Após crise catalã, popularidade do premiê da Espanha patina

Confronto acelerou perda de apoio de Mariano Rajoy, pressionado a antecipar eleição

O primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, participa de reunião de gabinete em Madri nesta quinta-feira (8)
O primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, participa de reunião de gabinete em Madri nesta quinta-feira (8) - Juan Medina - 8.fev.2018/REUTERS
Madri

Desde sua eleição em 2011, o premiê espanhol, Mariano Rajoy, sobreviveu à impopularidade de sua política de austeridade e a denúncias de corrupção contra seu Partido Popular. O conservador superou uma sucessão real em 2014 e o fim do bipartidarismo prevalente em 2015.

A crise separatista na Catalunha, porém, impõe um desafio inédito à sua liderança. Adversários sugerem que Rajoy antecipe as eleições de 2020, e aliados se afastam.

Pesquisa publicada no dia 5 pelo instituto CIS aponta que o PP tem 26,3% das intenções de voto, uma queda de quase sete pontos percentuais em 18 meses (foram ouvidas 2.477 pessoas de 2 a 14 de janeiro e a margem de erro é de dois pontos percentuais).

É o segundo pior resultado do partido em duas décadas, com a exceção de 2015, quando novos partidos ascenderam na eleição e o PP ficou com 25,6%. Um deles foi o Cidadãos, de centro-direita, que desde então atrai eleitores de Rajoy— a pesquisa do CIS sugere que 15% dos eleitores do PP fizeram a troca.

"O PP deve estar bastante preocupado, porque as bandeiras tradicionais do partido, como a unidade territorial espanhola, têm sido tomadas pelo Cidadãos", diz à Folha Marta Romero, analista do centro de estudos Fundação Alternativas. "O momento é de algum nervosismo, sinalizando que sua estratégia pode ter chegado ao limite."

 

CORRUPÇÃO

O PP foi desgastado nos últimos anos por escândalos de corrupção. O principal deles é o caso Gürtel, envolvendo um esquema de financiamento ilegal do partido e a cobrança de comissões em troca de contratos público, um cenário que lembra o investigado pela Lava Jato no Brasil.

As investigações foram iniciadas em 2007 e continuam. Dos quase 40 suspeitos, três foram tesoureiros do PP e um foi ministro da Saúde.

O partido de Rajoy também é prejudicado por sua gestão da crise catalã. Para analistas, o premiê tardou em lidar com o separatismo e, quando tentou impedir o plebiscito de 1° de outubro enviando as forças de segurança a Barcelona, teve a reputação manchada pelas fotos de confrontos entre eleitores e policiais.

Autoridades catalãs estimam que 900 pessoas tenham sido feridas, o que Madri nega. Rajoy também foi criticado por ter dissolvido o governo catalão e convocado eleições regionais.

Em paralelo, o Cidadãos foi bem avaliado na crise separatista. Um de seus trunfos é que o líder do partido, Albert Rivera, é catalão e pôde tratar do tema com o entusiasmo que faltava a Rajoy.

O Cidadãos foi o partido mais votado nas eleições regionais catalãs de 21 de dezembro, superando as siglas independentistas. O PP, por sua vez, teve resultado fraco na Catalunha, tendo eleito apenas 4 dos 135 deputados.

"Parte do PP está satisfeita, mas outra porção avalia que a estratégia de Rajoy na Catalunha não teve efeito eleitoral positivo", diz Romero. "Já o Cidadãos, que tem um projeto político mais claro, capitalizou melhor."

Ainda que Rajoy estanque a perda de apoio do Partido Popular, é cada vez menos provável que ele mantenha a liderança do país em um terceiro mandato. A vice-primeira-ministra, Soraya Sáenz de Santamaría, e o presidente da região da Galícia, Alberto Núñez Feijóo, são cotados em uma eventual substituição.

Feijóo, que já faltou a uma reunião convocada por Rajoy, recentemente sugeriu que o adversário convoque eleições antecipadas caso não consiga aprovar o Orçamento.

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