Conservadores usam redes sociais e eventos para atrair jovens nos EUA

Ativistas da nova geração de republicanos tentam reverter queda de popularidade do partido

O presidente dos EUA, Donald Trump, fala a simpatizantes na Virgínia Ocidental
O presidente dos EUA, Donald Trump, fala a simpatizantes na Virgínia Ocidental - Alex Brandon - 21.ago.18/Associated Press
Júlia Zaremba
Washington

Diante da queda de popularidade dos republicanos entre os jovens americanos, ativistas conservadores estão investindo em eventos e nas redes sociais para atrair estudantes que se identificam com suas bandeiras.

O Instituto Gallup, que monitora as preferências ideológicas dos americanos, mostra que o número de jovens de 18 a 29 anos que se identificam como conservadores caiu de 24% para 18% entre 2008 e 2018, enquanto os moderados foram de 34% para 39% e os liberais de 21% para 22%. 

A Turning Point USA, uma das organizações não governamentais mais populares entre jovens de direita, aposta em um discurso inflamado contra a esquerda para conquistar novos integrantes. 

Criada em 2012 por Charlie Kirk, 24, um ativista fã do presidente Donald Trump, a entidade aposta em slogans como"Capitalism cures" (o capitalismo cura) e em memes que ironizam ideias de esquerda.

"Você tem que falar a linguagem das novas gerações, ninguém quer ouvir um cara monótono falando, dá sono", diz o sociólogo e ex-policial Brandon Tatum, 31, diretor de engajamento urbano da organização.
"Nós dominamos as redes sociais, e os jovens adoram isso."

A página no Facebook da organização tem mais de 1 milhão de curtidas e seus líderes, como Kirk e Tatum, têm milhares de admiradores em seus perfis pessoais. 

Na vida real, a Turning Point está presente em mais de 1.300 campi e escolas pelo país, segundo seus diretores, por meio de lideranças estudantis e eventos que promovem. 

Entre eles, está um realizado em junho em Dallas, no Texas, voltado a jovens mulheres. O encontro contou com a participação de estrelas conservadoras como a jornalista Tomi Lahren, a porta-voz da NRA (Associação Nacional do Rifle) Dana Loesch e a conselheira da Casa Branca Kellyanne Conway. O próximo será em outubro, para negros conservadores entre 15 e 35 anos. 

Tatum, que é negro, é um dos organizadores. "Praticamente 70% dos negros me atacam nas redes sociais porque sou conservador", diz. "É muito desafiador ter que superar a ignorância dos outros."

Ele defende, por meio de vídeos em suas redes sociais, que os negros "não devem se vitimizar" e critica acusações de que policiais têm como principais alvos os negros.

A organização também é alvo de polêmica por manter um site chamado "Professor Watchlist" (lista de observação de professores), que expõe educadores que considera de esquerda. Por isso, já foi acusada de macartismo, evocação à caçada política a supostos comunistas empreendida pelo senador Joseph McCarthy nos anos 1950.

A porta-voz do movimento, Candace Owens, já disse que "o feminismo moderno é tóxico" e que a campanha #MeToo, que denuncia agressões sexuais, parte da premissa de que "as mulheres são fracas e inconsequentes". 

Para Amy Binder, socióloga da Universidade da Califórnia em San Diego e especialista no assunto, as organizações de direita têm um papel fundamental para formar líderes e eleitores conservadores. 

"Elas têm grande infraestrutura, conectam estudantes e oferecem oportunidades de networking e emprego em centros de estudo e gabinetes de congressistas", diz. "Já entre os democratas e progressistas, falta organização."

A principal rival do Turning Point no campo conservador é a Young America's Foundation, de tom mais moderado, que costuma colocar foto da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher em seus perfis nas redes sociais. 

Fundada em 1969, visa "inspirar americanos com as ideias de liberdade individual, forte defesa nacional, livre iniciativa e valores tradicionais".

Sob seu guarda-chuva estão o National Journalism Center, que treina jornalistas "para restaurar o equilíbrio à mídia", e a Young America's for Freedom, que faz atividades em escolas e universidades.

O porta-voz da fundação, Spencer Brown, 25, diz que ganhar voz nos campi estudantis é uma batalha --a organização está presente em cerca de 2.000 deles. 

Com a chegada de Donald Trump à Presidência, afirma, a situação ficou mais tensa. "Estudantes de esquerda e até professores fazem qualquer coisa para impedir conservadores de serem ativos no campus. Universidades deveriam ser lugares livres para trocar ideias, mas viraram câmaras de eco para o discurso da esquerda."

Karlyn Bowman, do centro de estudos conservador American Enterprise Institute, diz que as ações promovidas por essas organizações podem ter impacto nas eleições legislativas de novembro, que prometem ser difíceis para republicanos. "É muito difícil motivar os jovens a votar. Os esforços podem ser úteis."

O voto nos EUA não é obrigatório, e as margens de comparecimento de jovens são, historicamente, menores do que a da população em geral.

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