Foto adulterada causa confusão sobre encontro com Tillerson
Escritório do Presidente do Afeganistão/NYT | ||
Imagem divulgada pelo Departamento de Estado dos EUA |
Departamento de Estado dos EUA/NYT | ||
Imagem divulgada pelo escritório do Presidente do Afeganistão |
Era Cabul e não era Cabul. Havia um relógio e não havia um relógio.
Pouco depois que uma visita secreta de duas horas ao Afeganistão pelo secretário de estado norte-americano Rex Tillerson foi revelada, na segunda-feira (23), a Embaixada dos Estados Unidos e o gabinete do presidente afegão Ashraf Ghani divulgaram comunicados sobre a produtiva reunião que havia acontecido em Cabul.
O problema é que a reunião não aconteceu em Cabul, mas em uma sala sem janelas em Bagram, uma base militar norte-americana pesadamente fortificada a 90 minutos de carro da capital afegã.
A manobra de desinformação, cujo objetivo aparente era o de obscurecer o local verdadeiro da reunião, foi exposta por discrepâncias entre fotos semelhantes do encontro divulgadas pelos norte-americanos e pelos afegãos.
As duas fotos mostram Tillerson e Ghani sentados na cabeceira da sala, com dois gigantescos telões por trás deles. Na mesinha de centro, entre eles, há uma garrafa térmica, duas canecas e garrafas de água mineral. As delegações estão sentadas uma diante da outra.
Mas a versão divulgada pelo gabinete de Ghani apagou o grande relógio digital mostrando o "Zulu time" —jargão militar dos Estados Unidos para o Tempo Universal Coordenado— e um alarme de incêndio vermelho por trás de Tillerson e Ghani, o que revelaria que o encontro aconteceu em uma base militar norte-americana.
U.S. State Department/The New York Times | ||
Na foto divulgada pelo gabinete do presidente afegão, relógio e alarme de incêndio foram apagados |
O gabinete de Ghani não respondeu imediatamente a perguntas sobre os motivos para que a versão da foto divulgada pelos afegãos fosse diferente.
Tillerson e sua equipe, que viajaram ao Iraque depois da passagem pelo Afeganistão, não responderam de imediato a perguntas sobre a discrepância, na manhã de segunda-feira.
"Não há questão de que a foto foi manipulada", disse Hany Farid, especialista em fotografia forense e professor de ciência da computação no Dartmouth College.
Farid disse que o método de alteração provavelmente foi o software de edição de imagens Photoshop, que pode eliminar objetos e preencher o espaço que fica vazio. Mas a alteração em questão era facilmente detectável.
O fio elétrico que corre pela parede para acionar o relógio e o alarme de incêndio não foi completamente encoberto na versão alterada; ele parece desaparecer na parede.
As preocupações de segurança quanto à visita de um funcionário tão importante quanto Tillerson são justificadas, devido aos avanços do Taleban.
No mês passado, mais de 50 foguetes foram disparados contra o aeroporto de Cabul e a região vizinha durante uma visita do secretário de defesa norte-americano James Mattis.
Mas muitos afegãos veem a foto alterada da visita de Tillerson como prova de um esforço de seu governo para distorcer os fatos e oferecer uma narrativa positiva, tanto aos parceiros internacionais do Afeganistão quanto aos cidadãos do país.
Embora a manipulação de fotos possa ser novidade, o governo afegão já distorceu fatos no passado.
Em pelo menos uma ocasião, quando o Taleban ocupou o centro de um distrito, o governo transferiu a sede administrativa do distrito para outro local, a fim de poder afirmar que "não, o distrito não caiu".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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