Decisão turca de abater jato russo é 'punhalada nas costas', diz Putin
Maxim Shipenkov/AFP | ||
Vladimir Putin é fotografado durante emncontro com o rei jordaniano, Abdullah 2º, em Sochi |
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que a decisão da Turquia de derrubar um jato militar russo perto da fronteira com a Síria nesta terça-feira (24) é "uma punhalada nas costas feita por cúmplices do terrorismo".
Durante encontro com o rei jordaniano, Abdullah 2º, na cidade de Sochi, Putin disse que o incidente deve trazer "consequências sérias" para as relações de Moscou com Ancara.
"Os eventos trágicos de hoje terão consequências significantes, inclusive sobre as relações entre Rússia e Turquia (...) Ao invés de entrar em contato conosco imediatamente, até onde sabemos, o lado turco imediatamente se virou para seus aliados da Otan (aliança militar ocidental), como se nós tivéssemos derrubado seu avião e não o contrário", afirmou o presidente.
A pedido da Turquia, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) realizará uma reunião de emergência nesta terça-feira para debater o incidente.
Putin aceitou as condolências do rei jordaniano pela morte de um piloto russo que foi morto por rebeldes sírios após se ejetar do avião abatido. Não se sabe o paradeiro do segundo tripulante do avião.
Após o ocorrido, o ministro das Relações Exteriores russo, Seguei Lavrov, cancelou a visita que faria à Turquia na quarta (25).
Avião russo é abatido e cai na Síria
O líder russo disse que o Su-24 foi abatido por um míssil disparado pela aviação turca na Síria, a cerca de 1 km da fronteira com a Turquia, e atingiu o solo a 4 quilômetros da fronteira.
"Nem nossos pilotos nem nosso jato ameaçaram o território da Turquia", disse Putin.
O governo da Turquia contradiz a versão russa, afirmando que o avião militar foi avisado várias vezes sobre a violação do espaço aéreo turco antes de ser derrubado.
Após o incidente, o governo da Tuquia convocou o embaixador russo em Ancara para esclarecimentos sobre as atividades militares da Rússia próximas à fronteira turco-síria.
EUA
O Exército americano respaldou as declarações turcas de que que afirmam que teriam advertido o caça russo dez vezes antes do abate.
"Nós podíamos escutar tudo que acontecia. Estas [comunicações] estavam em canais abertos", declarou Steve Warren, porta-voz do Pentágono.
"Posso confirmar isso, sim", completou, ao ser consultado especificamente sobre as dez advertências alegadas por Ancara.
Em entrevista coletiva conjunta, os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e da França, François Hollande, pediram que turcos e russos evitem uma escalada do conflito.
Na opinião de Obama, se isso acontecesse, seria "extremamente danoso". O americano, porém, disse que a Turquia tem o direito de se defender caso o avião militar russo tenha entrado realmente no espaço aéreo turco.
O Pentágono também informou que nenhuma força norte-americana esteve envolvida no incidente. Já o regime sírio, comandado pelo ditador Bashar al-Assad —aliado de Moscou— qualificou o incidente como uma "agressão flagrante à soberania Síria.
Uma fonte militar síria, citada pela agência de notícias oficial daquele país, SANA, afirmou que os turcos "abateram hoje às 9h23 (horário local) um avião russo amigo sobre o solo sírio, quando este regressava de uma missão de combate contra a organização terrorista Daesh (acrônimo em árabe para Estado Islâmico).
O episódio pode agravar ainda mais a crise na região. Forças russas atuam desde 30 de setembro na Síria em aliança com o ditador Bashar al-Assad para combater a facção extremista Estado Islâmico. Uma coalizão internacional, formada por França e Estados Unidos, também tem realizado ataques contra o EI, mas, ao contrário de Moscou, faz oposição ao governo de Assad.
O governo turco se opõe a Assad e vinha alertando a Rússia para não invadir seu espaço aéreo. Em outubro, a Otan, aliança militar ocidental da qual a Turquia faz parte, chegou a alertar que estava preparada para defender o território turco da ameaça provocada pela intervenção russa na Síria.
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