Congresso do Peru abre novo processo de destituição contra o presidente

Pedro Pablo Kuczynski  é acusado de ter mentido sobre sua ligação com a Odebrecht

Lima | Reuters e Associated Press

O Congresso do Peru aprovou nesta quinta-feira (15) a abertura do segundo pedido de destituição contra o presidente Pedro Pablo Kuczynski por ele ter mentido sobre suas relações com a construtora brasileira Odebrecht.

O mandatário de centro-direita é acusado de receber mais de US$ 5 milhões por supostos serviços de consultoria entre 2004 e 2013 e outros US$ 300 mil em caixa dois para sua campanha na eleição presidencial de 2011, na qual terminou em terceiro lugar.

O presidente peruano Pedro Pablo Kuczynski após um encontro com o chileno Sebastián Piñera em Santiago
O presidente peruano Pedro Pablo Kuczynski após um encontro com o chileno Sebastián Piñera em Santiago - Jorge Villegas - 10.mar.2018/Xinhua

A moção de vacância do cargo, a segunda em três meses, foi aprovada por 87 votos a favor --o equivalente a dois terços dos 130 membros da Casa unicameral-- 15 votos contrários e 15 abstenções.

Se for mantido o mesmo placar na segunda votação, cuja data ainda não foi marcada, ele não se livraria de deixar a Presidência, salvo por um acordo, como fez na moção votada em dezembro.

Na ocasião, Kuczynski recebeu o apoio de uma dissidência da opositora Força Popular, de apoiadores de Alberto Fujimori. A sigla é liderada por Keiko, filha mais velha do ex-autocrata que perdeu a eleição de 2016 para o atual presidente com uma diferença de 50 mil votos.

Para se livrar da queda, ele negociou diretamente com Kenji Fujimori, irmão mais novo e adversário de Keiko, cujo grupo se absteve na votação. Com isso, a votação terminou com 79 votos a favor, sete a menos que o necessário para declarar a vacância, 19 contra e 21 abstenções.

O presidente retribuiria o gesto dias depois, com o indulto a Fujimori, que era pedido pela família. O ex-mandatário cumpria uma pena de 25 anos de prisão devido a condenações de corrupção e crimes contra a humanidade no seu regime (1990-2000).

Nesta sexta (16), Kuczynski prestou depoimento à comissão do Congresso sobre os desdobramentos da Operação Lava Jato no Peru. Ao sair, disse ter respondido todas as perguntas dos legisladores e voltou a negar o recebimento do dinheiro.

"Estou disposto a colaborar com as investigações com a plena convicção de que não cometi atos indevidos durante meu exercício profissional, nem antes, nem agora."

Por outro lado, o deputado opositor Victor Andrés García Belaunde declarou que o presidente não comentou muito sobre suas ligações com a Odebrecht e, em suas respostas, não conseguiu convencer os deputados com sua versão.

OUTROS PRESIDENTES

Além de Kuczynski, a participação no esquema da Odebrecht atingiu seus três antecessores no cargo: Ollanta Humala (que está preso), Alan García e Alejandro Toledo (que aguarda pedido de extradição nos Estados Unidos). Keiko, principal líder da oposição, também é investigada por ter recebido dinheiro da construtora brasileira.

Nesta sexta, Toledo, cujo paradeiro é desconhecido, acusou na rádio RPP o fujimorismo de politizar a Justiça e impedido de voltar ao país para estar com sua família.

"Não me perguntaram nada. Só me processaram. Não tenho acesso à Justiça. Mas cedo ou tarde essa maldita Justiça vai me pagar porque eu não recebi nada", disse, sobre a acusação de ter recebido US$ 20 milhões em propina. 

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