, ambos se empenham em defender a moderação em detrimento dos aspirantes mais radicais à candidatura republicana -o ex-senador Rick Santorum, o ex-presidente da Câmara Newt Gingrich e o deputado Ron Paul.
Noonan chama Gingrich de "muffin raivoso de ataque" por seu temperamento.
Não deixa de ser campanha pelo ex-governador de Massachusetts Mitt Romney, que há meses lidera as pesquisas de opinião sem contudo conseguir abrir frente segura sobre seus rivais.
"Será diferente quando o partido tiver seu candidato e houver um democrata e um republicano concorrendo", diz Rosenstiel. "Sem votações toda semana, a narrativa [na mídia] será mais longa."
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