Ofensiva econômica de Pequim contém protestos nas Filipinas

DO "FINANCIAL TIMES"

Uma ofensiva econômica sedutora da China abafou protestos nas Filipinas por águas disputadas no mar do Sul da China, admitiu um importante ministro do governo em Manila, a capital filipina.

O governo filipino está dando maior prioridade às exportações de frutas, investimentos em infraestrutura e um potencial empréstimo de US$ 500 milhões, com baixas taxas de juros, para a compra de armas do que a suas preocupações sobre o avanço territorial de Pequim, disse o secretário da Defesa, Delfin Lorenzana.

Os comentários salientam como a China tem usado seu poder financeiro com líderes regionais receptivos como Rodrigo Duterte, o presidente das Filipinas, para reforçar seu controle de águas contestadas de importância estratégica.

Enquanto Lorenzana falava de seus temores sobre atividades "soturnas" da China ao largo do litoral de seu país —uma antiga pendência estratégica filipina—, ele fez eco a Duterte e perguntou: "O que podemos fazer? Realmente, o que podemos fazer?"

E acrescentou: "Bem, talvez simplesmente aproveitar o que pudermos obter dos chineses —e talvez para nossos militares, usando qualquer coisa que eles possam nos dar".

A estratégia mais ambígua de Manila é considerada arriscada por alguns, num momento em que a política dos EUA na região e em relação à China é incerta.

O presidente Donald Trump deverá se encontrar com o presidente chinês, Xi Jinping, na próxima semana. Manila e Pequim deverão realizar negociações sobre sua contínua disputa marítima em maio.

"Duterte ainda está preso à ofensiva sedutora chinesa baseada no comércio, enquanto cresce a pressão sobre as realidades da presença militar da China no mar do Sul da China. Se ele não identificar sérias preocupações sobre a assertividade chinesa, Pequim seria perdoada por acreditar que não há linhas vermelhas a cruzar com Manila", disse Eufracia Taylor, analista para a Ásia na consultoria Verisk Maplecroft.

Explicando o interesse econômico de seu país por forjar laços econômicos mais estreitos com a China, Lorenzana disse que melhores relações com Pequim poderiam facilitar um empréstimo chinês para a compra de "barcos e drones mais rápidos, talvez —e alguns rifles, os rifles de precisão mais novos do mercado".

Manila também não quis ameaçar o planejado investimento em estradas e ferrovias da China, disse ele, ou a medida adotada por Pequim no ano passado de derrubar tarifas às importações da enorme indústria de bananas das Filipinas.

"Hoje não conseguimos produzir bananas suficientes para fornecer à China", disse ele. "Não conseguimos produzir abacaxis suficientes para abastecê-los —e eles querem mais. Segundo os chineses, eles disseram [a Duterte] que qualquer produto que produzirmos eles comprarão."

Apesar do entusiasmo por laços econômicos reforçados, Lorenzana confirmou as preocupações sobre as atividades chinesas nos baixios de Scarborough, uma elevação rochosa no mar a 200 km a oeste de Manila, ocupada por Pequim em 2012.

Em consequência da apropriação, os filipinos abriram um processo contra Pequim no Tribunal Internacional de Haia, que no ano passado emitiu uma forte rejeição à reivindicação de Pequim de 90% do mar do Sul da China.

Duterte, que assumiu a Presidência em junho de 2016, descreveu o julgamento como "apenas um pedaço de papel com quatro cantos".

Lorenzana disse que continua "muito preocupado" sobre as atividades de navios da guarda costeira chinesa perto dos baixios, acrescentando que Pequim repeliu várias queixas diplomáticas de Manila.

Outras tensões surgiram sobre a visita de um navio de pesquisa chinês em torno do território de Benham Rise, controlado pelos filipinos, mas Lorenzana disse que não ficou claro se o navio entrou na zona econômica exclusiva de seu país. Ele afirmou que o navio havia cruzado em várias direções uma área de aproximadamente 100 km², o que parece contradizer a alegação da China de que estava apenas de passagem.

Enrique Manalo, secretário das Relações Exteriores em exercício das Filipinas, disse na semana passada que seu país já negou vários pedidos chineses para pesquisar Benham Rise, uma possível prospecção de gás e petróleo. Manila disse que só concordaria se um cientista filipino pudesse acompanhar a missão, mas a China recusou.

Segundo Lorenzana, os filipinos poderiam tomar medidas mais firmes contra a China se ela começar a perfurar de modo unilateral em busca de petróleo ou gás em águas disputadas, mas reconheceu que talvez então seja "tarde demais" para detê-los.

"Talvez o presidente [Duterte] tenha algum plano em mente e não esteja nos dizendo", afirmou.

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