Mulheres ocuparam pela primeira vez o banco do motorista e saíram pelas ruas da Arábia Saudita pela primeira vez nos primeiros minutos deste domingo (24), ao cair a última proibição contra motoristas femininas no mundo.
É um momento eufórico e histórico para elas, que sempre tiveram que depender de seus maridos, pais, irmãos e motoristas para tarefas básicas, ir ao trabalho, visitar amigos ou até deixar as crianças na escola.
Após a meia-noite (18h em Brasília) algumas começaram a andar pelos seus bairros, acompanhadas de maridos, amigas e outros familiares. Outras colocaram planos nas redes sociais de para onde dirigirão neste dia. Elas estão autorizadas também a guiar caminhões e pilotar motos.
“Tenho calafrios por todo o corpo. Pegar no volante depois de passar anos no banco de trás. Agora é minha responsabilidade e estou mais pronta que nunca para assumi-la”, disse à AFP Samar al-Mogren antes de sair de casa.
“É um sonho que vira realidade, não estou acreditando, é uma sensação de alegria e espanto”, disse à Associated Press Mabkhoutah al-Mari, 27, enquanto pegava um café em um drive-thru.
Ela, que tirou carteira de motorista nos EUA, tornou-se instrutora de trânsito. “Agora, graças a Deus, posso planejar minha própria rotina e as das minhas filhas.”
Segundo o Ministério do Interior, cerca de 120 mil mulheres já abriram processo para tirar a carteira de motorista. A consultora PricewaterhouseCoopers calcula que, até 2020, este número deva chegar a 3 milhões.
“Isso ajudará a desafiar normas sociais e de gênero que entorpecem a mobilidade, a autonomia e a independência na Arábia Saudita”, disse à AFP a jornalista Hana al-Jamri, autora de um livro sobre mulheres repórteres.
“As sauditas experimentam um sentimento de justiça. Durante muito tempo negou-se um direito fundamental que as manteve confinadas e dependentes dos homens”, afirmou Najah al-Otaibi, da Arabia Foundation
As primeiras autoescolas destinadas apenas femininas, como determina o regime saudita, começaram suas aulas três meses atrás. O custo do curso e a falta de interesse das mulheres que têm motorista são apontados como motivos para a baixa procura.
Outro fator é a cultura patriarcal do país. Embora elas não precisem de aprovação de um homem para dirigir, muitas ainda obedecem às orientações de seus guardiães, homens que as representam perante a monarquia.
A liberação dá fim a uma reivindicação de mais de 30 anos à monarquia saudita, um dos países mais conservadores e religiosos do mundo. Se uma mulher desafiasse a proibição poderia ser condenada a anos de prisão, multa e chibatadas.
O argumento da linha dura é que, no volante, elas estariam mais expostas a assédio sexual e ao pecado. As críticas arrefeceram desde que o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, 32, anunciou o fim do veto, em setembro do ano passado.
Mas MBS, como é conhecido, é criticado pelo expurgo feito na família real e pela influência em conflitos em outros países do Oriente Médio, acirrando a rivalidade com o Irã, além da repressão a ativistas de direitos humanos. Um grupo de feministas foi preso na semana passada.
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