Italianos vão às urnas neste domingo para decidir mudanças na Constituição
Andreas Solaro/AFP | ||
A prefeita de Roma, Virginia Raggi, vota no referendo italiano neste domingo (4) |
Cerca de 46 milhões de italianos vão às urnas neste domingo (30) para votar uma controversa reforma constitucional proposta pelo premiê Matteo Renzi, cujo resultado pode forçar sua renúncia e afetar a estabilidade da União Europeia.
Os colégios eleitorais italianos abriram às 7h (4h pelo horário de Brasília) e a votação segue até 23h (20h, horário de Brasília).
Mais de quatro milhões de italianos que vivem no exterior, incluindo 650 mil na Argentina, tiveram até quinta-feira (1º) para votar –e suas escolhas podem ser decisivas se o resultado estiver muito apertado.
As primeiras estimativas de boca de urna serão anunciadas logo após o término da votação, e os resultados oficiais devem sair ao longo da noite.
A expectativa é que a população rejeite a proposta, que infla o poder central e esvazia os regionais. As últimas sondagens publicadas –15 dias antes da votação– apontaram uma vantagem do "não" de 5 a 8 pontos, mas muitos eleitores ainda estavam indecisos sobre seu voto.
Com 47 alterações sugeridas, é a maior proposta de mudança do texto desde o fim da Segunda Guerra (1939-1945).
Uma das mudanças mais sensíveis é a redução do Senado, em tamanho e funções. O número de senadores diminuiria de 315 para 110, e a Casa não poderia mais, por exemplo, dissolver um governo ou aprovar leis –exceto em casos como modificações na Constituição, nas leis eleitorais e nos órgãos oficiais.
Segundo Renzi, o objetivo é facilitar a governança e acelerar o processo legislativo.
O premiê, que não perdeu a oportunidade de defender a reforma em todos os meios de comunicação possíveis, considera que o referendo é um "passo histórico" para modernizar a Itália.
A maioria dos políticos italianos, da extrema esquerda a extrema direita, é contrária à reforma que, segundo eles, dá muito poder ao chefe de governo.
"Se o 'sim' ganhar, haverá uma ditadura e será melhor deixar o país", disse o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, 80, que voltou inesperadamente para a arena da política, apesar de sua idade e seu delicado estado de saúde.
Especialistas na Constituição consideram a reforma "um retrocesso democrático", de caráter "autoritário".
INSTABILIDADE
A votação acabou se convertendo em um plebiscito sobre o próprio primeiro ministro, do Partido Democrático (PD), no poder desde 2014.
A derrota pode ser interpretada como uma rejeição ao governo, cuja popularidade tem diminuído.
As incertezas sobre o resultado geram nervosismo em toda a Europa e especialmente nos mercados, que temem um novo período de instabilidade na terceira economia da zona euro.
Renzi chegou a ameaçar renunciar se o "não" vencer, mas amenizou recentemente suas declarações. A saída do premiê abriria espaço para partidos populistas e avessos à União Europeia, como o Cinco Estrelas (M5S).
Líder do M5S e rival direto de Renzi, o comediante Beppe Grillo tornou-se uma espécie de porta-voz daqueles que se opõem à reforma. Grillo disse que pedirá antecipação das eleições caso o "não" ganhe.
"Ganhar ou perder dá no mesmo, o país está dividido ao meio", disse.
REJEIÇÃO
Muitos eleitores rejeitam a forma como Renzi quer mexer na Constituição. O texto foi escrito em 1948 após a Segunda Guerra Mundial e os vinte anos de governo fascista, e visava impedir a ascensão de outro ditador como Benito Mussolini.
"Votei um 'não' claro", disse à agência AFP Fernando Angelaccio, 77, depois de votar em Roma. "Não se mexe na Constituição. Renzi só quer mais poderes, a sua prioridade é salvar os bancos, não aos aposentados", acrescentou.
Antonio, 84, votou entusiasmado pelo 'sim'."Faz 40 anos que esperamos uma reforma e ninguém fez nada. Precisamos de um governo que tenha votos suficientes, que possa durar cinco anos, só então vamos mudar."
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