Independência da Catalunha prejudicaria comércio com Brasil
Parte do interesse catalão em se separar da Espanha tem a ver com o bolso.
Essa região, que tem Barcelona como capital, produz o equivalente a 20% do PIB espanhol, que é hoje de US$ 1,2 trilhão. A pujança, reflexo de sua forte indústria e de seu turismo, dá força à tese de que a Catalunha seria mais próspera sozinha.
Mas esse dificilmente seria o caso no curto prazo, no cenário improvável de independência depois do voto, que foi considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional.
A Catalunha teria de deixar a União Europeia e, se quisesse voltar a esse bloco econômico, ir ao fim da fila.
Era ao menos o roteiro previsto para a Escócia, que votou sobre sua separação do Reino Unido em 2014, quando venceu o voto "não".
Fora da União Europeia, a Catalunha perderia todas as vantagens da livre circulação de mercadorias e enfrentaria barreiras à sua exportação para os países europeus.
Mesmo suas relações com o Brasil seriam afetadas.
"A Catalunha seria menos atrativa a investidores brasileiros", diz à Folha Francisco Arbós, diretor da Câmara de Comércio Brasil-Catalunha. Principalmente se, como tem sido negociado nos últimos anos, a União Europeia finalmente assinasse um tratado de livre comércio com o Mercosul -e a Catalunha ficasse de fora do acordo.
A Catalunha exportou ao Brasil em 2016 o equivalente a € 539 milhões, principalmente em maquinaria e farmacêuticos. O valor corresponde a 24% das exportações espanholas ao Brasil.
No sentido inverso, a região catalã importou do Brasil, também em 2016, o equivalente a € 937 milhões. Soja e café são os principais produtos.
RISCO
A preocupação com a questão catalã fez com que o Banco da Espanha emitisse recentemente nota alertando para os riscos ao crescimento do país, que se recupera da severa crise global de 2008.
O PIB (produto interno bruto) espanhol cresceu 3,2% em 2016, mas o desemprego ainda é alto: 17,6%.
A opinião do banco foi reforçada pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, que na sexta-feira (29) disse que as tensões entre Madri e Barcelona em torno do plebiscito de independência podem afetar a confiança dos investidores. A agência alertou também que o crescimento da economia poderia ficar debilitado.
A classificação espanhola foi mantida, porém, no nível BBB+. A nota do Brasil é BB, abaixo na escala.
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