Polícia de Hong Kong se retira, mas manifestantes mantêm protesto
Os manifestantes pró-democracia de Hong Kong prosseguiram nesta segunda-feira (29) com protestos exigindo mais liberdades políticas.
As manifestações em curso há algumas semanas na ex-colônia britânica se intensificaram no fim de semana. Foi o episódio de violência urbana mais grave desde que o território foi devolvido a China em 1997.
No domingo (28) à noite, a polícia usou gás lacrimogêneo e spray de pimenta para dispersar os manifestantes, o que provocou cenas de caos pouco frequentes nas ruas de Hong Kong.
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Em um aparente gesto de apaziguamento, o governo de Hong Kong anunciou na tarde desta segunda-feira a retirada da polícia antidistúrbios das ruas, mas pediu em troca aos manifestantes "que liberem as ruas ocupadas o mais rápido possível, para dar passagem aos veículos de emergência e restabelecer os serviços de transporte público".
Porém, os manifestantes pró-democracia desafiaram a polícia e se mantiveram firmes no centro da cidade, um dos centros financeiros mundiais, num dos maiores desafios políticos para o governo chinês desde a repressão na Praça da Paz Celestial há 25 anos.
Os ativistas pró-democracia também controlam três cruzamentos vitais da cidade, onde moram mais de sete milhões de pessoas.
Mais de 200 linhas de ônibus foram suspensas ou desviadas, o tráfego de bondes estava afetado e várias estações de metrô permaneciam fechadas.
Além disso, várias escolas e empresas permaneceram fechadas, o que prejudica a atividade nesta importante praça financeira e econômica. Nesta segunda-feira, a Bolsa de Hong Kong fechou em baixa de 1,9% e analistas esperam volatilidade nos próximos dias.
De acordo com a rádio RTHK, 41 pessoas ficaram feridas durante os confrontos e foram hospitalizadas.
No total, 78 foram detidas por diversos motivos: perturbação da ordem pública, entrada ilegal em prédios do governo ou violência contra representantes da força pública.
DEMOCRACIA
Os manifestantes exigem que Pequim suspenda as restrições às eleições em Hong Kong, um território que goza de mais liberdades políticas que o restante do país, como a liberdade de expressão e de manifestação.
Hoje, o chefe do Executivo local é escolhido por um comitê formado por pessoas leais a Pequim. O atual chefe, Leung Chun-ying, foi eleito em 2012 com 689 votos de um total de apenas 1.200 eleitores. Em 2007, o Congresso chinês definiu que, na eleição de 2017, o líder de Hong Kong seria escolhido por sufrágio universal –uma pessoa, um voto.
Em agosto deste ano, porém, Pequim anunciou que, apesar do sufrágio universal, somente os candidatos aprovados por um comitê eleitoral terão seus nomes nas cédulas de votação. Para os ativistas, isso é inaceitável, pois os membros desse comitê serão apontados por Pequim.
Além dos estudantes, vanguarda da campanha de protestos, a ampliação do movimento também é resultado do trabalho da 'Occupy Central', a organização pró-democracia mais importante de Hong Kong.
A organização previa inicialmente ocupar a partir de 1 de outubro o bairro financeiro Central, mas como os acontecimentos mudaram rapidamente, decidiu convocar os simpatizantes para as ruas no domingo.
A expressão Occupy Central foi bloqueada domingo no Weibo, a versão chinesa do Twitter. Os protestos têm recebido pouca cobertura na China, a não ser para noticiar as condenações do governo às manifestações.
A imprensa estatal chinesa afirmou que as manifestações pró-democracia em Hong Kong, estimuladas por "extremistas políticos", estão "fadadas ao fracasso".
As autoridades chinesas censuraram nas redes sociais qualquer informação sobre as manifestações na ex-colônia britânica, incluindo as fotos no aplicativo Instagram.
REPERCUSSÃO
O Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido disse nesta segunda-feira que estava preocupado com a situação em Hong Kong.
"O Reino Unido, como um co-signatário da Declaração Conjunta Sino-Britânica, defende que a prosperidade e a segurança de Hong Kong são sustentados por seus direitos e liberdades fundamentais, incluindo o direito de se manifestar", disse em comunicado.
O presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, expressou pleno apoio aos manifestantes de Hong Kong e pediu ao governo de Pequim que "escute a voz do povo e adote medidas pacíficas e cautelosas para tratar o assunto".
Consulado Geral dos EUA em Hong Kong emitiu um comunicado pedindo para todos os lados "se abstenham de ações que possam escalar ainda mais as tensões".
Cerca de 200 trabalhadores da Swire, uma engarrafadora da Coca-Cola Company, entraram em greve em apoio aos manifestantes.
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