Caracas tem pior preço do óleo em 4 anos
Em mais um revés para as finanças do governo venezuelano, a cotação do barril de petróleo nacional atingiu sua marca mais baixa em quatro anos, fechando a semana em US$ 77,65 - US$ 5,07 a menos que na semana anterior.
A notícia aumenta a pressão sobre o presidente Nicolás Maduro, que depende quase exclusivamente do petróleo para quitar dívidas e manter programas sociais considerados indispensáveis por boa parte da população.
Maduro atribuiu a queda a uma "guerra econômica" e disse que o país está devidamente protegido, já que o orçamento de 2015 foi calculado com base num barril a US$ 60.
Mas a degringolada pode se acirrar, pois reflete tendência global de oferta em excesso e demanda desacelerada.
A Venezuela é um dos países mais vulneráveis porque o petróleo representa 96% de sua renda com exportações e porque o tipo de óleo que produz é mais barato, por ser pouco refinado.
"Nunca fomos tão dependentes do petróleo. Pior é que nossa preocupação com a situação não é compartilhada pelo setor energético", afirma o cientista político Gabriel Reyes. Ele se refere à fracassada tentativa, nesta semana, de a Venezuela convocar reunião emergencial da Opep, cartel de produtores, para debater os preços.
Dona da maior reserva mundial de óleo, a Venezuela usa o setor para bancar um sistema de redistribuição de renda criado em 1999 pelo então presidente Hugo Chávez.
A exportação da commodity também mantém o programa PetroCaribe, pelo qual Caracas envia óleo bruto subsidiado a governos aliados em troca de apoio político.
Nesta quinta-feira (16), a Venezuela foi eleita para ocupar pelos próximos dois anos uma das cadeiras rotativas do Conselho de Segurança da ONU, graças ao voto de 181 dos 193 países-membros.
"Mais do que nunca, esses países vão cobrar a Venezuela pelo apoio na ONU", diz Reyes.
ADVERSIDADE
As finanças do governo, porém, esbarram num cenário cada vez mais adverso.
Preços do petróleo vêm diminuindo há anos, em contraste com a bonança que beneficiou Caracas até 2009.
A queda atual é vista como intensificação do fenômeno, devido ao aumento da produção nos EUA, à política de ampla oferta imposta pela Arábia Saudita (maior produtor mundial) e à desaceleração global.
A produção venezuelana também está em declínio, devido ao aparelhamento do setor por chavistas e ao sucateamento gerado pela saída de petroleiras ocidentais, afugentadas por expropriações.
Em 1997, a Venezuela produzia 3,7 milhões de barris por dia, contra atuais 2,3 milhões barris.
Com menos divisas entrando, Maduro apertou o controle cambial, o que dificulta importações e acirra ainda mais a escassez de produtos básicos.
O economista Asdrúbal Oliveros cobra corte urgente dos gastos públicos, que atingem cerca de 50% da dívida em relação ao PIB. Mas ele minimiza temores de que a Venezuela caminha para um calote diante da queda dos títulos da dívida do país. "As reservas internacionais dão conta", afirma.
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