Iowa mostra que Hillary terá dura batalha por apoio democrata
A dificuldade que Hillary Clinton encontrou em Iowa para bater o rival Bernie Sanders, que se descreve como socialista democrático, despertou novamente as questões sobre sua capacidade de garantir o apoio dos eleitores democratas e renovou a pressão quanto à sua candidatura chapa branca à Presidência.
A favorita à indicação presidencial democrata, que em 2008 viu sua campanha sair dos trilhos ao ser derrotada por Barack Obama em Iowa, sofreu novo revés nesta segunda-feira (1º) no Estado da região centro-oeste no qual começa a corrida presidencial de 2016.
Hillary, 68, que foi secretária de Estado de Obama, terminou o caucus virtualmente empatada com Sanders, 74, senador por Vermont.
A próxima primária acontece em New Hampshire, no próximo dia 9.
Sanders vêm liderando nas pesquisas de opinião pública do Estado e tem vantagem lá porque New Hampshire fica ao lado de Vermont, o Estado que ele representa no Senado. Uma derrota de Hillary faria com que surgissem os primeiros sinais de alerta entre seus partidários.
"Ela vem contando com todas as vantagens estruturais e organizacionais, e Sanders ainda assim conseguiu um empate", disse Dan Schnur, diretor do Instituto Jesse M. Unruh de Política, na Universidade do Sul da Califórnia.
"Estamos assistindo a um retorno passo a passo das primárias de 2008", disse Schnur. "A diferença é que a oposição que ela enfrenta desta vez não é tão dura".
Em seu comício pós-primária, Hillary insistiu no fato de que ela era a candidata capaz de unificar o partido e derrotar no rival republicano na eleição presidencial de 8 de novembro, mas a sensação de decepção era palpável.
O discurso, contido, de seis minutos, que ela fez contrastou com o tom entusiástico de Sanders, que falou por 16 minutos.
ABANDONO DE PLANOS
Sem vitória clara a anunciar, a campanha de Hillary abandonou o plano de colocar o marido da candidata, o ex-presidente Bill Clinton, e a filha do casal, Chelsea, no microfone para apresentá-la.
Em lugar disso, os dois ficaram ao lado de Hillary –com Bill Clinton usando seu broche de campanha de cabeça para baixo.
Os assessores de Hillary retiraram o ponto eletrônico do palanque no último minuto, disseram partidários da candidata na Universidade Drake à Reuters, em mais uma indicação de mudança de planos pouco antes do discurso.
Embora a disputa em Iowa viesse se tornando mais acirrada nas últimas semanas, os assessores de Hillary pareciam confiar em uma pesquisa do jornal "Des Moines Register" e da Bloomberg que, no final de semana, a mostrava três pontos à frente do rival entre os eleitores que provavelmente participariam do caucus.
Nas primeiras horas da manhã desta terça-feira (2), a distância entre Hillary e Sanders era de menos de um ponto percentual.
Larry W. Smith - 1º.fev.2016/Efe | ||
Bernie Sanders fala a simpatizantes em Des Moines, Iowa |
A disputa era tão acirrada que diversos distritos tiveram de seguir uma recomendação do Partido Democrata no Estado e decidir no cara ou coroa se Hillary ou Sanders tinha a maioria dos votos –e com isso um delegado a mais na convenção presidencial democrata.
A rede de notícias MSNBC terminou por anunciar vitória de Hillary perto das 3h, e o diretor da campanha dela no Estado, Matt Paul, divulgou um comunicado declarando vitória "inequívoca".
Pesquisas de opinião pública continuam a mostrar que Hillary desperta menos entusiasmo do que Sanders e do que os rivais republicanos, cuja disputa atraiu participação recorde do eleitorado de Iowa.
Os eleitores têm dúvidas persistentes sobre sua honestidade e confiabilidade, depois de meses de controvérsia sobre o uso que ela fez de um servidor privado de e-mail para funções de governo quando era secretária de Estado.
Sanders, que lançou sua campanha nove meses atrás com uma pequena entrevista coletiva no Congresso à qual poucos jornalistas compareceram, empolgou os ativistas mais progressistas com sua mensagem de rejeição à elite e apelos pela erradicação da desigualdade de renda, pelo desmonte dos grandes bancos e pelo ensino superior gratuito.
UM MOVIMENTO POPULAR
Iowa é um bom Estado para testar essa mensagem, dadas as inclinações progressistas dos ativistas democratas que dominam o processo de primárias. Pesquisas de boca de urna com os votantes em Iowa demonstram que 68% deles se descrevem como muito ou um tanto progressistas.
Os números sobre arrecadação de verbas de campanha reportados no domingo por Sanders demonstram o quanto sua campanha se transformou em um movimento popular.
Hillary arrecadou mais do que ele –sua campanha obteve US$ 109 milhões em doações no ano passado ante os US$ 73,5 milhões de Sanders. Mas 75% do total obtido pelo senador veio de doações de US$ 200 ou menos, ante apenas 18% no caso de Hillary, e proporção muito maior dos doadores dela atingiu o limite legal de US$ 2,7 mil em doação de campanha.
Ainda assim, Sanders enfrentará desafios significativos quando a disputa pela indicação democrata se transferir a Estados mais diversificados –como Nevada e Carolina do Sul– antes de chegar a 11 Estados em uma mesma noite na "Super Terça-Feira" de 1º de março, entre os quais sete no sul, onde a vantagem de Hillary entre os eleitores negros pode começar a se manifestar.
"Iowa é um Estado feito para Bernie Sanders", disse o estrategista democrata Joe Trippi, que afirmou, mesmo assim, que o forte desempenho do candidato significava que "a disputa durará mais do que Hillary desejaria".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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