Análise
Obra de Helmut Kohl vai muito além da Alemanha
Tratar Helmut Kohl como arquiteto da reunificação alemã é a mais pura verdade, mas é apenas a ponta de um iceberg imensamente maior.
O chanceler que ficou mais tempo no poder na Alemanha (na Ocidental primeiro e na unificada depois) foi também o arquiteto da unidade europeia e, por extensão, da liberdade e da paz em um continente que, até a metade do século passado, era palco de confrontos bélicos de dimensões apocalípticas.
Até a queda do Muro de Berlim (9 de novembro de 1989), Kohl era uma figura relativamente modesta, menor se comparado, por exemplo, a Bismarck, pioneiro nos processo de unificação da Alemanha no século 19, e a Konrad Adenauer, que conduziu a recuperação de um país que ficara sepultado nos escombros da 2ª Guerra Mundial.
Ao cair o Muro, no entanto, agigantou-se. Em menos de um ano, incorporou de forma praticamente indolor os seis länder (Estados) que estavam na Alemanha Oriental. E conseguiu fazê-lo principalmente pela ousadia de desafiar a ortodoxia econômica e definir valor igual para o marco oriental e o ocidental, quando este valia pelo menos três vezes mais.
Só assim, os antigos alemães orientais não tiveram seu poder de compra achatado, o que tenderia a provocar instabilidade na Alemanha reunificada e alguma nostalgia do comunismo abandonado.
Essa nova Alemanha despertava receios na Europa, ainda traumatizada pela devastação provocada pela guerra de que a Alemanha era a grande culpada.
Para afastar esses receios e ancorar o país ainda mais solidamente na Europa, Kohl promoveu uma aliança com a França, a segunda maior potência europeia, formando um eixo que foi essencial para a consolidação da Comunidade Europeia, logo transformada em União Europeia, cada vez mais ampliada.
É razoável, por isso, dizer, como fez para a edição online de "El País" seu colunista Lluís Bassets.
"Kohl é também o chanceler da unidade e da liberdade europeias, o político do salto para a frente europeu a partir da unificação alemã e que levou à criação da moeda comum, à ampliação das fronteiras europeias até os confins da Rússia, com a entrada de 28 membros e à consolidação da maior zona de respeito aos direitos humanos e das liberdades, da estabilidade, segurança e prosperidade de toda a história".
Em outras palavras, Helmut Kohl foi de fato um extraordinário arquiteto, mas sua obra ultrapassou, de muito, as fronteiras de sua Alemanha.
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