Ucrânia acusa Rússia de invadir aeroportos e pede ajuda ao Ocidente
O governo interino da Ucrânia acusou nesta sexta-feira a Rússia de ter ordenado a invasão de dois aeroportos na Crimeia, região autônoma do país que se rebelou após a retirada do presidente Viktor Yanukovich.
As ocupações acontecem um dia após a ocupação do Parlamento e da sede do governo local, em Simferopol, elevando a tensão na região, em que 60% dos habitantes são de origem russa. O avanço de aliados à Rússia aumenta o risco de um conflito territorial.
Nesta madrugada, homens fardados e fortemente armados ocuparam o terminais da capital da Crimeia e de Sebastopol, cidade onde fica uma base militar russa. Outros 20 homens atacaram também um posto de fronteira na cidade de Balaclava.
Genya Savilov/AFP |
Homens armados não identificados patrulham aeroporto de Simferopol, na Crimeia, invadido nesta sexta |
Em ambos os casos, os invasores não estavam identificados e dizem que protegem a região autônoma da influência do governo interino da Ucrânia, aliado ao Ocidente e a quem chamam de fascista. Já a agência de notícias Reuters afirma que os homens pertenciam à Marinha russa.
O comando das forças russas em Sebastopol negou qualquer ação militar na Crimeia. O governo ucraniano, no entanto, afirma que dez helicópteros russos sobrevoaram a região autônoma ucraniana nesta sexta.
Para o ministro do Interior ucraniano, Arsen Avakov, os milicianos pertencem a unidades russas. "Essa é uma provocação direta para um banho de sangue armado no território de um Estado soberano."
Diante do avanço dos homens, o representante do governo pediu que os Estados Unidos e o Reino Unido interfiram na crise da Crimeia, assim como uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU para avaliar a questão.
Horas depois, o secretário de Estado americano, John Kerry, conversou com seu colega russo, Sergei Lavrov. Durante o telefonema, Lavrov frisou a necessidade de frear a ação de grupos radicais e levar em consideração os interesses das forças políticas de todas as regiões ucranianas
Kerry, no entanto, pediu à Rússia que não inflamasse a situação e que evitasse movimentar tropas perto do território ucraniano, mesmo fazendo exercícios militares na área de fronteira.
Já o primeiro-ministro britânico, David Cameron, pediu respeito à integridade do território da Ucrânia, em conversa com o presidente russo, Vladimir Putin.
YANUKOVICH
A invasão dos aeroportos é mais um atrito entre a Ucrânia e a Rússia, que perdeu influência no país vizinho após a queda de Viktor Yanukovich. Nesta sexta, o presidente deposto disse em entrevista coletiva que havia sido derrubado por "vândalos fascistas".
Ele ainda disse estar surpreso de como a Rússia não reagiu à entrada de seus adversários políticos. "Acho que a Rússia tem o direito de atuar. Conhecendo o caráter de Vladimir Putin, estou surpreso que ele ainda se mantenha calmo e com tamanha resignação. Essa é a pergunta", disse.
O governo interino afirmou que pedirá à Rússia a extradição do presidente deposto. Ele é procurado por enriquecimento ilícito, evasão de divisas e de ordenar a repressão policial a protestos da oposição, provocando confrontos que deixaram 82 mortos na semana passada.
Nesta sexta, a Suíça abriu uma investigação contra Yanukovich e seu filho, Alexsandr, por lavagem de dinheiro. Ontem, eles tiveram as contas bloqueadas, assim como outras 18 pessoas.
A Áustria também decretou o bloqueios das contas de 18 ucranianos. Enquanto isso, a Ucrânia limitou saques em moeda estrangeira a 15 mil hrivnas (R$ 3.504) diários como forma de conter a crise financeira.
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