Descrição de chapéu The New York Times

Reino Unido retoma da iniciativa privada presídio mergulhado no caos

Intervenção é mais uma crise que atinge a tendência do país de transferir serviços públicos

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Ceylan Yeginsu
Londres | The New York Times

O governo britânico retomou o controle de uma grande prisão da firma privada G4S nesta segunda-feira (20), depois que inspetores relataram que a instalação tinha caído em um "estado de crise", em que os prisioneiros usam drogas e administram a própria justiça com quase total impunidade.

Funcionários do lado de fora do presídio de Birmingham, no Reino Unido, retomado da iniciativa privada
Funcionários do lado de fora do presídio de Birmingham, no Reino Unido, retomado da iniciativa privada - Darren Staples/Reuters

O Ministério da Justiça anunciou que retomaria o controle da Prisão de Sua Majestade Birmingham por um período inicial de seis meses, por causa de "sérias preocupações sobre segurança e decência" dentro de seus muros.

O relatório divulgado pelo Inspetoria de Prisões revelou que os funcionários estavam se trancando em seus escritórios para se protegerem dos prisioneiros, e detalhou condições "degradantes", com sangue, vômito e fezes de rato no chão. 

O inspetor-chefe das prisões, Peter Clarke, descreveu a unidade de Birmingham como a pior que ele já visitou.

"Pense em sujeira, pobreza, o ar pesado com o cheiro de drogas, o ambiente físico deteriorado, a sensação de grande instabilidade, de que a qualquer momento a violência pode irromper", disse ele em uma entrevista à rádio BBC. "Junte tudo isso e você terá a sensação de um estabelecimento que não pode absolutamente cumprir nenhum dos objetivos do encarceramento", disse Clarke. "Certamente alguém deve ter dormido na direção." 

A intervenção é a última crise que atinge a antiga tendência do país transferir serviços públicos para a iniciativa privada. Em janeiro foi o colapso da Carillion, uma grande companhia de construção e serviços que era uma das maiores empreiteiras contratadas pelo governo. 

O Ministério da Justiça disse que medidas imediatas serão tomadas para colocar o presídio de Birmingham sob controle, sendo os primeiros passos instalar um novo diretor e uma equipe administrativa e reduzir a capacidade oficial da prisão de 1.200 para 900 lugares.

Autoridades experientes de presídios também serão alocadas para reforçar a equipe.

"Essa 'intervenção' significa que podemos dar recursos adicionais à prisão enquanto insulamos o contribuinte do custo inevitável que isto encerra", disse em comunicado o ministro das prisões, Rory Stewart. "Temos boas prisões dirigidas pela iniciativa privada em todo o país, e embora Birmingham enfrente seus desafios particulares tenho absoluta certeza de que deve começar a ter os padrões vistos em outros lugares."

Stewart disse à BBC que, como ministro das prisões, ele é em parte responsável pelo fracasso dessa instituição, e por isso tomou a medida sem precedentes de intervir. 

O maior motor da violência e da desordem na prisão, segundo Stewart, foi o uso de drogas como "spice", uma maconha sintética, que foi entregue no presídio com drones.

A instalação de Birmingham registrou 1.434 incidentes de agressão em 12 meses até julho passado, o maior número de todas as prisões da Grã-Bretanha.

Tropeços

Em 2016, ela foi o cenário do que a Associação de Oficiais de Prisões chamou de os mais caros tumultos em presídios na Grã-Bretanha desde o levante de 25 dias em 1990 em Strangeways, uma prisão em Manchester. A confusão de 14 horas em Birmingham foi instigada por um grupo de homens que conseguiram subir no aramado em uma das alas da prisão e apanhar um conjunto de chaves. Centenas de prisioneiros escaparam, causando milhões de dólares em prejuízos. 

A G4S apreciou a decisão do governo de assumir o controle da prisão, dizendo que enfrentou desafios excepcionais, incluindo "níveis cada vez mais altos de violência dos prisioneiros em relação aos funcionários e a outros prisioneiros". 

"O bem-estar e a segurança dos prisioneiros e dos funcionários da prisão é nossa maior prioridade, e apreciamos a intervenção de seis meses e a oportunidade de trabalhar com o Ministério da Justiça para abordar com urgência as questões enfrentadas", disse em um comunicado Jerry Petherick, o diretor-gerente dos serviços de custódia e detenção da G4S.

Esse não é o primeiro tropeço da firma de segurança. Em 2015, a G4S perdeu o contrato para dirigir a instalação de jovens infratores em Rainsbrook, depois que seis funcionários foram acusados de má conduta grave contra os jovens, "causando perturbação e humilhação".

Em julho, Stewart anunciou um projeto para abordar os problemas mais urgentes de padrões e segurança que enfrentam os dez presídios mais desafiadores da Grã-Bretanha. 

Ele inclui 10 milhões de libras (cerca de R$ 50 milhões) em verbas para combater as drogas, melhorar a segurança e reforçar as capacidades de liderança por meio de novo treinamento.

"Ninguém pode esperar mudar todo um sistema da noite para o dia", disse Stewart. "Mas por meio desses aperfeiçoamentos vitais em dez prisões poderemos definir um rumo para o resto das instituições seguirem --levando-nos a um sistema que realmente reabilite, reduza as reincidências e afinal mantenha o público mais seguro."

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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