Trump demite seu diretor de comunicação depois de dez dias
Pablo Martinez Monsivais/Associated Press | ||
O diretor de comunicação da Casa Branca, Anthony Scaramucci, fala a jornalistas, em Washington |
"Não há caos na Casa Branca", escreveu o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em uma rede social na manhã desta sexta-feira (31). Poucas horas depois, o jornal "The New York Times" anunciava que Anthony Scaramucci, o financista de Wall Street que assumira há dez dias o comando da área de comunicação do governo, estava deixando o cargo.
"Caos" é a palavra que mais se lê e se ouve na mídia americana sobre a gestão de Trump. A segunda, possivelmente, é "drama". E não se trata de "fake news" (notícias falsas, como alardeia o presidente). O republicano parece ser um daqueles casos em que a pessoa insiste em puxar seu próprio tapete.
Para ficar nos episódios que cercaram a meteórica ascensão e queda de Scaramucci, tudo começou em maio, quando Mike Dubke deixou o posto de diretor de comunicação e não foi substituído. O então porta-voz, Sean Spicer, que respondia ao diretor, acabou acumulando as funções.
Personagem folclórico, com seus tumultuados "briefings" para a imprensa, Spicer logo começou a ser fritado pela Casa Branca. Rumores sobre sua possível substituição pipocaram na imprensa diariamente.
No dia 21 de julho, Trump decidiu, enfim, convidar Scaramucci para a chefiar a comunicação. O empresário de 53 anos não tinha nenhuma experiência prévia na administração pública e nunca atuara na área para a qual estava sendo nomeado.
Temperamental como o chefe, já financiara o democrata Barack Obama e criticara o republicano até apoiá-lo.
JARED E IVANKA
A indicação teve o apoio do casal Jared Kushner, o genro, e Ivanka Trump, a filha, ambos assessores presidenciais, que se viam em rota de colisão com o então chefe de gabinete Reince Priebus, também desafeto de Scaramucci.
Respondendo diretamente à Casa Branca, o novo diretor correspondeu às expectativas do círculo familiar: além de provocar a renúncia de Spicer, derrubou Priebus, depois de insinuar que ele vazara informações do governo.
Na sexta (28), Trump indicou o general John Kelly, então secretário de Segurança Doméstica, para chefiar seu gabinete (cargo similar ao de ministro-chefe da Casa Civil).
Pouco antes, na noite de quarta (26), Scaramucci telefonara para Ryan Lizza, jornalista da revista "The New Yorker" e comentarista da CNN, para interpelá-lo sobre quem vazara a informação sobre um almoço sigiloso na Casa Branca que ele, Lizza, citara em um canal na internet.
A conversa, sobre a qual Scaramucci não pediu sigilo, foi publicada –e bateu o recordes de leitura on-line da revista. Durante a ligação, o ex-diretor ameaçou demitir todos seus colaboradores e lançou impropérios contra assessores da presidência.
Disse que Priebus era um "puta paranoico esquizofrênico" e afirmou que não era como Stephen Bannon, o estrategista-chefe, que só se interessava em promover a própria reputação e tentava (aqui em versão suavizada) "fazer sexo oral consigo mesmo".
A vice-porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, disse que Trump considerou "inapropriadas" as declarações de Scaramucci e que afastá-lo daria ao chefe de gabinete a chance de montar sua própria equipe. Por ora, segundo ela, não há planos para que o ex-diretor ocupe outro cargo no governo.
Kelly, na realidade, teria exigido a demissão do diretor de comunicação. E solicitou que todos os assessores respondessem a ele.
Um jornalista perguntou a Sanders se Kushner e Ivanka também se submeteriam à hierarquia. "Isso inclui todos na Casa Branca", respondeu ela, tentando dar alguma aparência de ordem ao caos.
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