Rússia anuncia represálias econômicas contra Turquia por abate de avião
Avião russo é abatido e cai na Síria
O presidente russo, Vladimir Putin, firmou neste sábado (29) um decreto que prevê uma série de sanções econômicas contra a Turquia pela derrubada de um avião militar da Rússia por caças turcos sobre a fronteira síria.
As medidas, que "visam garantir a segurança nacional e dos cidadãos russos", incluem a suspensão dos voos fretados entre Rússia e Turquia, a proibição de empregar turcos em empresas russas, o restabelecimento de vistos entre os dois países e a interdição das importações de certas mercadorias, revela o texto publicado pelo Kremlin.
A partir de 1º de janeiro de 2016, os empregadores russos "não poderão contratar" cidadãos turcos, determina o decreto, que também restringe a atuação de empresas turcas no território russo.
O decreto prevê ainda "a proibição ou limitação (...) das importações de certos tipos de mercadorias provenientes da República da Turquia", que constarão de uma lista a ser publicada no futuro.
Segundo a imprensa oficial, Putin determinou a funcionários do governo que também elaborem uma lista de bens e serviços para integrar as sanções.
As relações entre os dois países estão abaladas desde a derrubada de um avião militar russo pela aviação turca sobre a fronteira com a Síria.
Na sexta-feira (27), a Rússia anunciou que exigirá visto para os cidadãos turcos a partir de 1º de janeiro. O anúncio ocorreu um dia após Moscou realizar um apelo aos cidadãos russos na Turquia para que regressem ao país deviso à "atual ameaça terrorista".
A Turquia recomendou neste sábado a seus cidadãos que adiem qualquer viagem não urgente à Rússia.
A recomendação foi feita em função das "dificuldades que estão encontrando os cidadãos turcos que viajam ou residem" na Rússia e estará em vigor "até que a situação se esclareça", afirmou o ministério das Relações Exteriores em um comunicado.
CRISE
Na crise bilateral foi deflagrada na terça-feira (24), quando um caça-bombardeiro russo Su-24 foi derrubado por caças F-16 turcos perto da fronteira síria.
O aparelho voltava de uma missão de combate no noroeste da Síria. A Turquia afirma que o avião entrou em seu espaço aéreo e que recebeu "dez advertências em cinco minutos". Moscou garante, porém, que o Su-24 sobrevoava o território sírio e que não recebeu qualquer advertência antes de ser abatido.
Um piloto morreu, e o segundo foi resgatado após uma operação especial realizada de forma conjunta pelas forças especiais russas e sírias. Na operação de resgate, um soldado russo morreu. Essas são as primeiras perdas oficiais para o Exército russo desde o início da intervenção na Síria em 30 de setembro.
Desde o incidente, Moscou acusa a Turquia de ter vínculos com o grupo Estado Islâmico (EI) e exige desculpas.
REALMENTE TRISTES
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, expressou arrependimento neste sábado (28) e disse que está "realmente triste" e lamenta a derrubada do avião militar russo pela Turquia na terça-feira (24).
"Estamos verdadeiramente tristes com esse incidente", disse Erdogan. "Queríamos que não tivesse acontecido, mas infelizmente coisa aconteceu. Espero que algo assim não volte a ocorrer", completou.
Foi a primeira expressão de pesar do líder turco, que justificou a ação afirmando que a aeronave teria invadido seu espaço aéreo na região de fronteira com a Síria.
O Exército da Turquia disse ter alertado o avião dez vezes em um período de cinco minutos sobre a violação do espaço aéreo antes de seus caças F-16 o abaterem. "Se nós permitirmos que nossos direitos soberanos sejam violados, então aquela área [invadida] já não seria nosso território", disse Erdogan.
Ele ainda renovou o convite para conversar "cara a cara" com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante a Conferência do Clima das Nações Unidas, COP-21. De acordo com o turco, seria uma oportunidade para superar as tensões.
Putin já havia rejeitado o convite, alegando que a Turquia não queria pedir desculpas pelo incidente. O russo considerou o ataque à aeronave "uma punhalada nas costas feita por cúmplices de terroristas".
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis