Sob pressão, Macron defende ofensiva na Síria

No Parlamento Europeu, presidente francês afirma que ação salvou honra da comunidade internacional

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São Paulo

O presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu em discurso nesta terça-feira (17) no Parlamento Europeu a participação de seu país na ofensiva militar contra a Síria, em meio a reações contrárias de diversos parlamentares, que seguraram cartazes com críticas à medida. 

Assim que Macron começou o discurso na sede do Parlamento, na cidade francesa de Estrasburgo, um grupo de deputados levantou cartazes com as frases “pare a guerra na Síria” e “tire as mãos da Síria”. 

Demonstrando irritação, o presidente francês fez uma defesa do bombardeio do último sábado (14, noite de sexta no Brasil), feito em parceria com EUA e Reino Unido.

A ação foi uma resposta a um ataque com armas químicas na cidade de Duma, confirmado pela Organização Mundial da Saúde, que as potências ocidentais atribuíram ao regime do ditador Bashar al-Assad. Assad e a Rússia, sua aliada, negam seu envolvimento, acusando farsa. 

“Ficamos indignados cada vez que vemos imagens de crianças e mulheres que morreram no ataque com gás cloro [elemento que teria sido usado como arma química]. Vamos sentar e esperar? Vamos defender os direitos dizendo que valem apenas para nós, os princípios valem apenas para nós, e a realidade vale para os outros? Não! ”, disse o francês, concluindo quase aos gritos. 

“Três países intervieram e, permitam-me ser franco e honesto, isso foi pela honra da comunidade internacional”, completou, sob aplausos de parte dos deputados. 

As declarações de Macron foram semelhantes às da primeira-ministra britânica, Theresa May, na véspera.

Ela afirmou que autorizou o ataque na Síria porque era a decisão correta a ser tomada.

ESTRATÉGIA SÍRIA

Os dois líderes foram criticados internamente por não terem buscado apoio legislativo para a empreitada e são acusados de terem agido sob pressão do presidente americano, Donald Trump —algo que Paris e Londres negam.

O governo francês divulgou um relatório em que expôs os indícios que o levam a crer em um ataque químico realizado pelo regime Assad.

O texto detalha uma série de sintomas físicos característicos da exposição a gases tóxicos, como asfixia, salivação excessiva, coloração azul-arroxeada de pele e mucosas, lesões na pele e na córnea, além de menções ao odor de cloro e à presença de uma fumaça verde nas áreas afetadas. “Nenhuma morte por ferimentos mecânicos foi verificada”, diz o texto.

Em seguida, analisa a estratégica do ponto de vista militar. Dois grupos rebeldes de Duma haviam negociado sua rendição com as forças sírias. Mas entre 4.500 e 5.500 combatentes do Jaysh al-Islam se recusaram a aceitar os termos da negociação.

“Dado esse contexto, o uso de armas químicas pelo regime sírio faz sentido dos pontos de vista militar e estratégico. Taticamente falando, esse tipo de munição é usado para expulsar combatentes inimigos abrigados em casas e engajar em um combate urbano em condições que são mais favoráveis ao regime”, afirma o documento. 

“Estrategicamente, armas químicas, em especial cloro, são sobretudo usadas para punir populações civis em zonas ocupadas por forças rebeldes e para criar um clima de terror e de pânico que os encoraja a se entregar. Como a guerra não terminou, o regime usa esses ataques indiscriminados para mostrar que a resistência é inútil e para assentar o caminho para capturar os últimos bolsões de resistência armada.”

Segundo o documento, a mesma tática foi usada em outras ocasiões por Assad, como na captura de Aleppo em 2016. O texto diz também que a Síria omitiu seus estoques e capacidades de armas químicas na última avaliação da Opaq, o braço da ONU responsável pela fiscalização, em outubro de 2013.

Paris alega que Damasco teria omitido estoques restantes de gás mostarda e DF (percursor do sarin), a presença dos gases VX e sarin em locais de produção e armazenamento, e agentes químicos como nitrogênio mostarda, soman e levisite.

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