Descrição de chapéu Venezuela

Sem investimento, Venezuela desperdiça alta do petróleo

Estatal PDVSA sofre com inchaço de funcionários, e produção recua a nível de 1985

Caracas

Após anos em baixa, o preço do petróleo voltou a subir com força no mercado internacional. Em tempos passados, a notícia seria festejada na Venezuela, mas o sucateamento da estatal PDVSA e a delicada situação econômica do país deixam pouco espaço para celebração.

Refinaria da petroleira venezuelana PDVSA em Willemstad, na ilha de Curaçao
Refinaria da petroleira venezuelana PDVSA em Willemstad, na ilha de Curaçao - Andres Martinez Casares - 22.abr.18/Reuters

Consequência do recrudescimento das tensões entre EUA e Irã e da própria crise da produção venezuelana, o preço do barril do tipo Brent (referência para o mercado internacional) ultrapassou, nesta semana, a barreira dos US$ 80 —é a primeira vez que isso ocorre em quatro anos.

Desde o ano passado, o preço do barril já subiu 40%. Com o anúncio do presidente americano, Donald Trump, de que abandonaria o acordo nuclear com o Irã, a cotação do combustível já ficou US$ 5 mais cara neste mês.

Essa recuperação, porém, não teve impacto na economia venezuelana. Pelo contrário: o FMI projeta que o país deve fechar 2018 com uma queda de 15% do PIB (o quinto ano consecutivo de contração econômica) e uma hiperinflação de 13.864% —de longe, a maior do mundo.

O principal motivo é o declínio da produção desde a ascensão do presidente Hugo Chávez, em 1999, quando a Venezuela entregava 3,1 milhões de barris de petróleo por dia.

Atualmente, a produção venezuelana está estimada em cerca de 1,47 milhão de barris/dia, o pior nível em 33 anos.

A PDVSA, que sob Chávez passou a ter o monopólio da indústria petroleira, enfrenta outros problemas, vinculados a disputas em tribunais internacionais.

Uma decisão judicial deu à empresa americana ConocoPhillips o controle de terminais de exportação no Caribe, em meio a uma disputa sobre a indenização após a estatização de suas operações na Venezuela.

Sem essas instalações, a PDVSA perdeu parte de sua capacidade de envio de petróleo para a China e outros países.

Outra limitação para a Venezuela se beneficiar da alta do preço são os empréstimos contraídos com a China. São cerca de US$ 50 bilhões, a serem pagos com petróleo, além das taxas de juro.

A PDVSA também sofreu um inchaço de funcionários à medida que passou a administrar programas sociais e empresas de processamento de alimentos.

Segundo o dado oficial mais recente, de 2016, a estatal petroleira tinha 146 mil funcionários contratados. No início do governo Chávez, eram cerca de 27 mil —com o dobro de produção de petróleo.

Os cofres da estatal sofrem ainda com a sangria provocada pelos subsídios do mercado interno, que consome até 450 mil barris/dia. Atualmente, a gasolina é tão barata que, com apenas US$ 1 (R$ 3,74), é possível comprar 122 mil litros.

Um outro sintoma dos problemas é que, segundo a agência Reuters, a PDVSA, comprou o equivalente a US$ 440 milhões (R$ 1,6 bilhão) em petróleo e enviou o carregamento a Cuba, em vez de vender ao país aliado produto de suas reservas.

Simpático ao governo chavista, o economista Andrés Giussepe afirma que um erro de avaliação a partir de 2005 foi o motivo da queda da produção.

Estimando que o petróleo não cairia mais de preço, o governo Hugo Chávez passou a priorizar a faixa do Orinoco, de extração onerosa por se tratar de petróleo pesado e ultrapesado, em detrimento de recuperar a produção de campos velhos, explica o analista.

Giussepe diz que, antes de recuperar a produção dos campos para aproveitar a provável nova bonança, a PDVSA precisa renegociar o Petrocaribe, acordo de exportação subsidiada para países da região, combater a corrupção e o oligopólio de empresas de serviços petroleiros.

"Se não souberem o que fazer com o petróleo, é melhor que não o extraiam", disse Giussepe, citando uma frase que ficou famosa na Venezuela em meados dos anos 1970.

Crítico do chavismo, o economista Francisco Monaldi afirma que o petróleo venezuelano tende a continuar abaixo do solo, ao menos no curto prazo.

Em estudo recente, ele estima que a produção diminuirá até 350 mil barris por dia até dezembro, devido aos problemas de caixa cada mais graves e imprevisíveis da PDVSA.

Monaldi argumenta que, para iniciar a recuperação, é preciso atrair novamente empresas petroleiras ocidentais, que atuariam com estatais de China, Rússia e Índia.

Além disso, a PDVSA precisaria de grande reestruturação, para se concentrar exclusivamente na produção de gás e petróleo.

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