Com Trump, "Saturday Night Live" tem a melhor audiência desde 2012
John Amis/Associated Press | ||
O pré-candidato à Presidência dos EUA Donald Trump, que apresentou o humorístico no último sábado |
O programa televisivo norte-americano "Saturday Night Live" alcançou no último sábado (7) os melhores níveis de audiência desde 2012 com a presença de Donald Trump, em meio a protestos da comunidade latina. Os dados são da consultoria Nielsen, que avaliou os 56 maiores mercados internos norte-americanos.
A última vez que o "SNL" teve índices semelhantes de audiência foi em janeiro de 2012, com a presença do ex-jogador de basquete Charles Barkley e da cantora Kelly Clarkson. Os números do país inteiro serão divulgados nesta quinta-feira (12).
A participação de Trump no tradicional humorístico aconteceu dias antes de mais um debate entre os pré-candidatos republicanos, que acontece nesta terça-feira (10), às 21h locais (meia-noite no horário de Brasília).
Organizações latinas protestaram contra a aparição de Trump na atração pelo mesmo motivo que a NBC interrompeu o contrato com o ex-apresentador de "Celebrity Apprentice" meses atrás: os comentários do pré-candidato republicano sobre a entrada de imigrantes ilegais mexicanos nos EUA.
O protesto ocasionou um dos melhores momentos do programa: Larry David gritando "você é um racista!" para Trump, numa referência à oferta de um grupo de defesa dos direitos dos latinos, que pagaria US$ 5 mil para quem importunasse o bilionário.
A aparição de Trump como anfitrião, apesar da decisão do canal de interromper o seu contrato, ressalta a autonomia do produtor-executivo do SNL Lorne Michaels e a capacidade de Trump de atrair audiência.
A despeito dos bons índices, o crítico James Poniewozik, do jornal The New York Times, escreveu que os telespectadores "foram punidos com um programa sem alegria e sem graça, que terminou com uma finalização que Trump e o elenco conduziram como se fosse um vídeo de reféns".
A conclusão do programa incitou uma crítica brutal também do crítico da Time, Daniel D'Addario, que usou a palavra "anódino" - um sinônimo rebuscado de "medíocre". "Esqueça os eleitores de Iowa", afirmou. "É difícil imaginar que esses 90 minutos transmitidos pela NBC tirem alguma reação de qualquer pessoa".
"Esse fiasco anêmico e pouco empenhado" pesou muito no programa, escreveu Hank Stuever, do Washington Post.
Embora não seja a primeira vez que o "Saturday Night Live" traga um anfitrião do mundo político, diversos críticos expressaram alarme em relação ao humorístico cooptar uma figura cuja sátira se prestaria melhor à distância.
Algumas das piadas foram direcionadas a Trump e sua imagem, mas ele afirmou ter tirado vantagem de sua prerrogativa de vetar materiais que ele considerasse ofensivo.
"O SNL se sente mais confortável de ser 'amigo de fraternidade' [grupos de estudantes nas universidades norte-americanas] dos políticos do que satiristas deles", disse Chris White, da revista Paste.
Quando Vanessa Bayer saiu do personagem e disse, rindo, que não queria estar em um esquete cujo humor estaria em Trump "tuitar" comentários grosseiros sobre os atores, o crítico do Post afirmou não sentir que se tratava de uma piada.
"Os redatores deixaram a peteca cair. Ou não quiseram brincar com ela em primeiro lugar", afirmou. "Quem os culparia? Eles nunca deveriam ter sido postos nessa posição".
Para o SNL, é uma oportunidade perdida. O programa frequentemente se regenera e tem agora um elenco relativamente jovem. Era a oportunidade de fisgar novos telespectadores.
Porém, o que é um erro no contexto de um programa de 40 anos? Os críticos podem não estar felizes, mas os contadores da NBC certamente estão, disse o analista de televisão Marc Berman.
"Isso não vai afetar negativamente o programa", afirmou Berman. "Fez com que todos voltassem a falar dele".
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