Cegueira, dor e outras sequelas assombram sobreviventes do ebola
Umaru Sesay, 12, sobreviveu ao ebola que matou seus pais e irmãos, mas perdeu a visão do olho esquerdo. Foi diversas vezes ao centro de saúde, mas ninguém conseguiu resolver seu problema. "Sempre me davam o mesmo colírio, e não adiantou nada."
A maioria dos sobreviventes do ebola convive com uma série de problemas crônicos que já são chamados de "síndrome pós-ebola".
Segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras, que tratou de 174 sobreviventes, 25% deles sofrem de uveíte, uma inflamação nos olhos que, se não for tratada, pode levar à cegueira. O médico americano Ian Crozier teve uveíte meses após ter sido curado do ebola e quase perdeu a visão. Seu olho mudou de cor –era azul e ficou verde– porque ainda estava tomado pelo vírus.
"Na África, o problema é mais sério, pois há pouquíssimos oftalmologistas e o custo é proibitivo para a maioria das famílias", diz Fran Miller, diretor do Médicos Sem Fronteiras em Serra Leoa. Uma clínica da ONG Save the Children na capital, Freetown, cuida desses casos.
Sobreviventes também sofrem com coceiras pelo corpo, dores de cabeça e nas articulações, erupções na pele e perda de audição. "Como é que essas pessoas podem voltar a ter vida normal se, além de terem perdido parentes, continuam com problemas de saúde?", pergunta Miller.
Sabe-se muito pouco sobre as sequelas da doença, porque nas epidemias anteriores eram poucos os infectados e a taxa de mortalidade chegava a 80%.
Emory Eye Center- 30.dez.2014/The New York Times | ||
Fotos mostram diferença entre os olhos de. Ian Crozier, que contraiu o vírus do ebola em Serra Leoa |
Mas estudos recentes mostram que o vírus pode sobreviver nos olhos e no esperma por muitos meses. Por isso, médicos recomendam que sobreviventes usem camisinha para evitar a transmissão do ebola por relações sexuais.
A doença sobrecarrega o sistema de saúde, já precário. A expectativa de vida em Serra Leoa é de 46 anos.
A jornalista PATRÍCIA CAMPOS MELLO viajou a convite da Plan International Brasil
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